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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Escola inclui ensino da língua de sinais e vira referência em São José

30 de setembro de 2014
Unidade é a única a incluir libras nas aulas na rede municipal da cidade. Escola atende 19 alunos com algum grau de surdez

Fonte: G1

Uma escola encontrou uma alternativa para incluir os alunos com deficiência auditiva dentro de sala de aula: ensinar uma a língua de sinais junto com as matérias convencionais. A escola municipal Maria Aparecida Ronconi, no Jardim Jussara, é a única que faz esse tipo de trabalho na rede municipal de São José dos Campos.
A rotina em sala de aula é diferente, enquanto o professor passa o conteúdo das matérias, um pedagogo traduz o que está sendo dito em libras, a Língua Brasileira de Sinais. "A maioria das nossa professores convivem na comunidade surda, o que dá a elas uma fluência um pouco maior dentro da língua de sinais", disse a professora Patrícia Fonseca.
A escola é a única bilíngue na rede municipal da cidade e atende 19 alunos com algum grau de surdez.
O estudante Ricardo é um deles, ele está na 1ª série e a mãe já percebeu os resultados desse novo método. "Ele é outro, mudou tudo. Em menos de um mês na escola ele já aprendeu a fazer o nome dele em libras. Fiquei surpresa em casa quando ele chegou mostrando para a gente. Para mim a escola está sendo fundamental", afirmou Delma Alencar.
O metódo também está ajudando a comunicação em casa. Os pais dos alunos também aprendem a se comunicar em libras. Esse é o caso da mãe do Francisco. "Se ele quisesse ir em um lugar... Ele não sabia diferenciar data de mês, tudo do dia a dia era muito difícil, mas agora está tudo sob controle, disse Roseane Alves.
Na escola, os alunos também aprendem que não é preciso falar para mostrar o que sentem. Em um teatro, cada gesto e cada expressão dizem muito, e não apenas para eles. "Desde o início, a criança tendo contato com essa diversidade, cresce um adulto melhor, um adulto acolhedor. Um adulto que respeita as diferenças, acolhe as diferenças e assume o papel de crescer dentro da mesma sociedade", afirmou a professora.

Educação Integral: conheça as propostas dos candidatos à Presidência

30 de setembro de 2014
Proposta é tema recorrente nos discursos dos presidenciáveis; modalidade de ensino está entre as metas do Plano Nacional de Educação

Fonte: Portal EBC

Entre as propostas para a área de educação dos candidatos à Presidência da República, a educação integral é tema recorrente, estando entre as metas do Plano Nacional de Educação. A abordagem do assunto, contudo, é feita de forma superficial pelos candidatos. A maioria das propostas não apresenta informações sobre qual modelo de educação integral se pretende implantar na rede pública de ensino, como seria a parceria firmada com estados e municípios (já que a oferta de Educação Básica é uma responsabilidade compartilhada entre os entes federativos) ou de onde viriam os recursos para sua implementação.
Confira nesta matéria as propostas dos candidatos à Presidência* sobre a educação integral e a opinião de especialistas acerca dos principais desafios da área.
Entendendo a educação integral
Como o nome já diz, a educação integral é aquela que busca a formação integral do indivíduo, partindo da ampliação do tempo do aluno na escola – a jornada da educação integral é de, no mínimo, sete horas diárias ou 35 horas semanais – para articular o desenvolvimento de habilidades em diversas áreas do conhecimento (arte, cultura, esporte, cultura digital, meio ambiente, ciência e tecnologia, cidadania), inclusive reconhecendo outros espaços da comunidade como locais de aprendizagem.
Segundo os dados do último Censo Escolar, de 2013, a educação em tempo integral corresponde a apenas 13,2% das matrículas da rede pública de Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado recentemente, estipula que até 2024 a educação em tempo integral deverá alcançar pelo menos 50% das unidades escolares ou 25% das matrículas da Educação Básica na rede pública de ensino.
O Programa Mais Educação, pelo qual o governo federal transfere recursos financeiros diretamente para as escolas públicas viabilizarem a ampliação da jornada escolar com oferta de atividades diversificadas, é tido como o principal indutor da construção da agenda de educação integral nos estados e municípios. De acordo com a diretora de currículos e educação integral do Ministério da Educação, Clarice Salete Traversini, o programa, que teve início em 2008, com a participação de 1.408 escolas e 941.573 estudantes, hoje* atinge 58 mil escolas e 8.237.871 alunos.
O que dizem os especialistas
A ampliação da jornada escolar com atividades que complementam e se articulam com a formação regular é apontada pelos estudiosos da área como um bom caminho para a educação no país. Além da melhora da qualidade do ensino a partir da oferta de uma formação diferenciada para os estudantes, a escola de tempo integral pode contribuir para afastar crianças e jovens dos riscos das ruas, já que auxilia as mães que precisam trabalhar e não têm onde deixar os filhos após o período de aulas.
Segundo Traversini, os resultados coletados ao longo dos seis anos de experiência com o Mais Educação são bastante positivos. Ela destaca que “a análise dos dados do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] mostra que as escolas participantes do programa acabam tendo uma melhora significativa do desempenho escolar”.
O coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, reconhece que o governo federal, com o Mais Educação, deu um “empurrãozinho” para que muitos municípios começassem o seu programa de educação integral, mas avalia que é necessário ir além se o que se pretende é a melhoria da qualidade do ensino público. “A falta de infraestrutura das escolas, de profissionais qualificados [as atividades são ministradas por monitores voluntários da comunidade, que recebem uma ajuda de custo] e da articulação dessas atividades com a proposta pedagógica das escolas torna a jornada ampliada, como acontece hoje no Mais Educação em grande parte dos municípios, é ineficiente do ponto de vista educacional.”
Da mesma opinião é a integrante da diretoria da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – Undime e secretária municipal de Goiânia, Neyde Aparecida da Silva. Para ela, “a educação integral visa a formação global do aluno, não apenas sua mera permanência estendida na escola", resume. A secrétária ainda lembra que "para ter condições adequadas para a escola de educação integral, almejando uma educação de qualidade, são necessários mais investimentos do governo federal, dos estados e também dos municípios na adequação desses ambientes, na aquisição de equipamentos e recursos utilizados e também na contratação de docentes afim de que se possa existir um currículo integrado na escola de educação integral”.
A diretora de currículos e educação integral do Ministério da Educação não esconde que a estrutura física das escolas seja a principal dificuldade relatada pelas instituições que participam do Mais Educação na implementação das atividades diversificadas. Ela frisa que adequar a estrutura dos prédios escolares para a educação integral é um dos grandes desafios que os governos deverão enfrentar conjuntamente. “Uma outra dificuldade é a disponibilização de um professor que possa coordenar a implantação do Mais Educação na escola, que é a contrapartida do estado ou município para a escola receber os recursos do programa. Por outro lado, há municípios e estados que utilizam os recursos recebidos pelo programa para complementar as atividades dos próprios programas de educação integral, indo muito além do que o Mais Educação propõe”.
Já quanto à orientação pedagógica, ela ressalta que a diretriz do programa é para que haja a integração das atividades com a grade curricular, levando em consideração o projeto político-pedagógico da escola.
Contudo, conforme apurado pela reportagem, como a implementação do programa fica a cargo de cada escola, sem contar necessariamente com uma coordenação municipal ou estadual que garanta sua aplicação – ao contrário do que acontece com a prestação de contas do recurso, que é rigorosa – as falhas na condução pedagógica do programa podem ocorrer.
O que dizem os candidatos à Presidência
Aécio Neves (PSDB) cita a escola de tempo integral entre as diretrizes educacionais do seu plano de governo. A proposta alia a implantação deste modelo de ensino à progressiva eliminação do ensino noturno para os jovens que não trabalham. O assunto é também mencionado nas diretrizes das políticas voltadas à mulher (item 9), em que a escola de tempo integral figura como opção para “liberar a mulher para o trabalho e também para os estudos”.
Dilma Rousseff (PT) fala da continuidade das políticas de estímulo à educação em tempo integral no país, como o Mais Educação, em que o governo federal transfere recursos diretamente para as unidades escolares implementarem as atividades esportivas, artístico-culturais e científicas no contraturno escolar, de forma que 20% da rede pública de ensino opere em tempo integral até 2018.
Eduardo Jorge (PV) não menciona especificamente a educação integral em sua proposta nem em seu site, mas já se mostrou favorável a ampliação do ensino em tempo integral em várias entrevistas à imprensa. De acordo com a assessoria de campanha, a proposta de educação integral de Eduardo Jorge passa pela promoção de um sistema educacional mais amplo e complexo que o atual, inspirado nas ideias de Anísio Teixeira, que defendia que a educação da sala de aula fosse completada por uma educação dirigida. Esse sistema seria composto por "escolas-classe", onde os alunos participariam das atividades de ensino regulares, e "escolas-parque", onde funcionariam as atividades complementares (educação física, social, artística e industrial). Assim, os estudantes frequentariam ambas num sistema alternado de turnos.
Eymael (PSDC) também contempla a educação integral entre as suas propostas de governo. O candidato, porém, não detalha quais seriam as ações na área.
Levy Fidelix (PRTB) defende a implantação do sistema de ensino em tempo integral para a Educação Básica, embora ela não esteja especificada em sua proposta de governo apresentada à Justiça Eleitoral. Para ele, a educação integral poderia preparar os estudantes para o desenvolvimento do espírito cívico e patriótico e da cidadania.
Luciana Genro (PSOL) se compromete em seu programa de governo a garantir a expansão da educação em tempo integral conforme as metas fixadas no Plano Nacional de Educação – PNE.
Marina Silva (PSB) afirma que a educação integral deve dialogar com a comunidade, inserindo a escola no contexto local, regional, nacional e mundial. A proposta considera que para o desenvolvimento de uma cultura de paz e de sustentabilidade, as atividades artísticas, científicas e esportivas devem estar integradas com as atividades de ensino regulares, propiciando uma formação que contemple valores que incentivem o respeito e o cuidado com o outro e com o meio ambiente. Para isso, a candidata pretende transformar o Programa Mais Educação em política de Estado de educação integral para toda a educação básica e investir na infraestrutura das escolas e na construção de novas unidades e parcerias com as universidades federais para formação contínua dos profissionais que atuam na educação integral.
Mauro Iasi (PCB) não menciona especificamente a educação integral nas diretrizes de governo apresentadas à Justiça Eleitoral e, apesar das várias tentativas, a assessoria de comunicação do candidato não enviou resposta à reportagem.
Pastor Everaldo (PSC) não menciona especificamente a educação integral nas diretrizes de governo apresentadas à Justiça Eleitoral e, apesar das várias tentativas, a assessoria de comunicação do candidato não enviou resposta à reportagem.
Rui Costa Pimenta (PCO) não menciona especificamente a educação integral nas diretrizes de governo apresentadas à Justiça Eleitoral e, apesar das várias tentativas, a assessoria de comunicação do candidato não enviou resposta à reportagem.
Zé Maria (PSTU) não faz referência direta à educação integral em suas diretrizes de governo, mas é favorável à ampliação do tempo de permanência dos estudantes nas escolas públicas. O candidato, contudo, reconhece que a ampliação do ensino em tempo integral só será possível se for acompanhada de investimentos na infraestrutura das escolas, na contratação de mais profissionais da educação por meio de concursos públicos, além da valorização dos docentes com reajustes de salários e melhoria das condições de trabalho. Segundo ele, para conseguir isto, seria necessário “aplicar 10% do PIB em educação pública e estatal imediatamente, acabando com todos os repasses de recursos públicos às instituições de ensino privadas”.
* Dados referentes às matrículas registradas em agosto de 2014

Política educacional com foco nas emoções

30 de setembro de 2014
Conselho Nacional de Educação definirá diretrizes para o desenvolvimento de competências como perseverança e responsabilidade

Fonte: Gazeta do Povo (PR)

O fato de que crianças emocionalmente equilibradas têm melhor desempenho é uma realidade intuída há tempos por profissionais da educação. Ma, pela primeira vez, a partir de 2015, o Brasil deve ganhar diretrizes oficiais sobre o assunto para a na rede pública. As competências socioemocionais, nome dado ao socioemocionais (conjunto de habilidades ou virtudes capazes de auxiliar na aprendizagem, como perseverança, coragem e responsabilidade, responsabilidade) estão em análise no Ministério da Educação (MEC) e passarão a ser promovidas via política pública.
Segundo Francisco Cordão, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), o tema é discutido internamente desde outubro de 2013, e estão previstas para o fim deste do ano, ou início de 2015, o acolhimento definitivo das competências socioemocionais, também chamadas de não-cognitivas, socioemocionais dentro das normas que regem a educação básica no país. O conselheiro esclarece, contudo, que não se tratará de uma nova disciplina. “Não muda nada da grade curricular. Essas são competências que têm de ser desenvolvidas de modo integrado a todas as áreas. Não faria sentido criar uma disciplina específica sobre o tema”, disse Cordão o, durante o seminário sobre o assunto promovido pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo, no início de setembro.
Afastando as suspeitas de que se trata de mais um modismo na área, Para a presidente do instituto, Viviane Senna, disse que, de certa forma, a importância das competências socioemocionais sempre foram conhecidas por educadores, e muitos educadores. Muitos buscam desenvolvê-las em seus alunos, mas jamais houve uma política pública que guiasse esse desenvolvimento de modo intencional e em grande escala. “Intuitivamente, Intuitivamente sabemos que ser persistente, ter foco e disciplina são importantes, mas esse é um tipo de saber oculto, do qual não se fala muito. Queremos desenvolvê-lo de modo intencional.
Um dos pioneiros a trabalhar com o tema no Brasil, o instituto uniu-se à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mico na criação de um sistema de avaliação que permite mensurar o desenvolvimento dos alunos nesse tipo de competência. Batizado de SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive Nationwide Assessment Assessment), algo como “Avaliação Nacional Não-cognitiva ou Socioemocional”, o modelo avaliativo deve ser oferecido gratuitamente a gestores de políticas públicas a fim de subsidiar o planejamento das redes de ensino no que diz respeito às competências socioemocionais.
Professores
A psicóloga e consultora educacional Anita Abed foi uma das pesquisadoras ouvidas pelo CNE para a construção de diretrizes nacionais leia mais sobre o tema. Para ela, o avanço na área das competências socioemocionais envolverá, principalmente, a formação diferenciada de professores, que devem se tornar profissionais mais complexos, capazes de lidar com habilidades não-cognitivas e conteúdos comuns de modo integrado, por meio de projetos. “Por muito tempo pensou-se que a emoção apenas atrapalhava o estudo. É hora de passar a vê-la como algo que promove aprendizagem, porque engaja e mobiliza”, diz.
Tema chegou às escolas do Canadá há oito anos
O estímulo ao desenvolvimento de virtudes e emoções úteis à aprendizagem é praticado nas escolas públicas do Canadá há oito anos, conta Jennifer Adams, secretária de Educação do distrito de Ottawa-Carleton, palestrante no seminário promovido pelo Instituto Ayrton Senna.
Segundo Jennifer, depois de Carleton. Segundo ela, após se manter em várias edições seguidas como uma das três nações mais bem colocadas na avaliação de aprendizagem internacional no Pisa, o Canadá passou a ter país teve dificuldades em avançar ainda mais. A saída foi investir em metodologias que fossem além das capacidades cognitivas.
“Percebemos que não falávamos o suficiente sobre valores, e, depois valores. Depois de termos atingido um determinado nível, essa foi a forma de voltarmos voltar a crescer.” A educadora canadense destaca que a principal mudança promovida pelas competências socioemocionais na educação do país foi a redução na desigualdade de desempenhos. “Equidade é o item do qual eu mais me orgulho em meu distrito, pois a diferença do melhor para o pior desempenho caiu muito”, descreve Jennifer.
Ela conta que alunos que não iam bem passaram a melhorar progressivamente conforme eram trabalhados em sala de aula temas como otimismo, integridade e persistência.
Capes financiará projetos voltados às habilidades não-cognitivas
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) lançou em julho desse ano um edital específico para o financiamento de pesquisadores no campo das competências socioemocionais. O órgão deve disponibilizar R$ 566 mil anuais por projeto direcionado ao tema.
As inscrições para concorrer às bolsas foram encerradas em 5 de setembro, e estão participando docentes de programas de pós-graduação em educação, psicologia, psicopedagogia e áreas afins, cujos programas tenham obtido nota igual ou superior a 3 na última avaliação da Capes. O resultado deve ser divulgado em outubro. O programa de bolsas deve contemplar três coordenadores de pesquisa, dois doutorandos, seis mestrandos, 18 graduandos e 18 professores de educação básica.
Alunos virtuosos aprendem até um terço mais
Segundo o Instituto Ayrton Senna, a versão piloto do SENNA, testado em 25 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, constatou que os estudantes mais responsáveis e focados aprendem em um ano letivo cerca de um terço a mais de matemática do que os colegas que apresentam essa competência menos desenvolvida. A mesma diferença de aprendizagem é detectada na aprendizagem de português quando se consideram os alunos com maior e menor nível de protagonismo ou autonomia.
No que diz respeito à condição socioeconômica, no entanto, o levantamento mostrou que, em média, pais mais ricos e com mais escolaridade não têm, necessariamente, filhos mais responsáveis ou autônomos do que pais de menor poder aquisitivo e que passaram menos tempo na escola.
A primeira versão do Senna foi baseada em questionários direcionados a alunos e professores, e validado durante a aplicação de projetos pedagógicos em sala de aula. O instituto informa, no entanto, que uma versão aprimorada da ferramenta está em desenvolvimento.
*o jornalista participou do seminário a convite do Instituto Ayrton Senna.

Opinião: Educação e eleições 2014

30 de setembro de 2014
"Na reta final das eleições, muito pouco se tem abordado um dos principais fatores capazes de impulsionar o desenvolvimento: a Educação", afirma Rubens Passos

Fonte: Diário de Cuiabá (MT)

Na reta final das eleições para a Presidência da República e governos estaduais, muito pouco se tem abordado um dos principais fatores capazes de impulsionar o desenvolvimento: a Educação. Nos debates, todos os tipos de problemas, acusações e escândalos foram levantados, mas nada se falou de concreto a respeito do que os programas de governo dos candidatos preveem para melhorar a situação do Ensino no País.
A União tem condições de contribuir para o avanço da qualidade das Escolas públicas, embora a responsabilidade constitucional pela Educação infantil, Ensino fundamental e o Médio seja de prefeituras e estados. Porém, o Governo Federal e as demais unidades federativas não têm dado ao setor atenção proporcional à sua importância para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária. De acordo com o Ideb — um indicador geral do desempenho dos Alunos nas redes privada e pública divulgado pelo Ministério da Educação no início de setembro —, o Brasil ficou abaixo da meta projetada no ciclo final do Ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no Ensino médio.
O nosso grande desafio continua sendo melhorar o Ensino Básico e evitar a evasão Escolar. De acordo com os mais atualizados dados, em 2012 a taxa de abandono atingiu 24,3%.
O índice é ainda mais preocupante se comparado aos de nações vizinhas, como Chile (2,6%), Argentina (6,2%) e Uruguai (4,8%). Um a cada quatro Alunos que inicia o Ensino fundamental no Brasil abandona a Escola antes de completar a última série. É o que indica o último relatório sobre o tema do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Nesse sentido, uma das providências importantes é reduzir os impostos incidentes sobre os materiais Escolares. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) divulgou que esses artigos são taxados em até 47%, como no caso das canetas. Itens como apontador e a borracha Escolar têm alíquota de 43%; caderno universitário e lápis, 35%.
Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) estabelece o fim dos impostos sobre os materiais Escolares. Trata-se da PEC 24/2014, apresentada pelo senador Alfredo Nascimento. Sua aprovação seria uma solução imediata para a redução da elevadíssima carga tributária sobre material Escolar existente no País e uma forma de demonstrar que nossos parlamentares e governantes realmente levam a sério o tema da Educação.
Por todas essas razões, a Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE) encaminhou aos candidatos à Presidência da República e a cargos do Legislativo, reivindicação de apoio à aprovação da PEC. É inadmissível que, em um país onde os políticos repetem-se na afirmação de que o Ensino é prioridade, convivamos com a elevada carga tributária sobre o material Escolar.
Já é hora de os governantes, parlamentares e os candidatos à presidência e aos governos estaduais prestarem mais atenção e focarem seus esforços em resolver esse problema tão grave. Ou alguém duvida que a precariedade da Educação pública é um dos obstáculos ao nosso progresso socioeconômico?
*RUBENS PASSOS é presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE)  

Opinião: O Ensino Médio continua ruim, mas pode melhorar

30 de setembro de 2014
"Com a racionalização dos conteúdos, haverá carga horária disponível", afirma Jacir Venturi

Fonte: O Povo (CE)

Há poucos dias divulgou-se o resultado do Ideb 2013 e, para o Ensino médio, obteve-se a nota 3,7, abaixo da meta. É no Ensino médio que residem nossas mais deletérias mazelas. A taxa de reprovação e abandono beira os 30% no 1º ano; estão fora da Escola 1,7 milhão de jovens de 15 a 17 anos e, se alongarmos essa faixa etária, teremos resultado mais funesto: 5,3 milhões de jovens estão na categoria que os demógrafos denominam jocosamente de nem-nem – nem estudam, nem trabalham.
A Escola precisa ser mais atraente. De acordo com pesquisas, o principal motivo de abandono e reprovação é que a “Escola é chata” e só se preocupa com o vestibular. O programa das disciplinas é genérico e acadêmico, sem se importar com os diversos tipos de inteligências e potencialidades do Aluno. Há poucas ‘quase unanimidades’ entre os Educadores, e uma delas, que a grade curricular privilegie mais a prática, a interdisciplinaridade e a contextualização, eliminando-se penduricalhos desnecessários. Ensina-se muito – quando se ensina – e aprende-se pouco.
Ao MEC caberia a tarefa de definir programa mais enxuto e único para o Brasil. Com a racionalização dos conteúdos, haverá carga horária disponível, cuja utilização passa a ser liberalidade de cada Escola, com espaço na grade curricular para implementar diversidade de oficinas e disciplinas. E todos os concursos e vestibulares não poderão extrapolar esse programa mínimo. Isto posto, há outras sugestões de ‘quase unanimidades’: oferta intensa de período integral; formação continuada de Professores; carreira Docente com valorização pela meritocracia; investimentos em novas tecnologias educacionais. A ampliação de vagas na Educação profissional é clamor de décadas, e só recentemente implantada. Até 5 anos atrás, apenas 7% dos nossos jovens de 15 a 18 anos estavam matriculados em cursos técnicos, enorme descompasso com os países da OCDE, cujo índice era, e ainda é, de 40% a 60%.
O Ensino técnico tem o condão de reduzir a evasão e a reprovação, pois o estímulo vem da aplicação prática dos conhecimentos e da sedução do ingresso rápido no mercado. Em 2013, 1,4 milhão de Alunos se matricularam no Ensino técnico, 52% deles em Escolas públicas e o restante nas particulares, Senai e Senac. Por que tão tarde? Resposta: políticas públicas equivocadas.
As consequências foram perversas para mercado ávido por mão de obra qualificada, e para parcela dos 5,3 milhões de jovens nem-nem. Destes, outra parcela deveria assumir o mea culpa. São hedonistas, acomodados e a 1ª lei a ser revogada é a que impera entre eles: a do mínimo esforço. No mundo competitivo, não há como obter conquistas sem disposição e disciplina para o trabalho e os estudos.
Jacir Venturi 

USP debate novas formas de ingresso

30 de setembro de 2014
Universidade cogita destinar parte das vagas de graduação para o ingresso por meio de cotas sociais, do Exame Nacional do Ensino médio (Enem) ou até mesmo de olimpíadas Escolares

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

O pró-reitor de graduação da USP, Antonio Carlos Hernandes, diz que as unidades da universidade vão discutir, a partir desta semana, os novos mecanismos de entrada na instituição. A universidade cogita destinar parte das vagas de graduação para o ingresso por meio do Exame Nacional do Ensino médio (Enem) ou até mesmo de olimpíadas Escolares. Se as mudanças forem aprovadas até junho de 2015 no Conselho Universitário da USP, podem ser adotadas já para a Fuvest 2016, diz Hernandes.
A seleção passaria a ser com a Fuvest e com outro mecanismo?
Exatamente. A ideia não é trocar a Fuvest por outra coisa. E será um projeto de mudança gradual, que começa em 2016.
Que outros mecanismos estão sendo cogitados além do Enem e de olimpíadas?
A outra forma que apareceu é a questão das cotas sociais (reserva de vagas para entrada por critério socioeconômico). Não é a bonificação que existe hoje para Escola pública e que vai continuar na Fuvest. Mas os mecanismos ainda estão sendo discutidos.A universidade pode decidir que será só a Fuvest.
Se o novo sistema for aprovado, um mesmo Aluno poderia tentar a vaga duas vezes, com o Enem e com a Fuvest?
A gente ainda vai ter de ver como vai ser feito. Como os exames são separados, a princípio sim, não haveria impedimento. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Entrevista: O que fazer para melhorar a Educação? José Pacheco dá pistas

29 de setembro de 2014
Predagogo português pensa que o modelo atual de ensino precisa de mudanças profundas para dar certo

Fonte: UOL Educação

O educador José Pacheco defende uma escola sem salas de aula, divisão de turmas ou disciplinas, ou seja, pensa que o modelo atual de ensino precisa de mudanças profundas para dar certo. "A velha escola há de parir uma nova educação, mas as dores do parto serão intensas, enquanto a tecnocracia e a burocracia continuarem a invadir domínios onde deveria prevalecer a pedagogia", diz o pesquisador.
Apesar de português, Pacheco conhece bem o Brasil e já visitou experiências educacionais em várias cidades do país. Ele diz que o Brasil possui excelentes professores e teóricos, e que uma mudança depende de autonomia e da dignidade de um diálogo horizontal e respeitoso entre escolas e poder público.
Sobre algumas das bandeiras mais defendidas pelos candidatos na campanha deste ano, Pacheco diz que não adianta aumentar o tempo na escola se a estrutura continua a mesma, o que ele chama de dose "dupla de tédio", e que usar tablets na sala de aula não resolve os problemas da escola, eles "apenas contribuem para reforçar a mesmice". Leia a seguir a entrevista com o educador, que acaba de lançar o livro "Crônicas Educação".
UOL Educação - Alguns candidatos à presidência da República listam em seus planos de governo o incentivo ao uso de tecnologias da informação e da comunicação em sala de aula. Na sua opinião, qual deve ser o peso dessas ferramentas no dia a dia dos alunos?
José Pacheco - Com ou sem novas tecnologias, a escola precisa ser reinventada. Mas do modo como as novas tecnologias estão a ser introduzidas nas escolas, temo que se transformem em panaceias, que sirvam para congelar aulas em computadores, aulas que os alunos, acostumados ao imediatismo e à velocidade dessas tecnologias, acriticamente consumam, sem resquícios de cooperação com o aluno vizinho, dependentes de vínculos afetivos precários, estabelecidos com identidades virtuais. É comum verificar que a utilização de quadros interativos e o recurso a tablets, por exemplo, são considerados indicadores de qualidade, quando apenas contribuem para reforçar a mesmice.
UOL - Em seus planos de governo, os presidenciáveis destacam a ampliação do ensino em tempo integral. Qual é o impacto do aumento da permanência da criança na escola?
Pacheco - Um bom exemplo de iniciativa ministerial é o "Mais Educação". Porém, a interpretação prática de uma proposta de elevado potencial redundou, em muitas escolas, na criação de "contraturnos" feitos de atividades desconexas, transformando o turno integral numa dose dupla de tédio. O impacto poderá ser positivo, se não se tratar apenas de "tempo integral", mas de desenvolver educação integral em tempo integral. Não se aprende apenas no restrito tempo escolar de quatro horas diárias, ou adicionando horas de "contra-turno". A aprendizagem acontece vinte e quatro horas de cada dia, nos trezentos e sessenta e cinco dias de cada ano. Deveremos aproveitar a iniciativa do "Mais Escola" para recuperar a ideia de vizinhança, de solidariedade, de fraternidade, de responsabilidade social.
UOL - Acaba de entrar em vigor no Brasil o novo PNE (Plano Nacional de Educação), com metas para a educação brasileira os próximos dez anos. Quais são os seus pontos negativos e positivos?
Pacheco - A par do reconhecimento de muitos dos seus méritos, deverei denunciar o fato de em nenhuma das suas propostas e conclusões haver indícios de uma ruptura de paradigma. O PNE deixa pressupor que o sistema educativo se manterá cativo do velho modelo epistemológico do século 19. Celebro o PNE como documento de macro política. Mas a melhoria da educação depende mais de pequenos gestos quotidianos, no chão das escolas.
UOL - Uma das principais metas do PNE é a destinação de 10% do PIB para a educação. Na sua opinião, mais dinheiro para a educação está relacionado ao aumento da qualidade do ensino?
Pacheco - É louvável essa iniciativa. Porém, a manter-se a prevalência do modelo epistemológico do século 19, de que enferma a maioria das escolas brasileiras, a destinação de 10% do PIB apenas dará aso a um maior desperdício de recursos.
UOL - Qual é a sua avaliação sobre a definição de uma base curricular nacional?
Pacheco - Seria útil rever currículos. As ditas "grades" de língua portuguesa, por exemplo, são amontoados de conteúdos inúteis. Para que serve decorar termos como "dígrafo", ou expressões como "sujeito nulo subentendido"? O leitor saberá o que são "plantas epífitas", ou em que consiste um "ato elocutório diretivo"? Nem eu! Mas os alunos são receptáculos de uma acumulação cognitiva, que nem mil horas de "carga" poderiam contemplar. Quando aluno, fiz decoreba dos afluentes da margem esquerda de rios africanos e outras lengalengas que me ocupam a memória de longo prazo e que não me fizeram mais sábio nem mais feliz.
UOL - Um dos entraves da educação básica hoje é ensino médio, fase em que muitos jovens deixam a escola. Alguns candidatos à presidência defendem a reformulação do ensino médio. O que precisa mudar na sua opinião?
Pacheco - Na minha opinião, não é somente o ensino médio que precisa mudar. Predomina nas escolas uma cultura que assente no individualismo, na competição desenfreada, na ausência de trabalho em equipe, na ausência de verdadeiros projetos. Nas decisões de política educativa, prevalece o discurso de economistas, engenheiros, técnicos de informática, jornalistas, gestores, diretores de marketing, ex-ministros, empresários, tudo gente de boa vontade, mas desprovida de conhecimento pedagógico. Talvez devamos apelar ao bom senso dos candidatos e dos titulares do poder público, pedir-lhes que estejam atentos a excelentes práticas que muitos educadores brasileiros vêm produzindo, sem importação de modas pedagógicas, e que são o contraponto da construção social "escola", que a modernidade nos deixou como herança. A velha escola há de parir uma nova educação, mas as dores do parto serão intensas, enquanto a tecnocracia e a burocracia continuarem a invadir domínios onde deveria prevalecer a pedagogia.
UOL - Você acha que dar um auxílio financeiro (bolsa) ou oferecer o ensino médio aliado à capacitação profissional são saídas para reduzir o abandono nessa fase?
Pacheco - Duvido que essas medidas logrem grandes mudanças. O meu conhecimento da educação é parco, mas suficiente para poder afirmar que há motivos para ser esperançoso. Não tanto pelos progressos na política educativa, que continua sendo desastrosa, mas pelos projetos que, por toda a parte, vejo surgir. O Brasil tem excelentes professores e os melhores teóricos do mundo. O drama educacional brasileiro poderá sintetizar-se numa frase: jovens do século 21 são ensinados por professores do século 20, com recurso a práticas do século 19, em práticas desprovidas de fundamentação científica. A lei brasileira permite ultrapassar esta situação. Estou a falar de autonomia, da dignidade de um diálogo horizontal, respeitoso entre escolas e poder público. Temos razões para acreditar que a educação do Brasil pode melhorar. 

Escola padrão Fifa ainda é sonho

29 de setembro de 2014
Apesar de avanços, qualidade de ensino continua deficiente

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

De 1995 a 2013, o número de matrículas na Educação básica cresceu de 43,8 milhões para 50 milhões, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No Ensino superior, pulou de 1,8 milhão para 7,3 milhões. No mesmo período, a quantidade de universidades públicas federais subiu de 39 para 63.
O orçamento do Ministério da Educação (MEC) saltou de R$33,7 bilhões (em valores corrigidos pela inflação) para R$ 101,8 bilhões, aumento de 202%. No meio dessa sopa de números, fica evidente a constatação de que o País obteve ao longo das últimas décadas avanços significativos na inclusão de seus cidadãos no sistema educacional, conquista que esbarra em outro desafio:o da conquistar a qualidade de Ensino. Apesar do progresso, a Escola “padrão Fifa’’ reivindicada nas manifestações de junho de 2013, não está nem estará pronta para a próxima Copa.
Especialistas ouvidos pelo Estado apontaram uma série de medidas que precisam ser adotadas com urgência para melhorar a qualidade, da Educação básica ao Ensino superior: reformar o currículo Escolar; aumentar a atratividade pela carreira de magistério; reduzir distorções regionais;firmar um pacto de colaboração entre os diferentes Entes federados; e garantir a eficiência da gestão. “Temos uma Escola sem infraestrutura, chata, do século 19; um Professor do século 20, com formação de muita teoria e pouca prática em sala de aula; e um Aluno do século 21’’, analisa o diretor dearticulação e inovação do Instituto Ayrton Senna e ex-membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Mozart Ramos. “Se a gente não alinhar esses tempos, vai ser difícil fazer a mudança de que necessitamos. Houve muitos avanços, mas eles não colocaram o País na velocidade de cruzeiro que precisamos.’’
No pé da lista. O Brasil permanece entre os piores países em Educação, conforme avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) – com 402 pontos na média geral, ocupa o 58.º lugar entre os 65 países examinados.A média do exame é de 497 pontos. O último Índice Nacional de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) apontou que não houve avanço no Ensino médio entre as avaliações de 2011 e 2013, mantendo-se em 3,7. A meta era 3,9.
Para Ramos, sem atrair os jovens para a carreira de Professor será difícil promover mudança quantitativa e qualitativa na sala de aula. “Fala-se em Escola em tempo integral, mas precisamos de bons Professores.’’ Um currículo inovador, que dialogue com o universo dos jovens e as diferentes áreas de conhecimento, também é fundamental, pondera.
Na opinião do coordenador-geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel Cara, o próximo presidente da República terá a obrigação de construir uma agenda de colaboração federativa, firmado um acordo com Estados e municípios que envolverá necessariamente o aumento dos repasses feitos pela União. “O espírito do Plano Nacional de Educação é de maior colaboração e isso segue o espírito da Constituição de 1988. Tudo que não foi resolvido desde então vai ter de ser resolvido agora’’, diz Cara.“As Escolas ‘padrão Fifa’ vão começar a se viabilizar se a União tiver vontade política de cooperar com Estados e municípios. É preciso acordar os critérios para os municípios fazerem bom uso desse recurso.’’
Sancionado pela presidente Dilma Rousseff em junho, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece as diretrizes das políticas públicas na área para os próximos dez anos. O texto tramitou no Congresso Nacional por três anos e meio até chegar à mesa da presidente. Metas.Entre as metas do PNE estão a elevação do investimento em Educação para 10% do PIB até 2024, a erradicação do Analfabetismo, a oferta de Educação em tempo integral em no mínimo 50% das Escolas públicas e a elevação do número de matrículas na pós-graduação de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.
Os recursos da exploração do pré-sal vêm sendo anunciados pelo governo como um “passaporte’’ para o futuro,mas o grosso do dinheiro só deverá chegar, de fato, a partir de 2019, observa Daniel Cara. Para Ramos, é preciso fazer com essa receita não seja desperdiçada em questões não estratégicas.“É óbvio que o País precisa de mais recursos, mas é preciso que sejam bem geridos’’, ressalta.
Na avaliação do Professor Célio da Cunha, especialista em Educação da Universidade de Brasília (UnB), as distorções regionais devem fazer as autoridades lançarem um olhar específico para cada região. “Esses diferentes Brasis têm feições, arcabouços distintos’’,afirma.Ele destaca a importância de uma política específica para a Educação no campo, onde os indicadores são piores. “O Brasil tem condições de chegar no segundo centenário de Independência, em 2022, numa situação bem mais cômoda do que hoje’’, diz. 

Editorial: Violência escolar pede coragem

29 de setembro de 2014
"Agressividade em ambientes educacionais sugere que se esboce uma agenda imediata", afirma jornal

Fonte: Gazeta do Povo (PR)

O psicólogo Josafá Moreira da Cunha, doutor em Educação e pesquisador da UFPR, identifica só pelo olhar quando uma Escola é propensa à violência. Pelo olhar dos Alunos. “A gente entra e vê aqueles olhares perdidos. Percebe a falta de curiosidade, a ausência de contato com o outro. Um ambiente hostil é aquele em que as pessoas perderam a interação com os outros”, declarou o Professor à Gazeta do Povo.
Josafá figura entre os estudiosos que fizeram das relações entre Educação e violência seu objeto de estudo. Para fazê-lo, atém-se a estatísticas, como as geradas pelo Programa Educacional de Resistências às Drogas e à Violência (Proerd), e um sem-número de instituições, inclusive internacionais. Mas se detém, em especial, sobre o que é o avesso da agressividade, de modo a entendê-la pelo seu contrário. Essas manifestações positivas não estão medidas – dão-se pela observação e pela convivência no ambiente Escolar.
O Professor pesquisa, por exemplo, como se dão as relações de amizade entre os jovens, investiga como constroem seus espaços de felicidade. Não raro, coloca os dois resultados um ao lado do outro, com vantagem, para surpresa, para aquelas que não saem nos noticiários policiais, contrariando os que preferem acreditar que a Educação é refém da indisciplina. Chamado aqui e ali para mediar conflitos nas Escolas, conta que se depara com mais Alunos resilientes do que com Alunos em posição de ataque.
Durante muito tempo, havia carência de estudos sobre o assunto, o que favorecia as teses mais obscurantistas. A violência era explicada como um problema de fora dos muros da Escola. Sem reflexões que ajudassem os Educadores a lidar com tráfico, com a agressão verbal e mesmo com o bullying, vigorava – e, em certa medida, ainda vigora – o paliativo: o problema, diz-se, está nos pais, na sociedade, nas companhias. “O Professor se acha impotente. Tem medo da violência. Mas não a vê como consequência das relações interpessoais dentro da Escola”, argumenta a pesquisadora Araci Asinelli da Luz, da UFPR, referência no assunto.
Tese de doutorado recém-defendida pelo capitão Luciano Blasius, da Polícia Militar, no Departamento de Educação da UFPR mostra que a Escola reage cada vez mais às situações de violência – mas, agora, estudando-as. Entre 1994 e 2011, a Capes registrou 244 pesquisas, entre dissertações e teses, sobre o assunto. Não há um mapeamento sobre o teor desses estudos, mas se pode afirmar, com segurança, que eles avançam na percepção de um tipo peculiar de violência, a violência simbólica, qual como cunhou o sociólogo Pierre Bourdieu.
Não se quer dizer com isso que seja a Escola a culpada do tráfico ou dos baixos vínculos familiares, apontados como gatilhos da violência Escolar. Também não se quer negar a responsabilidade individual em cada episódio de violência cometida por Alunos – em última instância, sempre há uma decisão profundamente pessoal por trás de cada ato. Mas há uma parcela da situação que passa pela sala de aula e pelo tratamento inadequado dado ao Aluno, ou pela incapacidade de perceber a agressão que ele recebe dos colegas. Blasius apresenta histórias de estudantes que não se sentem pessoas no ambiente de Ensino. Seja pelas instalações precárias, seja pelo baixo vínculo com a comunidade Escolar. E propõe, nas entrelinhas, uma agenda de enfrentamento da violência no ambiente educacional. Uma das medidas seria preparar os Professores para lidar com a indisciplina, com folga o maior nó dessa questão.
Os Educadores se sentem agredidos, ressentem a falta de apoio dos pais, lamentam os Alunos que têm, mas parece não restar outra saída senão ajudá-los a lidar com a questão. A percepção do bullying é uma das grandes carências em todo esse cenário. Nos dizeres da pesquisadora Araci Asinelli da Luz, da UFPR, somente uma Escola que desperte para a noção de espaço de cuidado vai apurar sua percepção desse quadro.
Impressiona mais à comunidade Escolar encontrar alguém com arma branca ou o desacato a um Professor, mas milhares de Alunos estão, de certa forma, sendo expulsos da Escola todos os dias. Os observadores do Proerd sabem que os agressores, quase que a rigor, sofreram agressões em casa e as reproduzem. Sabem também que uma das matrizes da violência Escolar passa pelos colegas das carteiras – e por suas ações fora dos limites da Escola. A violência se esboça ali, de forma cruel. Difícil quantificá-la. Fácil percebê-la. 

UnB abre inscrições para programa de recrutamento de estudantes do Ensino Médio

29 de setembro de 2014
Cotas raciais serão aplicadas no processo seletivo pela primeira vez

Fonte: Agência Brasil

A UnB (Universidade de Brasília) abre hoje (29) as inscrições para o PAS (Programa de Avaliação Seriada). Serão ofertadas 2.106 vagas em 97 cursos de graduação distribuídos entre os quatro campi da instituição – Darcy Ribeiro (Plano Piloto), Ceilândia, Gama e Planaltina.
As inscrições podem ser feitas até 13 de outubro, exclusivamente por meio do site www.cespe.unb.br/pas. A taxa para todas as etapas é R$ 100. Alunos matriculados no ensino médio, nas escolas da rede pública do Distrito Federal, e candidatos de baixa renda são isentos.
O programa
O PAS consiste em três avaliações, feitas ao final de cada série do ensino médio. Trata-se de uma modalidade de acesso ao ensino superior gradual e progressiva.
As provas da primeira etapa, feita pelos alunos que concluem o 1º ano do ensino médio, estão previstas para 7 de dezembro. Os inscritos na segunda etapa serão avaliados na data provável de 6 de dezembro. Para os candidatos da terceira etapa, as provas estão previstas para 23 de novembro.
Esta será a primeira vez que as cotas raciais serão aplicadas no processo seletivo. A UnB foi pioneira na política de cota racial, criada em 2003. A cota, que até o último vestibular do ano passado era 20%, nunca havia sido aplicada no PAS. A decisão foi tomada em abril deste ano, quando ficou acertado que o percentual da reserva cairia para 5%, sendo complementada pela cota das escolas públicas (Lei 12.711/12), que também estabelece reserva para negros.
Dessa forma, neste ano, a seleção da terceira etapa será feita por três sistemas: universal (1.141 vagas), de cotas para escolas públicas (833 vagas) e de cotas para negros (132 vagas).

Editorial: Educação e muitas promessas

29 de setembro de 2014
"Sempre no período eleitoral a Educação ganha prioridade no Brasil, mas que muda logo após os resultados das urnas serem divulgados", afirma jornal

Fonte: A Gazeta (MT)

Em tempo de eleições e busca pelo voto, Educação volta a ser prioridade dos que pleiteiam uma cadeira eletiva. Aliás, sempre no período eleitoral a Educação ganha prioridade no Brasil, mas que muda logo após os resultados das urnas serem divulgados.
Mas, neste ano alguns avanços vêm sendo registrados, mesmo sabendo que os resultados somente serão verificados com o passar do tempo, ou seja, se estão positivos ou não ainda é muito difícil prever. Ocorre que um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) informa que os países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) colocaram a Educação e a capacitação no centro de suas estratégias de desenvolvimento. Informa ainda que isso tem impulsionado o progresso mundial na Educação.
O documento registra que os cinco países fizeram investimentos maciços em todos os níveis educacionais na busca de atender às necessidades de suas economias emergentes. Juntos, os integrantes do Brics ofertam Educação para cerca de 40% da população mundial, segundo o relatório.
A publicação Brics recebeu a denominação de Construir a Educação para o Futuro e buscou identificar os sucessos e desafios enfrentados pela Educação nesses países e recomenda uma colaboração mais efetivas entre as cinco economias do bloco para acelerar o progresso na Educação.
Mas, chama atenção o fato de que apesar de reconhecer os avanços, o relatório indica que para alcançar o crescimento econômico equitativo e o desenvolvimento sustentável é preciso mais investimento na Educação, com prioridade para a Educação básica, superior e o desenvolvimento de habilidades. Alerta também para as disparidades entre as Escolas que fazem com que as crianças mais pobres sofram mais com a baixa qualidade educacional.
Na Educação básica, o relatório aponta que Brasil, China, Índia e África do Sul devem alcançar a Educação primária e secundária universal, reduzir as desigualdades na oferta e aumentar o rendimento Escolar. Indica ainda que os países também devem colocar maior ênfase na expansão de programas de boa qualidade em cuidados e Educação na primeira infância.
A Educação superior não fica de fora, A recomendação é que a demanda por esse nível de Ensino tem aumentado e os países do Brics devem expandir a oferta de Educação superior e construir centros de excelência mundial em Ensino e pesquisa.
Quanto ao desenvolvimento de habilidades, o relatório recomenda que sejam criados sistemas de desenvolvimento de habilidades complexas para que os países diversifiquem suas bases econômicas. Recomenda ainda a expansão e modernização da trajetória técnica e profissional do Ensino secundário e superior e a expansão dos programas de formação que têm como alvos jovens e adultos carentes.
O relatório cita como positivas algumas iniciativas brasileiras, entre elas o Plano Nacional de Educação.
Não há novidades expressivas. O governo brasileiro conhece muito bem a nossa realidade e sabe o que é preciso fazer. Do discurso à prática há um grande abismo que precisa ser superado. Esse é o desafio.

Editorial: Gargalos no ensino e má gestão comprometem conquistas

29 de setembro de 2014
"O esforço dispendido para se obter saltos positivos na qualidade do ensino da primeira etapa do básico - 1º ao 5º anos - não se reflete no ciclo seguinte", afirma jornal

Fonte: O Globo (RJ)

A Educação no Brasil consolidou uma conquista: o setor é consensualmente aceito pela sociedade como prioritário nas políticas públicas. É um avanço, e não só conceitualmente; desde os anos 90, incrementaram-se os indicadores em todos os níveis de Ensino do país, graças a ações práticas que atacaram crônicas demandas. Mas esse ainda é um movimento sujeito a contramarchas. Permanecem gargalos a serem desbloqueados.
Com Fernando Henrique, avançou-se na meta de universalizar o acesso ao Ensino fundamental. Um primeiro passo que se consolidou nos indicadores da recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). De 2012 para 2013, aumentou, de 78,1% para 81,2%, o percentual de crianças de 4 e 5 anos em salas de aula. A meta é chegar a 2016 com 100% matriculados. Também houve crescimento no índice de presença em salas de aula na faixa dos 6 aos 14 anos: 98,2% frequentaram a Escola em 2013.
Com Lula, a opção de dar prioridade ao Ensino superior, um equívoco, foi revertida no segundo mandato, com o Plano de Desenvolvimento da Educação, para o Ensino básico. O Fundef (Fernando Henrique) e o Fundeb (Lula) legaram ao poder público instrumentos para equacionar o repasse de verbas destinadas a esse módulo, com melhor repartição de recursos da Federação entre estados e municípios. Também há conquistas no combate ao Analfabetismo: a Pnad detectou um recuo, de 8,7% para 8,3%, no número de brasileiros que não sabem ler, embora o problema continue sério entre adultos e nas regiões mais pobres.
Um dos mais graves gargalos evidenciou-se com a divulgação do último Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb). Seus indicadores mostram uma tendência preocupante: enquanto a evolução do Ideb, em comparação com as metas de notas, tem números positivos no início do ciclo fundamental (em 2013, o patamar da meta, de 4,9, foi ultrapassado, chegando a 5,2), nos anos finais e no Ensino médio registraram-se retrocessos: no primeiro caso, para uma meta de 4,4, a nota ficou em 4,2; no segundo, a meta era de 3,9, e o Ideb estacionou em 3,7. Isso significa que o esforço dispendido para se obter saltos positivos na qualidade do Ensino da primeira etapa do básico (1º ao 5º anos) não se reflete no ciclo seguinte. E não alcança o Ensino médio, o que compromete a qualidade do Aluno que chega à Universidade.
Nesse apagão, é sintomático o perfil de gasto anual por Aluno em comparação com nações do OCDE, o grupo de países mais desenvolvidos do planeta. No Ensino fundamental, o Brasil dispende per capita US$ 2.673 (contra US$ 8.296 da OCDE); no Ensino médio, a relação é ainda mais desigual: US$ 2.662 do Brasil contra US$ 9.280 da OCDE; já no Ensino superior, a diferença cai significativamente: US$ 10.902 contra US$ 13.958.
Dados como estes evidenciam que ainda há distorções graves no Ensino do país, principalmente o básico. Mas o diagnóstico mais fácil - a necessidade de mais verbas para o setor, atualmente na faixa de 5,7% do PIB - não explica tudo. Dinheiro não é solução mágica.
O módulo mais crítico da Educação, o básico (os Ensinos fundamental e médio), tem sido beneficiado por aumentos gradativos de repasses, através do Fundeb. E mesmo assim esses ciclos, principalmente o médio, foram reprovados no Ideb. A constatação é óbvia: como em outras áreas de políticas públicas, os problemas decorrem menos da falta de recursos, e bem mais das deficiências de gestão.
São números e questões prioritários para a agenda do próximo presidente. Note-se que, em razão da redução da taxa de crescimento populacional, o mercado de trabalho do país também tende a se retrair. A um número cada vez menor de jovens trabalhando deve-se, em contrapartida, aprimorar-se a qualificação, via aperfeiçoamento da qualidade do Ensino. É um desafio para já, do qual depende o aumento da baixa produtividade da economia brasileira, ponto vital.  

domingo, 28 de setembro de 2014

As mudanças urgentes para o país

28 de setembro de 2014
Reforma no sistema de ensino foi escolhida como prioridade no leque de mudanças por 35% dos executivos

Fonte: Revista Exame

A reforma no sistema de Ensino foi escolhida como prioridade no leque de mudanças por 35% dos executivos. A discussão vem a calhar: os indicadores recentes mostram que o Brasil parou de melhorar em qualidade da Educação básica
Publicados no início de setembro, os dados de 2013 do índice de Desenvolvimento da Educação básica, conhecido como Ideb, confirmam sinais já dados por outros indicadores: depois de universalizar o acesso ao Ensino fundamental, o Brasil parou de avançar na melhoria da Educação no segundo ciclo do fundamental e no médio. Pior, o país estagnou num patamar para lá de insatisfatório. No último exame Pisa, que mede o desempenho de estudantes de 15 anos em 65 países, divulgado no fim do ano passado, o Brasil manteve basicamente as mesmas notas em matemática, leitura e ciências da edição anterior, publicada em 2010. Com isso, estacionamos entre os últimos colocados no ranking. A Educação precisa de nova injeção de ânimo. A boa notícia é que os caminhos para acelerar a melhoria da qualidade das Escolas públicas são conhecidos. A má é que eles vão mexer com interesses e custar capital político.
A primeira medida é a adoção de um currículo nacional. O consenso entre especialistas já é tal que a proposta está no programa de governo dos três principais candidatos à Presidência. Sua função seria especificar o que todos os estudantes devem aprender até o fim de cada ano da Educação básica Preocupados em melhorar o aprendizado. Estados Unidos, Austrália e Chile adotaram um currículo nacional nos últimos anos. Por aqui, a resistência virá de boa parte dos sindicatos e da academia, sob o argumento de que os Professores perderão autonomia. "O currículo precisa ser um documento conhecido para que o pai saiba o que o filho deve aprender ao fim de cada ano", diz Denis Mizne, presidente da Fundação Lemann, uma organização engajada no tema. "Os Professores continuarão tendo liberdade quanto ao modo de ensinar, mas menos quanto ao que ensinar." E no Ensino médio que o aprendizado diminui e os Alunos desistem mais. Dos jovens nascidos em 1994, 52% abandonaram a Escola, a maioria deles no ciclo médio. Dos que sobraram, apenas 10% aprenderam o que se esperava em matemática. Pudera. Os Alunos têm 14 disciplinas e 3 horas de aula por dia. Goiás, o estado que vai melhor nesse ciclo de Ensino, tem nota média de 3,8 (de zero a 10) por Aluno no Ideb. "Os dois últimos anos precisam ser mais flexíveis, e o Aluno deve ter a chance de escolher disciplinas mais focadas nas áreas de sua preferência", diz Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna e ex-secretário da Educação de Pernambuco. Ou seja, o novo currículo do Ensino médio precisa contemplar caminhos diferentes. A ineficiência da grade atual está por trás de outro dado desanimador: em 2013, pela primeira vez em dez anos, o Ensino superior teve queda no número de egressos de faculdades.
Sem desenvolver a capacidade de aprender na Escola, os jovens chegam despreparados ao mercado de trabalho. Uma pesquisa da consultoria McKinsey aponta que só 30% dos empregadores no país afirmam que as pessoas que eles contratam são adequadamente educadas. Na prática, isso significa menos produtividade: nos três centros de distribuição da fabricante de calçados Alpargatas, por exemplo, em 2013, cada trabalhador manipulou, em média 18 OOO peças. Em Marselha, na França, onde a empresa tem outro centro de distribuição, cada trabalhador manuseia o dobro de peças por ano. "São atividades idênticas, elementares, com instruções claras, mas que podem atrasar toda a logística", diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas.
Para o aprendizado melhorar, a formação dos Professores também precisa evoluir. De acordo com os especialistas, tanto as universidades públicas quanto as privadas formam mal os Professores. "Os cursos de licenciatura não ensinam práticas de sala de aula", diz Bernardete Gatti, especialista em formação de Professores da Fundação Carlos Chagas. "O ideal é criar centros nas universidades voltados especialmente para a didática e nos quais os melhores Professores possam compartilhar suas experiências. E assim na França, na Inglaterra e até na Colômbia." O Ministério da Educação teria de forçar a atualização do que é ensinado nas licenciaturas. A melhor maneira de fazer isso é usai" avaliações para medir o conhecimento de Professores, como estão fazendo diversos países, entre os quais México e Chile.
A Educação integral, proposta mais apresentada pelos candidatos nos debates e nas entrevistas, é um ideal que exigiria investimentos na contratação de Professores com carga horária maior e na construção de novos prédios. Mas a Escola em tempo integral de nada adiantará se não forem atendidos os pontos aqui citados, de melhoria no currículo e na formação dos Professores. No caminho do ideal, o Brasil precisa, antes de tudo, dar conta do essencial.
Gestão pública
A contratação de servidores só cresce. O pior é que faltam sistemas de meritocracia e de melhoria da qualificação dos escolhidos para os órgãos públicos. Esse quadro leva 20% dos executivos ouvidos por EXAME a dar prioridade a uma reforma do setor público
Um acordo histórico entre a base do governo de Ricardo Lagos e a oposição permitiu que o Chile fizesse sua principal reforma administrativa em 2003. Naquele ano foi criado o Sistema de Alta Direção Pública, com o objetivo de fazer as contratações para cargos de confiança do governo chileno de forma mais meritocrática e transparente. A principal inovação do sistema é um conselho composto de seis especialistas de notório saber em recursos humanos e administração pública. Eles recebem uma descrição detalhada das atividades a ser exercidas em determinado cargo — que vai do diretor de Escola até o subsecretário de um ministério — e abrem processo de seleção. Para cada posição, até cinco nomes são selecionados e entregues ao responsável pelo órgão em questão, que decide quem contratai". Mais de 70% dos comissionados do Chile são selecionados assim — modelo similar ao que vigora no Reino Unido e na Austrália. "Estamos muito preocupados no Brasil com a necessidade de cortar os 23 000 cargos comissionados ou parte dos 39 ministérios", diz Regina Pacheco, coordenadora de mestrado em gestão pública da Fundação Getulio Vargas. "Mas a prioridade é melhorar a qualidade dos dirigentes públicos." Ter menos ministérios, é bom que se diga, ajudaria muito. Mas o vital é trazer pessoas melhores para trabalhar no governo.
Uma curiosidade: a maioria dos contratados no Chile acaba sendo de funcionários concur-sados que almejavam uma promoção. Isso reduz a necessidade de contratar gente de fora. No Brasil, o funcionalismo público cresceu 24% nos últimos 11 anos (a população aumentou 11%), sem que tenha sido criado um sistema de incentivos para que servidores cumpram metas e ambicionem avançar na carreira. E o governo ainda paga mais do que o mercado para seus funcionários. Tiago Cavalcanti, Professor de desenvolvimento econômico da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, calculou que, em média, um funcionário público ganha25% mais do que um colega com a mesma qualificação e experiência recebe no setor privado. "O setor público ainda oferece estabilidade para cargos em que isso é desnecessário e até prejudicial, como técnicos administrativos e Professores universitários", diz Cavalcanti. Uma solução para diminuir a diferença é dar aumentos salariais reais mais baixos ao setor público do que à iniciativa privada. Justiça seja feita: o governo Dilma tem adotado essa estratégia, segurando ajustes de diversas categorias. Mas falta criar um sistema de bonificação com base no desempenho dos servidores. A proposta está no programa de governo dos dois principais candidatos da oposição. O passo seguinte seria abrir espaço para demissões por incompetência, como ocorre no Chile. Isso requer coragem. Seria preciso mudar a Lei na 8.112 do Código Civil, que inclui as regras do funcionalismo.
As empresas reclamam que uma mudança urgente é a da 8.666, obsoleta lei de licitações que torna penoso o processo de compras e contratações de serviços pelo governo. A fabricante de celulose Suzano espera há mais de um ano pela licitação para o aprofundamento do canal do porto que usa para escoar a produção no Maranhão. "O governo estadual diz que tentou duas vezes licitar, mas não consegue completar o processo", diz Walter Schalka, presidente da Suzano. Uma proposta de nova lei de licitações tramita no Senado, sob a relatoria da senadora Kátia Abreu. "Hoje, o Tribunal de Contas da União, um órgão competente, fica refém porque precisa garantir o cumprimento de leis ruins", diz Humberto Falcão Martins, sócio da consultoria Publix, especializada em gestão pública. Espera-se que o próximo presidente defenda a renovação dessa e de outras leis arcaicas.
INFRAESTRUTURA
Na opinião dos líderes empresariais ouvidos por EXAME, em vez de disputar com o setor privado e querer ocupar seu lugar, o governo deve batalhar pela atração dos investidores. Esse é o caminho para o país mudar de vez o retrato indigente de sua estrutura básica A má qualidade da infraestrutura é um dos grandes formadores do chamado custo Brasil. Segundo a Fundação Dom Cabral, se o país tivesse portos, estradas, ferrovias e rodovias do nível existente nos Estados Unidos, as empresas brasileiras economizariam 83 bilhões de reais por ano. Lá, as companhias gastam um valor correspondente a 7,5% das receitas com logística - aqui, 13%. Ok, a comparação com os americanos pode soar exagerada. Mas confrontar o Brasil com o resto do mundo não nos coloca em situação mais confortável. De acordo com o Banco Mundial, estão piores do que nós nesse quesito somente nações do quilate de Líbia. Venezuela e Nigéria. "Nossa estrutura inadequada aumenta os custos de deslocamento de mercadorias, inibe o comércio exterior e tira o bem-estar das pessoas", diz João Manoel Pinho de Melo, Professor de economia da Escola de negócios Insper e autor de diversos estudos sobre o tema.
A saída para resolver esse problema é óbvia: aumentar os investimentos. Ou seja, construir mais ferrovias, hidrovias, rodovias, aeroportos e portos — e reformar o que existe e está em pandarecos. A Confederação Nacional do Transporte estima que o país precisa investir 1 trilhão de reais num total de 2 045 projetos identificados como necessários para eliminar os gargalos da logística. Os maiores gastos seriam focados em trilhos e rodovias — 449 bilhões e 362 bilhões de reais, respectivamente.
Um dos obstáculos para que os projetos saiam do papel é o ambiente inóspito para os investimentos. Eles devem ser em maior escala privados, já que o Estado brasileiro, com demandas de todos os setores e com déficit anual de 3,5% do PIB, não tem condicões de assumir a tarefa.
Dois pontos precisam ser bem resolvidos para isso. O primeiro é demover o governo, de uma vez por todas, da ideia de que cabe a ele fixar a taxa de retorno que os investidores devem ter com os empreendimentos. Foi isso que atrasou a concessão de estradas por anos seguidos. E o governo também precisa conter o ímpeto de ser "sócio" dos projetos. Quando recuou, como fez na concessão de aeroportos, o resultado foi considerado um sucesso. Quando age com sanha estatizante, como tem feito no caso das ferrovias, afasta investidores. "O governo vai conseguir baixar o preço dos projetos se criar condições para que haja concorrência nas licitações", diz Julian Thomas, presidente da transportadora marítima Hamburg Süd.
O segundo obstáculo está na regulação pública. O país carece de regras claras para nortear os investimentos. O efeito mais visível é a judicialização dos processos. As lacunas legais precisam ser solucionadas nos tribunais, o que atrasa e encarece as obras. Países de origem anglo-saxônica, como Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, mantêm câmaras de arbitragem para resolver disputas em setores específicos de infraestrutura. Isso dá agilidade ao processo. Pior do que não ter marcos regula-tórios é agir de forma intempestiva, como o governo fez no setor elétrico ao forçar condições para tentar baixar tarifas. Provocou pânico entre os investidores e não conseguiu uma redução sustentável do preço da eletricidade.
No fim das contas, todos esses problemas são vistos como fontes de risco pelos investidores. Quando a probabilidade de perda parece mais alta que a de obter retorno, não há interessados. E quem entra exige uma rentabilidade alta. Um estudo comandado pelo Professor Vinicius Carrasco, do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, calculou que, se o Brasil tivesse qualidade regulatória igual à média geral dos países emergentes, os investidores aceitariam aqui um retorno anual 1,3 ponto percentual menor do que a média de rentabilidade dos contratos atuais, de 6,5% ao ano. "Qualquer percepção de risco se reflete em exigência de retornos mais altos", afirma Carrasco. Para conseguir custos menores nas obras e concessões de serviços, o melhor a fazer é o governo clarear as regras e fugir de uma tentação: a de se meter demais em todos os processos.
TRIBUTÁRIO
Simplificar as regras tributárias é a quarta reforma mais pedida — a urgência em acabar com um sistema kafkiano, que suga tempo e recursos das empresas, é um consenso. Eis uma mudança poderosa para estimular os negócios e o crescimento do país
Nosso sistema tributário é um monstrengo implacável. Tudo é taxado: faturamento, folha de salários, lucro, investimento, inovação — até uma atividade simples, como enviar uma peça da matriz para uma filial que está em outro estado, não passa despercebida pelo Fisco, que pega seu quinhão da operação. Pior do que taxar tudo é taxar tudo de forma confusa. O país tem impostos e contribuições similares e que se sobrepõem. O imposto de renda sobre a pessoa jurídica é parecido com a contribuição social sobre o lucro líquido. E PIS e Cofins são siglas que designam mordidas do governo com a mesma alegação: financiar a seguridade social. "São tributos praticamente idênticos, que poderiam ser unificados", diz o advogado David Robex-to Soares da Silva, autor de um guia do sistema tributário brasileiro para investidores estrangeiros. De acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, só o trabalho de cumprimento das normas suga das empresas 45 bilhões de reais por ano. Esse é o montante que elas gastam com pagamento de funcionários, equipamentos e softwares voltados especificamente para o atendimento do Fisco. Por isso, criou-se um consenso: para voltar a crescer, o país precisa simplificar a forma como tributa os contribuintes. "Para se tornar mais competitivo, é inadiável que o Brasil faça uma reforma que torne o sistema menos complexo e menos custoso", diz Fernando Alves, presidente da consultoria PwC.
Simplificar os tributos é uma tarefa, em tese, menos espinhosa do que cortar os tributos. O Brasil pode se espelhar em dois modelos: o americano e o europeu. Nos Estados Unidos, os impostos incidem sobre a renda e sobre o consumo — não há tributos em cascata sobre o faturamento. As empresas conseguem se preocupar apenas em produzir. Já o modelo europeu tem semelhança com o nosso por haver cobrança de impostos durante a produção. Mas se diferencia por ser bem mais simples. O recolhimento é feito pela cobrança do imposto sobre o valor agregado, que incide sobre todos os bens e serviços. O IVA seria o mesmo que pegar CSLL, PIS. Cofins, ICMS, IPI e outros de nossa indigesta sopa de letras e juntar tudo num só tributo. No sistema europeu, como o imposto é um só, fica fácil a empresa pagar e ter créditos pelo que seus fornecedores já recolheram. No Brasil, o sistema que gera os tributos cumulativos é difícil de medir — no setor automobilístico eles foram estimados em 10% do valor da produção, segundo um estudo da consultoria Booz e da Fundação Getulio Vargas. "Praticamente todos os países adotaram um sistema de IVA", diz Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração da siderúrgica Gerdau. "É um processo que precisa ser implantado gradualmente, mas tem de começar." Em vez de buscar algo como o IVA, a agenda tributária do governo nos últimos anos esteve centrada no alívio de impostos para setores vistos como "estratégicos", as chamadas desonerações. "Isso não deu resultado", diz Pedro Passos, sócio da Natura e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. "Chegamos a um consenso de que a reforma precisa simplificar a vida de todos os setores." Aos poucos, porém, o foco começa a mudar. O primeiro passo para a simplificação do sistema foi dado. Recentemente, o Congresso criou projetos para a unificação do PIS e da Cofins e a simplificação do ICMS. No EXAME Fórum realizado em agosto, Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, demonstrou otimismo com a evolução das reformas em 2015. "Os projetos estão prontos para ser aprovados", disse Barbosa. A primeira proposta é mais fácil de concretizar, já que trata só de tributos federais. Mexer no ICMS significa mexer com o interesse de todas as unidades da Federação. Eis um bom uso para o capital político do futuro presidente.
SEGURANÇA PÚBLICA
O Brasil se tornou um dos países mais violentos do mundo e tem grande dificuldade de solucionar crimes e combater os criminosos. Essa insegurança também afeta dramaticamente as empresas
Brasil ocupa a vexatória posição de 12° país entre os que exibem os mais altos índices de homicídio no mundo. Apesar de indicadores como esse, o governo federal nunca deu a devida atenção à segurança pública. A justificativa apresentada para a ausência: a segurança é responsabilidade dos estados. Mas, diante da escalada da violência no país, a postura federal precisa mudar, defendem os especialistas dessa área. A começar pelo fato de que o Planalto tem poder para influenciar a atuação dos estados. "O presidente pode condicionar o repasse de verbas ao alcance de resultados e à tomada de medidas fundamentais para a redução do crime", diz o sociólogo Cláudio Beato, Professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Uma ideia é que o governo utilize as verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública para garantir que os estados padronizem dados criminais e sigam práticas reconhecidas no mundo inteiro como eficientes na redução de delitos. Um exemplo ê o georreferenciamento das ocorrências, que ajuda a mapear regiões com maior incidência de cada tipo de crime e subsidia a atuação da polícia. A estratégia começou em Nova York, nos anos 90, mas hoje está por toda parte, inclusive em estados como Rio de Janeiro e São Paulo. Para aumentar a chance de influenciar a ação dos outros, o governo também deve oferecer treinamento aos gestores para aplicar melhor a inteligência policial — e cobrai- que os estados participem, condicionando, como sempre, ao repasse de verbas.
Medidas assim podem levar ao aumento das taxas de esclarecimento de crimes, uma questão dramática no Brasil. Apenas 2% dos roubos são investigados no país. Praticamente nada é solucionado. Não surpreende que 2 000 carros da locadora Localiza sejam roubados a cada ano. O desfalque eqüivale a 2% da frota da empresa e causa um prejuízo anual de 60 milhões de reais. Em homicídios, apenas 8% dos casos são resolvidos, um índice vergonhoso se comparado ao de países desenvolvidos. E isso custa dinheiro. Quase 2% do PIB é perdido anualmente com a morte violenta de jovens. As empresas também sofrem. Por isso, 8% dos mais de 500 executivos que responderam à pesquisa de EXAME elegeram a reforma da segurança como prioridade para o próximo governo.
Um presidente comprometido com a segurança deveria investir também na promoção de uma reforma da polícia. Hoje, os estados têm a militar e a civil. A primeira é responsável pelo policiamento e pela prisão em flagrante, e a segunda, pelo registro de ocorrências e pela investigação. Ou seja, elas têm informações com-plementares para a resolução dos crimes. Mas falta integração entre as duas. "A experiência dos estados que conseguiram reduzir a criminalidade mostra que é vital ter metas compartilhadas pelas duas polícias e gestão por resultado", diz Carolina Ricardo, analista do Instituto Sou da Paz. Nenhum país tem essa jabuticaba; as boas polícias costumam ser de ciclo completo, como se diz no meio — registram o ocorrido e investigam. Para encaminhar uma solução para o problema seria preciso um projeto de lei que unificasse as polícias ou que desse a ambas poder de prisão e de investigação, dividindo o tipo de crime que cada uma deve atacar, como nos Estados Unidos. Resolver esse descasamento é parte crucial do combate ao crime. E isso não é só problema dos governadores.