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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tempo na escola
27/12/2010
Meta do governo de ampliar a quantidade de colégios em período integral é elogiável, mas fórmula não é garantia de melhores resultados
O debate sobre educação tem melhorado de forma palpável no Brasil. Um dos avanços observados está no abandono de propostas com sabor de panaceia, como um dia já foi a de que tudo se resolveria com a adoção de ensino em tempo integral. A ideia tem mérito, mas não o poder de apagar as deficiências estruturais da rede pública de ensino.

Costuma-se citar, nessas discussões, o exemplo do Chile, país sul-americano com melhor desempenho em testes internacionais de conhecimentos dos estudantes. Associam-se os bons resultados ao fato de a maioria dos alunos cumprir jornadas ampliadas na escola. É um raciocínio, no entanto, duvidoso, ao estabelecer uma relação de causa e efeito.

Feita a ressalva, é auspicioso que o MEC tenha incluído entre as 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020 a de oferecer sete horas diárias de atividades em 50% das escolas oficiais de educação básica. O período habitual é de cerca de quatro horas.

É tão grave a insuficiência de aprendizado na rede, com os corolários de desmotivação, repetência e abandono, que mais tempo de contato entre mestres e alunos não causará prejuízos. Sobretudo se o período adicional for usado para acompanhamento dos estudantes com dificuldades.

Há que preservar algum realismo a respeito da pretensão do PNE, no entanto. Dados do MEC dão conta de que o número de escolas públicas com período integral aumentou 16% em um ano. Parece uma evolução excelente, mas cabe assinalar que se parte de um patamar baixíssimo.

Mesmo com o acréscimo, apenas 6% dos alunos das redes oficiais de ensino frequentam aulas em período ampliado. Naquele ritmo, ao final da década coberta pelo plano só pouco mais de um quarto dos estudantes contará com esse benefício.

Além disso, há o problema da carência de pessoal para suprir o aumento da demanda por horas de aula. Nas condições atuais, o país já não consegue formar e atrair professores com a qualidade e em quantidade necessárias, em especial no campo das ciências naturais e da matemática.

Não é demais lembrar que ao final do ensino médio só 9,8% dos estudantes atingem os índices desejáveis de conhecimento de matemática e a formação secundária só é completada por 45% dos jovens de 19 anos -idade correta para concluir o ensino médio.

A educação brasileira tem, portanto, problemas em demasia e está a exigir soluções integradas. Mas não se pode passar ao largo de uma questão primordial: nenhuma melhora duradoura será obtida sem que se consiga atrair para ministrar as aulas -em período integral ou não- boa parte dos mais talentosos egressos das universidades.

Países que registraram avanços importantes na educação, como é o caso da Coreia do Sul, desenvolveram políticas para recrutar docentes entre os mais bem formados no ensino superior. É um objetivo que não será cumprido no Brasil caso persistam as atuais políticas salariais e as condições precárias da escola pública.
Educação financeira entra no currículo de escolas públicas a partir de 2012
27/12/2010
 
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
Orçamento doméstico, poupança, aposentadoria, seguros e financiamentos farão parte oficialmente do currículo das escolas públicas a partir de 2012.
O governo federal editou, na semana passada, um decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, uma série de iniciativas pedagógicas voltadas às escolas e a adultos com o objetivo de erradicar o analfabetismo financeiro no país.
Neste ano, 410 escolas públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Tocantins e Distrito Federal iniciaram aulas de um projeto-piloto de educação financeira, que deverá chegar a mais de 200 mil instituições de ensino oficial.
Em 2011, o projeto-piloto testará uma metodologia de educação financeira voltada para escolas públicas do ensino fundamental.
Os educadores desenvolveram conteúdos adaptados de educação financeira para todas as nove séries do ensino fundamental e as três do ensino médio.
O conteúdo de educação financeira será distribuído nas aulas de matemática, história, ciências sociais e até português. Não haverá uma disciplina específica para educação financeira.
A educação financeira nas escolas é incentivada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e faz parte do currículo escolar de mais de 60 países.
As diretrizes são resultantes do trabalho conjunto de entidades do mercado de capitais -como Febraban (bancos), Anbima (bancos e gestores) e BM&FBovespa e dos reguladores CVM (ações e títulos de dívida), BC (bancos), Susep (seguros) e Previc (previdência).
CURSOS PARA ADULTOS
Além da educação formal nas escolas, também estão previstas a modulação de cursos à distância e iniciativas de treinamento em finanças pessoais voltadas para adultos.
Segundo José Linaldo Gomes de Aguiar, secretário de relações institucionais do Banco Central, serão criados cursos a distância voltados para adultos, que ensinem a organizar o orçamento doméstico, a planejar a aposentadoria e a utilizar bem os financiamentos.
O BC tem um curso presencial modulado de 20 horas, que leva a universidades e a organizações.
"O importante é que as pessoas sejam bem informadas e tenham consciência de suas decisões. São assuntos simples, que fazem muita diferença para algumas pessoas", disse Aguiar.
Uma pesquisa nacional realizada em 2008 com apoio da BM&FBovespa mostrou que é muito baixo o grau de educação financeira da população brasileira.
Na pesquisa, três em cada dez entrevistados declararam pagar apenas o valor mínimo da fatura do cartão de crédito quando a situação aperta. Já algum tipo de restrição cadastral por falta de pagamento na praça foi a situação observada em 25% dos entrevistados.
Por outro lado, 69% dos pesquisados afirmaram fazer algum tipo de planilha para acompanhar os gastos da família, e 66% disseram que guardam os comprovantes de suas compras.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

''Devemos valorizar o sucesso do aluno''
20 de dezembro de 2010 | 0h 00
 
 
Escolas públicas e notas baixas em avaliações atualmente soam como sinônimos no Brasil. A infeliz associação, no entanto, não existe em muitos países e deixou de ser realidade na Brockton High School, no Estado norte-americano de Massachusetts. A escola foi considerada um fracasso escolar por anos, mas conseguiu reverter a situação com um projeto baseado na alfabetização dos estudantes e na valorização das conquistas por eles obtidas. Hoje, tem ótimas notas nas avaliações estaduais. Um dos diretores assistentes da escola, Matthew Crowley, que esteve no Brasil em evento da Fundação Lemann e da Universidade Anhembi Morumbi sobre reformas educacionais e escolas públicas, concedeu a seguinte entrevista ao Estado.
Como é o projeto que levou à recuperação da Brockton High School?
Para criar mudanças relevantes, adotamos um lema de não deixarmos absolutamente nenhuma criança para trás nessa reforma. Discutimos formas de envolver as comunidades onde elas são frequentemente ignoradas. Também enfatizamos a importância de se ter equipes de liderança nas escolas - o que deve ser expandido para cidades e Estados, em maior proporção. E, principalmente, demos início à nossa iniciativa de alfabetização. Já faz mais de uma década - começamos em 1998. Percebemos que o caminho era esse pelos resultados dos testes estaduais, que indicaram que a maioria dos nossos alunos estava falhando.
E o que foi feito?
Em 1998, um pequeno grupo de professores começou a trabalhar em soluções que elevaram o nível de expectativas de todos os alunos sobre si mesmos. Isso foi essencial porque, na época, havia um pensamento comum entre os estudantes de que eles tinham o direito de falhar. Era OK ser reprovado. No entanto, os péssimos resultados dos testes eram inegáveis e nós os encaramos como uma oportunidade para começar a mudar essa cultura dentro da escola. Formamos o que hoje é conhecida como uma comissão de reestruturação e decidimos que o nosso principal foco seria a alfabetização. Permanecemos focados nela e, pelos últimos 12 anos, isso tem transformado a nossa escola por causa da fidelidade que temos a esta iniciativa.
É possível usar essas lições aprendidas pela Brockton High School no sistema público de outros países, como o Brasil?
Definitivamente, é possível ter sucesso educativo similar no Brasil. Na época em que começamos, não havia nenhum atalho para o nosso sucesso - ele é o produto do trabalho duro ao longo dos anos. Essas reformas são relevantes para o Brasil porque tratam diretamente de como mecanismos modernos de gestão podem ser implementados em contextos informais - como uma escola - comumente considerados "inadministráveis".
No início do mês, foram divulgados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Brasil vem melhorando, mas ainda somos um dos piores países em educação. Como você vê isso e como podemos utilizar a sua experiência como um bom exemplo?
Assim como usamos o desempenho ruim nos testes para detectarmos as falhas na Brockton High School, as notas do Pisa podem servir como uma oportunidade para o Brasil se ver no espelho e optar por reformas. Costumo citar uma frase do autor Jim Collins, que diz: "Devemos enfrentar a realidade nua e crua."
Atividades extras, como esportes e passeios culturais, podem ajudar a tornar a escola mais atraente?
O projeto de elevar a autoestima dos alunos com alfabetização em todas as classes incluiu disciplinas eletivas, tais como arte, música, educação física, etc. Os efeitos têm sido poderosos nos próprios alunos. Muitos estudantes florescerem nessas aulas eletivas, e é por meio dessas aulas que acabam se engajando na escola.
Como podemos motivar os jovens e ensiná-los a acreditar em si mesmos e na escola?
Parte da motivação dos nossos alunos vem, é claro, da meta comum de ir para a faculdade. Mas nós devemos celebrar o sucesso escolar dos nossos alunos durante todo o ano. Por exemplo: temos uma cerimônia, que chamamos de "assembleia de honra", após o encerramento de cada período, para reconhecer realizações acadêmicas dos estudantes. Além dessas assembleias, costumamos organizar shows de talentos que contam a participação dos funcionários - inclusive eu.
Você se sente satisfeito com os progressos da escola?
Criamos uma cultura de sucesso escolar. Os professores são motivados a ver os alunos atingirem seus objetivos acadêmica, atlética e artisticamente. Estou orgulhoso do que conseguimos.
QUEM É
Matthew Crowley atua como diretor assistente da Brockton High School. Ele trabalha na escola há 14 anos, quando começou sua carreira como professor de história. Percebendo os altos índices de fracasso da instituição nas avaliações estaduais, Crowley ajudou a reorganizar a escola, investindo na alfabetização e na motivação dos alunos. Hoje é visto como um dos responsáveis por alavancar a qualidade do ensino.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Novo governo acredita que faltam 30 mil professores
Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2010
O futuro secretário de Educação do Paraná, o vice-governador eleito Flávio Arns, disse ontem que a equipe de transição do governo acredita que faltam 30 mil professores e funcionários administrativos nas escolas da rede no estado. A declaração foi dada ao telejornal ParanáTV, da RPCTV. Arns anunciou também que há muitos problemas nas escolas, principalmente ligados à falta de segurança e documentação. “Algumas sequer têm alvarás para funcionar”, disse.
Nesta semana o setor de educação do estado viveu momentos de turbulência. O motivo é que o atual secretário de Educação, Altevir Rocha, convocou os professores licenciados, que integram o PDE, para voltar às escolas, para resolver o problema da falta de professores. A APP/Sindicato, uma das entidades que representam a categoria, não gostou da ideia e ingressou na justiça para manter os professores afastados.
A entidade acredita que o governo tem como resolver o problema sem precisar mexer com os professores licenciados. Segundo Arns uma solução que adotará, a partir de janeiro, quando assumirá, será agilizar a contratação dos professores aprovados em concurso realizado há 3 anos e que ainda não foram chamados.
O futuro secretário disse também que irá realizar um mutirão para reformar 1.500 estabelecimentos de ensino. “Vamos tomar todas as iniciativas para que estas medidas sejam desencadeadas já no início do governo”, comentou.
Até o final da tarde de ontem ainda não havia saído nenhuma decisão judicial sobre o pedido da APP/Sindicato contra a decisão do governo do estado.