EDUCAÇÃO Questionário socioeconômico aplicado a
estudantes inclui "empregada mensalista" ao lado de eletrodomésticos
entre itens que os candidatos possuem em casa
RIO - Quase dois
meses após a aprovação da PEC das Domésticas, que ampliou os direitos
trabalhistas da categoria, um questionário aplicado a candidatos que vão
prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2013 causou
desconforto entre alunos, empregadas do ramo e o Ministério da Educação
(MEC).
No ato da inscrição, os estudantes precisaram responder a
questionário socioeconômico com itens como a renda mensal familiar e a
escolaridade. No entanto, na questão número 7, o candidato deveria
assinalar, entre os itens na lista, quais ele possui em casa. Na
relação, entre objetos como TV, geladeira, aspirador de pó, automóvel e
computador, surge a opção "empregada mensalista".
O questionário
foi criticado pela categoria: "É um ato discriminatório porque nos
reduziu a objetos. Não foi perguntado se na casa do aluno havia pais,
filhos ou parentes. Só objetos e as empregadas domésticas. E o mais
grave é que quem elaborou esse questionário são pessoas ligadas à
educação, formadores de opinião. Será que eles ensinam para as crianças
que empregadas são utensílios domésticos?", questiona a presidente da
Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza de
Oliveira.
Em nota, o MEC reconheceu o problema. O órgão afirmou
que "o ministro Aloizio Mercadante considera que a forma da pergunta que
se refere a trabalhadores domésticos é inadequada e vai encaminhar a
necessidade de sua adequação, preservando os critérios técnicos, mas
garantindo integralmente o respeito àqueles trabalhadores".
O
questionário é aplicado aos candidatos do Enem desde 1998. O formulário
serve para o MEC avaliar o perfil de quem faz o exame e, com base nisso,
elaborar políticas educacionais.
De acordo com a socióloga Maria
Salete Souza de Amorim, coordenadora do curso de ciências sociais da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), a pergunta deveria ter sido feita
separadamente: "Dentre os itens apresentados, constam apenas objetos,
portanto, não cabe o item "empregada mensalista". Seria necessário criar
outra questão com outras categorias para inserir essa informação",
observou.
Já o professor da Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em questionários
socioeconômicos, considera "exagerada" a polêmica criada. Ele concorda,
no entanto, que a pergunta específica sobre empregada mensalista
poderia ter sido feita separadamente.
"Não necessariamente isso
deve ser interpretado como posse de bens materiais, pois "ter em sua
casa" pode assumir no português a ideia de haver, existir, encontrar
etc... Como hipótese, poderia haver a alternativa "empregada mensalista"
separadamente", sugere Alavarse. |
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