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sábado, 25 de maio de 2013

Abismos da instrução

 
25/05/2013
IBGE revela em estudo que as pessoas com nível superior de ensino ganham salários três vezes maioresANTONIO TEMÓTEO
O servidor público Luis Carlos Moura, 32 anos, procurou um trabalho em que pudesse conciliar uma boa remuneração, uma jornada equilibrada e estabilidade. Formado em direito, decidiu há sete anos fazer um concurso público e atualmente tem um salário bruto de R$ 9.675. “Acho que fiz a escolha certa e estou satisfeito com o que faço. Tive oportunidade de advogar em um escritório onde estagiava, mas a remuneração inicial era muito ruim”, afirmou.

Moura é um exemplo dos trabalhadores retratados nos dados divulgados ontem na pesquisa do Cadastro Central de Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), que analisou 5,1 milhões de organizações em 2011. O estudo revelou que, desse total de entidades, 0,4% correspondem ao setor público e são elas que pagam a maior média salarial do país: R$ 2.478,21. (veja arte ao lado)

Quem possui diploma universitário tem ainda uma renda média três vezes maior que os demais. Recebe R$ 4.135,06, enquanto o que não fez faculdade possui uma remuneração de R$ 1.294,70. Uma diferença de 219,4%. “Isso mostra que o nível superior é valorizado no país. Entre 2010 e 2011, foram criados 2,2 milhões de novos empregos formais. Desse total, 600 mil possuíam o terceiro grau completo”, disse a gerente da pesquisa, Denise Guichard Freire. “Nesse período, houve um aumento de 8,6% na contratação de pessoas que se formaram em uma faculdade”, completou.

Diferenças
A auxiliar de serviços gerais Daniela Dias, 34 anos, não teve a mesma oportunidade que Moura. Com o ensino médio completo, ela interrompeu os estudos, porque precisou trabalhar cedo para manter o filho, hoje com 16 anos. “Meu salário é de R$ 1 mil e sei que se tivesse feito faculdade poderia ter uma vida melhor”, lamentou. A auxiliar se enquadra no recorte dos trabalhadores com as menores remunerações, aqueles que desempenham atividades administrativas e serviços complementares, com ganhos médios de R$ 1.110,16.

A pesquisa do IBGE aponta ainda que o abismo de gênero prevalece na comparação dos salários em geral. As mulheres ainda ganham, em média, 25,7% menos que os homens. “Uma vergonha, numa altura dessa do campeonato, existir esse tipo de preconceito. Não é possível que as mulheres, mães de famílias, donas de casa e também trabalhadoras recebam menos que os homens”, criticou Daniela.

A gerente Denise, do IBGE, informou que, apesar de o país registrar os menores níveis de desemprego da história e uma formalização recorde, os setores que mais geram postos de trabalho, como a construção civil e o comércio, não pagam remunerações tão boas. “Esses salários são relativamente baixos em relação às demais ocupações. Não se pode comparar com as atividades no setor de eletricidade e gás, que avançam no território nacional e pagam em média R$ 5.567,73.”

Qualificação
No Distrito Federal, a remuneração é bem maior que no resto do país. A administração pública paga, em média, 10,8 salários mínimos ao servidor da capital federal. O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Complicada (Ipea) Mansueto Almeida explicou que o salário de entrada no serviço público é maior que na iniciativa privada, sobretudo no DF, porque abriga o Executivo federal.

Almeida destacou que a baixa taxa de desemprego faz com que a necessidade de mão de obra qualificada seja cada vez mais urgente para suprir necessidades históricas do país. “Com uma melhora dos níveis de educação, é possível corrigir essas distorções e diminuir as desigualdades. Atualmente, 85% dos postos de trabalho gerados são aqueles que pagam até dois salários mínimos. Precisamos mudar esse quadro”, explicou.

Para o professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, a única forma de mudar a distribuição de renda no país é diminuir a desigualdade na qualidade do sistema educacional, principalmente, entre o sistema público e o privado. Nessa equação, segundo ele, o trabalhador com uma formação precária, tem baixa produtividade e ele tende a ganhar menos. “Você pode fazer programas de transferência de renda. Mas, quando isso acaba, a pessoa volta a empobrecer. O Brasil precisa ter como principal objetivo a educação se quiser crescer a longo prazo”, comentou.

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