Burocracia e falta de senso de urgência dificultam implantação de
projeto que dá um micro por aluno
16/09/2010
Ana Okada
Em São Paulo
Em São Paulo
Demora para a liberação de verba por
parte dos governos e falta de "senso de urgência" dificultam para a
implantação de programas que dão micros a alunos carentes, tais como o
brasileiro UCA (Projeto Um Computador por Aluno), observa o presidente da OLCP
(One Laptop Per Child), Rodrigo Arboleda.
A organização defende que crianças
dos primeiros anos escolares deveriam ter, cada uma, um computador.
Arboleda compara a educação à
medicina: enquanto, na segunda, o paciente pode morrer se o atendimento demorar
para ocorrer, na educação, por não haver essa urgência, os projetos demoram
muito mais para tornarem-se realidade. "Como não há essa urgência, as
crianças seguem nesse obscurantismo medieval", ressalta.
Segundo Arboleda, o computador ajuda
o estudante a "aprender fazendo". Com isso, a memória retida torna-se
mais profunda, a concentração e a curiosidade aumentam e a criatividade é mais
estimulada. Quando levam o micro para casa, além dos alunos passarem a utilizar
mais o computador, sua frequência escolar e o tempo que passam na escola
aumentam. "Para nós, as crianças são uma missão e não um mercado; o
computador é só um veículo para a mudança da cultura", diz.
Ele finaliza fazendo outra analogia à
medicina: o projeto, para ele, deveria ser como uma vacina, que deve ser
aplicada em grande escala, num tempo pequeno, com uma grande cobertura da
população.
Brasil
No Brasil, a organização está
presente por meio do UCA, do governo federal, que deve distribuir 150 mil
computadores a 300 escolas até o final do ano. Para que esses micros saíssem do
papel, foi necessário haver duas licitações, uma em 2007, que acabou sendo
cancelada, e uma em 2010.
O país tem, via BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social), tem, atualmente, R$ 660 milhões
disponíveis para a compra de mais equipamentos, instalação de infraestrutura nas
escolas e capacitação de professores.
Os micros dados têm acesso à
internet, programas didáticos diversos e utilizam softwares livres e
"open-source": ou seja, podem ser programados pelos próprios
estudantes. O modelo de computador oferecido atualmente pelo governo custa R$
550.
O programa da OLPC, que foi
idealizado no MIT (Massachussets Institute of Technology), nos Estados Unidos,
já deu 1,5 milhões de computadores para crianças em 33 países, e 500 mil
computadores estão em vias de serem entregues. Uruguai e Peru, na América do
Sul, e Ruanda, na África, detêm o maior número de participantes -- mais de 1
milhão dos micros doados estão nesses países. Apesar dos números expressivos, o
programa deveria ter crescido muito mais, na opinião do presidente: "Deveria
haver 50 milhões de crianças atendidas. É muito difícil convencer os
governos... Muitos estão convencidos, mas não sabem como fazer", diz.
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