PESQUISA

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Educadores apontam riscos da reforma paulista

26/08/2013
Mais Educação. Para pesquisadores, além do perigo de aumento nas taxas de reprovação, novas possibilidades de retenção, provas e lição de casa não necessariamente vão resolver o problema de aprendizado dos alunos; mudança de currículo pode afastar o professorResgatar boas ideias e intro­duzir novidades. Essa foi uma das formas com que o prefeito Fernando Haddad (PT) resumiu o programa de reforma da educação munici­pal, anunciado este mês. En­tretanto, mais do que resga­tar e inovar, o plano terá de ser capaz de fazer funcionar medidas conhecidas e até existentes na rede, mas que encontraram dificuldades pa­ra se tomarem, efetivas para a melhoria do aprendizado.
A linha geral do programa é aumentar a exigência para os alunos do ensino fundamental, acompanhando desempenho, oferecendo recuperação e, caso não haja jeito, reprovando quem não progrediu. A reforma aumenta de dois para cinco anos as chances de retenção - medida criticada pela maioria dos especialistas, que receiam aumento nos índices de repro­vação, que só puniria quem tem mais dificuldades e que pode re­fletir em abandono da escola. Nas estratégias para o acom­panhamento surgem as boas ideias a resgatar, citadas por Haddad. Provas e boletins bi­mestrais e lição de casa obriga­tória. Atualmente, a aplicação de provas e lição de casa ficam a critério de cada professor.
Para a pesquisadora em Educação Paula Louzano, doutora pela Universidade de Harvard, a maioria das ações propostas tem grande risco de não se consolidar porque não deve resol­ver o problema de aprendizado. "Pesquisas internacionais mos­tram que, geralmente, as melho­res medidas para a educação são as mais complexas. Porque a educação é complexa. Ter pro­va bimestral, por exemplo, de­pende do tipo de avaliação, do que se faz com ela", diz.
Paula afirma ainda duvidar da forma como a Secretaria de Educação vai acompanhar as iniciativas e completa: "A sensação ao se lançar uma reforma é a de que nada estava acontecen­do antes na rede, o que não é verdade".
A recuperação também será um desafio no novo plano. A im­plementação de reforço no contraturno na rede já esbarrou em problemas de estrutura e de falta de educadores.
Professorado Instituto Supe­rior de Educação Vera Cruz, Ma­ria José Nóbrega participou como consultora de um dos programas de reforço em leitura da rede nos últimos três anos. "Além da falta de professores, as escolas não tinham como acomodar os alunos, não havia sala nem transporte. A gente não conseguia fidelizar os alunos. A família não deixava ficar por­que não tinha como voltar para casa", diz ela, que atua como as­sessora em programas de forma­ção do Ministério da Educação.
Ciclos. Maria José elogia a or­ganização da proposta, mas aponta algumas lacunas. O pon­to principal é na divisão dos ciclos - antes separados em dois, passaram a ser divididos em três: Alfabetização (1.° ao 3.0 ano), Interdisciplinar (4.0 ao 6.° ano) e Autoral (7,0 ao 9,0 ano). "O único que a gente conse­gue vero que será é o de alfabeti-
; zaçao, porque os outros dois ei­dos são uma. caixa-preta", diz. Ela aponta também o risco de abandono de currículos. "A edu­cação tem de apostar a longo prazo. Ao desmontar urna pro­posta e colocar outra, isso passa para o professor que ele não pre­cisa se aplicar com aquilo, por­que logo vai mudar de novo."
O professor de Artes, Fabiano Chrisostomo, de 29 anos, afir­ma ver o projeto de reforma do ensino municipal com otimis­mo, "A possibilidade de retenção em mais anos vai aumentar o comprometimento do aluno e do professor com o aprendiza­do. Ajuda a entender melhor o papel da escola", diz ele, que leciona em uma escola de São Ma­teus, zona leste de São Paulo.
A pesquisadora Vanda Ribei­ro, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (CENPEC), ressalta que o processo de implementação é essencial. "Depende muito do arranjo dos pro­cessos de ensino, aprendizado, relação com currículo e planeja­mento. O tiro no pé será se a secretaria não tiver estratégia bem delineada de como vai evi­tar o aumento da reprovação", diz. "Será necessário mexer no jeito de fazer e vai depender muito do diálogo com a rede."
Segundo o secretário de Edu­cação, Cesar Callegari, o traba­lho para ouvir as propostas dos educadores está se intensifican­do. "Estamos olhando todas as contribuições, alertas e vários pontos serão retocados. Mas a secretaria tem convicção forte no que anunciamos", diz.
Participação
15/9
é a data final para oferecer sugestões para o Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de São Paulo, o Mais Educação
2.488
sugestões e comentários foram encaminhados pela internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário