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sábado, 1 de junho de 2013

Formulário do Enem discrimina doméstica

 
01/06/2013

EDUCAÇÃO Questionário socioeconômico aplicado a estudantes inclui "empregada mensalista" ao lado de eletrodomésticos entre itens que os candidatos possuem em casa
RIO - Quase dois meses após a aprovação da PEC das Domésticas, que ampliou os direitos trabalhistas da categoria, um questionário aplicado a candidatos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2013 causou desconforto entre alunos, empregadas do ramo e o Ministério da Educação (MEC).
No ato da inscrição, os estudantes precisaram responder a questionário socioeconômico com itens como a renda mensal familiar e a escolaridade. No entanto, na questão número 7, o candidato deveria assinalar, entre os itens na lista, quais ele possui em casa. Na relação, entre objetos como TV, geladeira, aspirador de pó, automóvel e computador, surge a opção "empregada mensalista".
O questionário foi criticado pela categoria: "É um ato discriminatório porque nos reduziu a objetos. Não foi perguntado se na casa do aluno havia pais, filhos ou parentes. Só objetos e as empregadas domésticas. E o mais grave é que quem elaborou esse questionário são pessoas ligadas à educação, formadores de opinião. Será que eles ensinam para as crianças que empregadas são utensílios domésticos?", questiona a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza de Oliveira.
Em nota, o MEC reconheceu o problema. O órgão afirmou que "o ministro Aloizio Mercadante considera que a forma da pergunta que se refere a trabalhadores domésticos é inadequada e vai encaminhar a necessidade de sua adequação, preservando os critérios técnicos, mas garantindo integralmente o respeito àqueles trabalhadores".
O questionário é aplicado aos candidatos do Enem desde 1998. O formulário serve para o MEC avaliar o perfil de quem faz o exame e, com base nisso, elaborar políticas educacionais.
De acordo com a socióloga Maria Salete Souza de Amorim, coordenadora do curso de ciências sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pergunta deveria ter sido feita separadamente: "Dentre os itens apresentados, constam apenas objetos, portanto, não cabe o item "empregada mensalista". Seria necessário criar outra questão com outras categorias para inserir essa informação", observou.
Já o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em questionários socioeconômicos, considera "exagerada" a polêmica criada. Ele concorda, no entanto, que a pergunta específica sobre empregada mensalista poderia ter sido feita separadamente.
"Não necessariamente isso deve ser interpretado como posse de bens materiais, pois "ter em sua casa" pode assumir no português a ideia de haver, existir, encontrar etc... Como hipótese, poderia haver a alternativa "empregada mensalista" separadamente", sugere Alavarse.




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