Falta ousadia para o Sistema Articulado estar totalmente em vigor, diz
representante do MEC
19/11/10
Para que o Sistema Nacional Articulado de Educação esteja totalmente em
vigor, falta ousadia. A opinião é do representante de São Paulo do Ministério
da Educação (MEC), João Nelson dos Santos. “As bases estão dadas, há recursos e
há novas metodologias. Nós, os gestores públicos, precisamos ser mais ousados”,
disse.
Em entrevista ao Portal Aprendiz, nesta quinta-feira (18/11), após sua
participação no Seminário “Um Município para as Crianças”, ocorrido em São
Paulo (SP), Santos destacou que a construção do Sistema Articulado está no
ponto das conversas, mas que ações conjuntas já vêm sendo desenvolvidas.
Realizar a implantação do sistema na educação, para maior parceria entre
os entes federal, estadual e municipal, foi uma das promessas da presidente eleita
Dilma Rousseff apresentada em seu plano de governo durante a campanha 2010. A
proposta já foi defendida por educadores na Conferência Nacional de Educação
(Conae), que aconteceu no início do ano.
Portal Aprendiz – Quando o
Sistema Nacional Articulado de Educação entrará em vigor?
João Nelson dos Santos – Temos a ideia
de que ele já está funcionando. Há ações acontecendo neste sentido. Por
exemplo, a assistência técnica feita no nível federal ou o repasse de recurso
voluntário por meio do PAR [Plano de Ações Articuladas] aos municípios. Vivemos
um momento democrático e o sistema não acontece através de um manual. A
colaboração está prevista em lei, mas quando chega à realidade são necessárias
conversas entre os entes federados.
Aprendiz – Com a atuação
conjunta das três esferas do governo, quais serão os avanços para o setor
educacional?
Santos – Penso que
trará bastante avanço, apesar de que quando se constrói um sistema, é possível
que falhe em alguns pontos. No caso do Sistema Articulado de Educação, o que
tem acontecido de positivo por iniciativa dos governos federal, estadual e
municipal é, por exemplo, a criação de inúmeros conselhos. A ideia é de
participação da sociedade civil e também da família na escola, o que pode
colaborar para uma melhoria.
Aprendiz – Você já havia
dito que os conselhos poderiam ajudar a conter os problemas de corrupção.
Santos – Isso,
interromper ou mesmo dificultar. A corrupção é inerente a todos os países e
governos. Não estou dizendo que está acontecendo, mas em um país grande como o
nosso, é necessário que haja conselhos municipais. O MEC passa o recurso do
Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação] para a prefeitura, e também recursos
voluntários de outros programas. É preciso fiscalizar para onde está indo o
dinheiro. Agora, o conselho tem que ser independente. Há conselhos que são
nomeados, sabemos disso, mas isto vai mudar.
Aprendiz – Como estão
as conversas para a real efetivação do Sistema Articulado?
Santos – Estamos neste ponto, o das conversas. A construção é
sempre a história de colocar mais um tijolinho. No caso de São Paulo, o governo
do estado fez a adesão a vários programas do MEC no último ano. A conversa
nesse sentido é política, até porque o governo do estado tinha outras ideias.
Aprendiz – Há prazos
para que o sistema esteja totalmente em vigor?
Santos – O prazo é hoje, porque o país está mudando
rapidamente, a educação tem que ser modificada também. Está faltando um pouco
de ousadia. As bases estão dadas, há recursos e há novas metodologias. Nós, os
gestores públicos, precisamos ser mais ousados. Alguns têm medo de agir e fazer
algo. Temos um país crescendo, com jovens querendo oportunidade, cabem aqueles
que estão na educação abrir esta oportunidade. Não se pode ficar na mesmice.
Aprendiz – Quais são as
dificuldades que impedem esta ousadia?
Santos – Primeiro a
formação de professores, temos educadores que não tem licenciatura. Depois,
equipamentos tecnológicos que precisam estar cada vez mais à mão do aluno.
Alguns gestores são resistentes a entregar isso para os estudantes. A ousadia,
por exemplo, vem assim, dentro e fora da sala de aula. Também, o professor
precisa ser mais bem pago para ser ousado. Mesmo na gestão, ainda temos que avançar.
Aprendiz – O MEC fará a
gestão do Sistema Articulado?
Santos – Mais ou
menos. A gestão é compartilhada, cada um faz sua parte. O MEC na parte de
recurso e de assessoria técnica. Até quando chegar lá na ponta, o professor
também vai compartilhar com o aluno.
Aprendiz – Como a
sociedade civil pode atuar nesse processo de construção do sistema?
Santos – Tivemos
grande avanço quando surgiu o movimento Todos Pela Educação, pois resultou no
PAR, que é um instrumento de gestão para saber o que a cidade precisa. Isto
começou na sociedade civil. As ONGs também têm papel interessante. Precisamos
das pessoas falando.