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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ESTUDANTES DRIBLAM GREVE


Paralisação prolongada dos professores da rede pública obriga os alunos a buscarem alternativas para garantir estudos e provas do Enem, que abre portas para faculdades
Fonte: Estado de Minas (MG)

Três adolescentes com o futuro na ponta da língua e o desejo enorme de extrair da vida mais do que ela tem a oferecer. Ana Paula e Lorena, de 17 anos, e Marcelle, de 18, sonham com a universidade, se posicionam em campos ainda desconhecidos de profissões bem concorridas, mas encontram obstáculos justamente no que há de mais real até o momento: a formatura no ensino médio. A conta é simples: sem esse último ingrediente, nada de passos mais largos.

As três compartilham com estudantes de 715 escolas de Minas Gerais em greve total ou parcial o drama de ver o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) bater à porta e as inscrições dos vestibulares serem abertas sem qualquer perspectiva se terão pelo menos um diploma na mão.

A greve entra hoje no 72º dia (40º letivo) e, para quem não quer perder a oportunidade, o jeito é correr por fora. E, nessas horas, haja malabarismo.

Na casa de Ana Paula Alves Silva, no Bairro Santo André, na Região Noroeste de Belo Horizonte, a mudança de rotina foi radical. A garota quer disputar uma vaga em direito na Universidade Federal de Minas Gerais, mas antes tem pela frente o Enem.

Para não deixar o sonho da filha cair por terra, a mãe, a empregada doméstica Cleuza Maria Silva, de 44 anos, está se desdobrando em trabalho extra. O dinheiro das roupas que ela passa fora do horário de trabalho é o complemento para pagar, além das despesas habituais, os R$ 153 de cursinho particular e R$ 115 de passagem para a menina.

“Ela sempre foi uma ótima aluna e agora estou com medo até de ela tomar bomba no colégio. Nem todos os pais têm condições de arcar com esse tipo de gasto, como é o meu caso. Ela fará inscrição na UFMG e ninguém me dará de volta o dinheiro, caso o ano letivo seja anulado. Estou tendo que tirar de uma coisa para pagar outra”, afirma Cleuza.

Ela diz que se a greve se arrastar mais está disposta a formar uma comissão de pais para cobrar providências dos grevistas e do governo.

A matrícula no cursinho foi resolvida de última hora, quando mãe e filha perceberam que o tempo de preparação para o Enem estava acabando. Ana Paula entrou num intensivo e começou as aulas no início deste mês.

“Eu não pensava nessa possibilidade, pois a escola (Instituto de Educação) estava boa. Mas foi a única que encontrei para recuperar. O ritmo está muito pesado e frequento aulas em plantões à noite e aos sábados, pois há matérias que não estudei no colégio”, relata.

A colega dela, Lorena Anita da Silva, moradora do Bairro Bom Jesus, também na Região Noroeste, pensou até mesmo em mudar de escola. O problema é que nenhum colégio aceita os alunos das escolas em greve, que só concluíram o primeiro bimestre.

“Estou de pés e mãos atadas, pois tenho medo de fazer cursinho e não me formar. Nem sei se farei a inscrição da UFMG, porque acho que será à toa”, diz a candidata a uma vaga em relações internacionais. O sonho de se tornar uma diplomata, por enquanto, está congelado: “Não tenho mais o que fazer, a não ser esperar. Tudo o que eu poderia começar no ano que vem terei de adiar para 2013. No fim, os únicos prejudicados somos nós, alunos”.

INDIGESTO
Marcelle Sabrine Alves Diniz, candidata a medicina ou direito, passa o dia em casa, com a irmã Ana Paula, de 10 anos, que também está sem aulas. Como a família não pode pagar um cursinho, o jeito é estudar por conta própria, pegando firme em matemática e história.

“Até hoje não fiz a inscrição na UFMG. Estou pensando em adiar para o ano que vem, pois, mesmo estudando 24 horas, preciso de uma base escolar”, diz. Adiar o sonho ainda soa algo indigesto para a adolescente: “A gente pagará o prejuízo, pois eles (os professores) já são formados e nós estamos apenas começando”.

Os professores decidiram anteontem manter a greve. A próxima reunião da categoria está marcada para quarta-feira. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) nega que haja possibilidade de anular o ano letivo e afirma que, na pior das hipóteses, o calendário de reposição, apresentado por cada escola, vai se estender 2012 adentro. Ainda de acordo com a SEE, 87 escolas estaduais aderiram ao movimento e 628 estão parcialmente paralisadas. O total de instituições é de 3.778.

Salários
O ministro da Educação, Fernando Haddad, foi incisivo sobre o salário base: “Não há mais o que discutir, o STF considerou constitucional o piso de R$ 1.187,14. Estados e municípios devem cumprir a Constituição”.

Os professores de Minas reivindicam piso de R$ 1.597,87, mas o Sind-UTE sinalizou que está disposto a negociar com base no valor proposto pelo MEC. A categoria informou que recorrerá da decisão que derrubou o mandado de segurança que impedia a contratação de professores substitutos

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