PESQUISA

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Licença da sala de aula

 
03/06/2013
Total de professores afastados - hoje 6.500 - cresce no período letivo e cai nas férias

Natanael Damasceno
Ruben Berta

Perícia. O secretário Wilson Risolia contrata empresa
educação doente

Um diagnóstico da curva de licenças médicas concedidas a professores da rede estadual revela uma estatística polêmica: a Secretaria de Educação constatou que os afastamentos por motivos de saúde diminuem substancialmente durante as férias escolares e voltam a subir durante as aulas. Se por um lado, o estado aposta na concessão de benefícios para quem está em sala de aula e numa política de pente fino nas perícias médicas para resolver a distorção - em 2011, contratou uma empresa para o serviço -, por outro, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) acredita que, por trás desses números, estão condições de trabalho inadequadas. O desafio ainda é grande a considerar os dados do último mês de maio: segundo o secretário de Educação, Wilson Risolia, 6.500 professores - cerca de 9% do total - estão afastados da função.
A curva de licenças do ano passado, por exemplo, ainda retrata a distorção. Em janeiro, havia 2.856 professores afastados. Em fevereiro, quando começam as aulas, eram 3.985. O número sobe até chegar em junho a 6.269. Para cair, durante o recesso de meio de ano, em julho, para 5.273. Dali, a curva sobe até atingir o pico de 6.105, em setembro. Então, os números voltam a cair, até chegar em dezembro a 1.559.
Atualmente, o estado tem uma média de carência de professores em sala de aula que varia entre 800 e 900 profissionais. Wilson Risolia afirma que, com a mudança nas perícias, as licenças em época de férias vêm caindo. Segundo o órgão, que tem cerca de 75 mil professores em seu quadro de funcionários, o número de afastamentos concedidos em novembro e dezembro de 2012 (3.782 e 1.559, respectivamente) caiu drasticamente se comparado com o de licenças nos mesmos meses do ano anterior (6.619 e 6.045).
- É natural ter uma curva de licença alta, uma vez que o quadro de funcionários é predominantemente feminino e há muita solicitação de licença maternidade. O que não é normal é o comportamento da curva. Então, contratamos perícia médica privada e isso ajudou bastante. Continua tendo muito pedido de licença, mas o número caiu - observa o secretário.
Para o coordenador-geral do Sepe, Alex Trentino, a análise do secretário é equivocada. Ele argumenta que o número de licenças aumenta durante o período letivo por causa das más condições de trabalho a que os professores são submetidos.
- A curva cresce nos meses de aula porque as condições de trabalho são muito ruins. A superlotação das salas leva a uma série de situações de estresse que acabam derrubando o professor - afirma o coordenador-geral do sindicato. - E é lamentável que o secretário pense dessa forma. A licença, que é temporária, é um direito do trabalhador. Ele fala como se o professor estivesse inventando um motivo para não trabalhar. Ao invés de atacar o que leva à licença, ele questiona o fato de o professor estar doente.
Alex Trentino argumenta ainda que não são as licenças que fazem com que o déficit de professores aumente. Segundo o Sepe, de julho do ano passado até hoje, 1.911 professores se aposentaram e 849 pediram exoneração. No mesmo período, segundo o sindicato, foram convocados 2.028 profissionais aprovados em concursos.
- O problema é a carência, a falta de profissionais. Sai muito mais professor da rede do que entra. O cara hoje começa a carreira ganhando 1.070 reais brutos (para uma jornada de 20 horas semanais). Você tem que incentivar o profissional a ganhar bem. Caso contrário, ou ele abandona a rede ou pega várias outras escolas e não dá uma boa aula. Com uma sobrecarga tão grande, o problema acaba estourando na ponta e você então consegue entender por que a educação no Rio está tão mal - analisa Trentino.
Estado diz ter reduzido déficit
Wilson Risolia garante que o estado tem investido em outras ações para diminuir o problema da carência estrutural, como gratificações para quem é formado em áreas que têm poucos profissionais, como as disciplinas de física e matemática, ou as que são distribuídas para professores que trabalham em unidades de difícil acesso. E diz que o estado está buscando melhorar o salário dos profissionais.
- Carência haverá sempre. Isso acontece. Além da carência estrutural em áreas em que não se consegue formar servidor. Para cada problema, a gente desenvolveu um conjunto de ações. Mas diminuímos o déficit de 12 mil para 800 profissionais e, depois de anos sem que o salário dos profissionais recebesse reajustes, estamos concedendo aumentos reais. Além disso, vamos começar a trabalhar com o conceito de certificação dos profissionais, que pode triplicar os salários de quem estiver disposto a ser avaliado e vai servir como um incentivo para levar os professores para a sala de aula - diz o secretário, acrescentando que o Rio é o estado que paga o maior valor pela hora/aula no país.

sábado, 1 de junho de 2013

Formulário do Enem discrimina doméstica

 
01/06/2013

EDUCAÇÃO Questionário socioeconômico aplicado a estudantes inclui "empregada mensalista" ao lado de eletrodomésticos entre itens que os candidatos possuem em casa
RIO - Quase dois meses após a aprovação da PEC das Domésticas, que ampliou os direitos trabalhistas da categoria, um questionário aplicado a candidatos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2013 causou desconforto entre alunos, empregadas do ramo e o Ministério da Educação (MEC).
No ato da inscrição, os estudantes precisaram responder a questionário socioeconômico com itens como a renda mensal familiar e a escolaridade. No entanto, na questão número 7, o candidato deveria assinalar, entre os itens na lista, quais ele possui em casa. Na relação, entre objetos como TV, geladeira, aspirador de pó, automóvel e computador, surge a opção "empregada mensalista".
O questionário foi criticado pela categoria: "É um ato discriminatório porque nos reduziu a objetos. Não foi perguntado se na casa do aluno havia pais, filhos ou parentes. Só objetos e as empregadas domésticas. E o mais grave é que quem elaborou esse questionário são pessoas ligadas à educação, formadores de opinião. Será que eles ensinam para as crianças que empregadas são utensílios domésticos?", questiona a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza de Oliveira.
Em nota, o MEC reconheceu o problema. O órgão afirmou que "o ministro Aloizio Mercadante considera que a forma da pergunta que se refere a trabalhadores domésticos é inadequada e vai encaminhar a necessidade de sua adequação, preservando os critérios técnicos, mas garantindo integralmente o respeito àqueles trabalhadores".
O questionário é aplicado aos candidatos do Enem desde 1998. O formulário serve para o MEC avaliar o perfil de quem faz o exame e, com base nisso, elaborar políticas educacionais.
De acordo com a socióloga Maria Salete Souza de Amorim, coordenadora do curso de ciências sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pergunta deveria ter sido feita separadamente: "Dentre os itens apresentados, constam apenas objetos, portanto, não cabe o item "empregada mensalista". Seria necessário criar outra questão com outras categorias para inserir essa informação", observou.
Já o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em questionários socioeconômicos, considera "exagerada" a polêmica criada. Ele concorda, no entanto, que a pergunta específica sobre empregada mensalista poderia ter sido feita separadamente.
"Não necessariamente isso deve ser interpretado como posse de bens materiais, pois "ter em sua casa" pode assumir no português a ideia de haver, existir, encontrar etc... Como hipótese, poderia haver a alternativa "empregada mensalista" separadamente", sugere Alavarse.




Formulário do Enem causa polêmica com domésticas

 
01/06/2013
Mercadante disse que questão deve ser modificada ano que vem, em respeito aos trabalhadores da categoria

Leonardo Vieira

Quase dois meses após a aprovação da "PEC das Domésticas", que ampliou os direitos trabalhistas da categoria, um questionário aplicado a candidatos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2013 causou desconforto entre alunos, empregadas do ramo e o Ministério da Educação (MEC).
No ato da inscrição, o estudante precisou responder a um questionário socieconômico com itens como a renda mensal familiar e a escolaridade. No entanto, na questão número 7, o candidato deveria assinalar, entre os itens na lista, quais ele possui dentro de casa. Na relação, entre objetos como TV, geladeira, aspirador de pó, automóvel e computador, surge a opção "empregada mensalista". O questionário foi criticado pela categoria:
- É um ato discriminatório porque nos reduziu a objetos. Não foi perguntado se na casa do aluno havia pais, filhos ou parentes. Só objetos e as empregadas domésticas. E o mais grave é que quem elaborou esse questionário são pessoas ligadas à educação, formadores de opinião. Será que eles ensinam para as crianças que empregadas são utensílios domésticos? - questiona a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza de Oliveira.
Em nota, o MEC reconheceu o problema. O órgão afirmou que "o ministro Aloizio Mercadante considera que a forma da pergunta que se refere a trabalhadores domésticos é inadequada e vai encaminhar a necessidade de sua adequação, preservando os critérios técnicos, mas garantindo integralmente o respeito àqueles trabalhadores".
O questionário é aplicado aos candidatos do Enem desde 1998. O formulário serve para o MEC avaliar o perfil de quem faz o exame e, com base nisso, elaborar políticas educacionais.
De acordo com a a socióloga Maria Salete Souza de Amorim, coordenadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pergunta deveria ter sido feita separadamente:
- Dentre os itens apresentados, constam apenas objetos, portanto, não cabe o item "empregada mensalista". Seria necessário criar outra questão com outras categorias para inserir essa informação - observou.
Já para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em questionários socieconômicos, a polêmica seria "exagerada". Mas a pergunta específica sobre empregada mensalista poderia ter sido feita separadamente.
- Não necessariamente isso deve ser interpretado como posse de bens materiais, pois "ter em sua casa" pode assumir no português a ideia de haver, existir, encontrar etc... Como hipótese, poderia haver a alternativa "empregada mensalista" separadamente - sugere Alavarse.