Mais de 800
manifestantes e alunos das escolas estaduais cobraram os pontos inclusos nas
pautas de reivindicações, tanto dos servidores de apoio da Educação como dos
professores
Fonte: Folha de Boa Vista (RR)
NAIRA SOUSA
Os trabalhadores de Educação do Estado realizaram ontem uma
paralisação de advertência, já prevista pela categoria. Concentrados em frente
à Assembleia Legislativa do Estado (ALE), os mais de 800 manifestantes e alunos
das escolas estaduais cobraram os pontos inclusos nas pautas de reivindicações,
tanto dos servidores de apoio da Educaçãocomo dos professores.
Cartazes, faixas, carro de som e caminhada até a Secretaria de Educação,
Cultura e Desporto (Secd) marcaram a paralisação dos servidores. A expectativa
do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinter), conforme o
presidente, Josinaldo Barboza, é que um acordo seja feito no dia 9 de setembro,
em uma reunião prevista com a secretária deEducação, Lenir Rodrigues. Caso
contrário, a greve será deflagrada.
“Sabemos que a greve só vai prejudicar os alunos, por isso essa não é a
intenção. Porém, dependendo dos resultados, não teremos alternativa, uma vez
que não é de hoje que buscamos solução para o caos na Educação do
Estado. Vamos aguardar na expectativa as discussões e propostas da reunião”,
disse Barboza.
Na capital, mais da metade das unidades de ensino suspendeu as aulas ontem. Os
alunos das escolas do município de Pacaraima, Caracaraí e outros do sul do
Estado também ficaram sem aula.
A pauta de reivindicação dos Servidores de Apoio da Educação inclui
16 pontos, como a correção das perdas salariais, mantendo o valor real do poder
de compra equivalente a 2003 para os vencimentos iniciais dos cargos de nível
básico com valor de R$ 1.152,36, cargos de nível médio com valor de R$ 1.832,45
e nível superior com valor de R$ 4.022,10.
A categoria pede também o pagamento das progressões verticais e horizontais, o
enquadramento nas referências corretas e abono salarial de R$ 600 aos
servidores efetivos de apoio da Educação básica que ganham menos de
dois salários mínimos de vencimento inicial. Assim como o pagamento de
insalubridade aos merendeiros, cozinheiros, zeladores, assistentes de alunos e
porteiros.
Já os professores contestam a reforma do Plano de Cargos e Salários do Magistério,
com a incorporação da Gratificação de Incentivo à Docência (GID) ao salário. Os
profissionais pleiteiam a redução da carga horária dos professores. “Os
docentes estão com a carga horária maior do que determina a lei federal. Esse é
um direito que os trabalhadores já conquistaram e precisa ser cumprido”,
explicou Barbosa.
Para o sindicato, as 20 horas em sala de aula, mais duas horas de aulas de
reforço, são uma afronta a uma lei federal, por isso esse é um dos pontos que
os professores não pretendem ceder, até redução para 16 horas em sala de
aula.
O Sinter garantiu que hoje as aulas retornam normalmente. “Pedimos aos pais e
comunidade em geral que compreendam a demanda dos trabalhadores, sobretudo as
condições de trabalho, que envolve as estruturas das escolas e outros
problemas”, enfatizou.
Para Educação, não há necessidade de greve
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Secd) disse que entende
que não há necessidade de instituir uma greve, “o que prejudicaria o andamento
das atividades, inclusive aos próprios professores, que terão de abdicar do
recesso escolar para cumprir os 200 dias letivos preconizados pela Lei de
Diretrizes e Bases (LDB)”.
A secretaria destacou, no entanto, que o Governo de Roraima está atento às
reivindicações da categoria e tem dado “tratamento especial, já que a Secd tem
mantido um canal de diálogo com o Sinter a fim de atender às reclamações dos
trabalhadores em Educação”.
Quanto ao salário, disse que o Governo do Estado aplica a lei nº 609/2007, que
trata da remuneração de professores do magistério público estadual e Roraima
lidera o ranking de estados que melhor remuneram os professores.
No que se refere à hora/aula, disse que o contrato previsto na lei 609/2007 é
de 25 horas/aula, sendo 20 em sala de aula, três horas destinadas ao
planejamento de atividades pedagógicas e duas horas para reforço do aluno. “A
Secd está estudando uma nova modalidade, a fim de beneficiar a categoria, e o
assunto já foi discutido em reunião ocorrida no dia 23 de agosto, com representantes
do Sinter, na videoteca do Palácio da Cultura Nenê Macaggi”.
Sobre as progressões, garante que o pagamento é feito automaticamente, ficando
apenas o cálculo do retroativo. No dia 7 de julho deste ano, o Governo do
Estado efetuou pagamento de 118 progressões verticais de professores da rede
estadual de ensino. O valor total investido foi de pouco mais de R$ 865 mil.
Os cálculos variaram de R$ 3 mil a R$ 28 mil, de acordo com a ficha individual
do professor contemplado nessa etapa. Os cálculos continuam sendo feitos e à
medida da finalização do processo, os trabalhadores em Educação são
contemplados.
Sobre a incorporação da GID ao vencimento do professor, a secretaria adiantou
que no momento não é possível, por não haver dispositivo legal previsto em lei. Quanto
ao reajuste salarial defendido pelo Sinter, a Secd disse que os professores
foram contemplados com o reajuste linear concedido pelo Governo de Roraima na
ordem de 4,5%.
“Ressaltamos que antes de serem concedidos quaisquer reajustes salariais, as
propostas são amplamente deliberadas na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE)
e somente após aprovação por parte da maioria do Legislativo, que se transforma
em lei e passa a vigorar”.
Alunos cobram merenda e melhorias nas escolas
Os alunos e representantes das escolas estiveram presentes na paralisação de
advertências dos trabalhadores da Educação. A melhoria na estrutura das
unidades e a merenda escolar foram cobradas por eles.
“Nós, alunos, estamos insatisfeitos com a Educação”, “Queremos alimentação
de qualidade” e “Queremos melhorias nas escolas” foram as frases utilizadas
pelos estudantes das escolas Luiz Ribeiro e Hildebrando Bittencourt na
elaboração dos cartazes.
Segundo reclamações dos servidores da escola Diomedes Solto Maior, parte do forro
cedeu esta semana, devido à grande quantidade de cupins. Conforme relatos, as
aulas estão suspensas até terça-feira da próxima semana.
Os alunos da escola estadual Luiz Ribeiro, no Alvorada, também fizeram as
reivindicações em frente à ALE. Eles pedem atenção quanto à grande quantidade
presença de pombos no prédio.
“As centrais de ar-condicionado não funcionam. A merenda escolar não chega com
qualidade. Sem contar que as mesas e carteiras estão em situação crítica,
quebradas. Temos a expectativa de realizar algum tipo de atividade esportiva,
mas falta material”, reclamou o estudante do 1º ano Darlan Souza.
OUTRO LADO
Em nota, a Secretaria de Educação informou que iniciou o processo de
descentralização da merenda escolar em 33 escolas da rede pública. A iniciativa
está em vigor desde o dia 4 de julho.
Em relação à melhoria da estrutura física das escolas públicas, informou que o
Departamento de Logística da Secd realiza levantamento na intenção de
diagnosticar as necessidades das unidades de ensino. “Adiantamos que está em
andamento processo para contratação de empresa que fará o redimensionamento da
rede elétrica, a fim de instalar as centrais de ar e garantir mais conforto aos
alunos”, diz o texto.
Sobre a escola estadual Professor Diomedes Souto Maior, a Secd informa que na
segunda-feira, 29, os cerca de 200 alunos serão transferidos para a escola
estadual Oswaldo Cruz, também no Centro. Os pais que desejarem uma vaga em
escola no bairro onde residem terão a vontade assegurada.
O motivo se deu em razão das constantes chuvas que resultaram no
comprometimento de parte do forro de uma sala da unidade de ensino. As aulas
foram suspensas e os pais informados. Com isso, a estrutura física da escola
Diomedes está interditada após recomendação do Corpo de Bombeiros de
Roraima.
Quanto a escola estadual Luiz Ribeiro de Lima, no bairro Equatorial, a Secd
desconhece que haja mesas e carteiras quebradas. “Se há alguns desses móveis
danificados, o fato foi provocado pelos alunos que não têm a consciência de que
o patrimônio público deve ser conservado”, disse a nota.
“Quanto à merenda escolar, esclarecemos que o cardápio da escola Luiz Ribeiro
de Lima é o mesmo praticado nas demais unidades de ensino e contempla três dias
de comida quente e salgada (sopa de legumes, de carne, arroz e carne) e dois de
comida doce (sucos, bolachas) e não há tratamento diferenciado quanto à
qualidade dos alimentos oferecidos”.
Quanto ao desporto, a secretaria informa que recentemente 22 escolas receberam
material esportivo e há processo em andamento na Secd para aquisição de novos
materiais e equipamentos.