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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ALUNOS NÃO DOMINAM MATEMÁTICA E PORTUGUÊS
16/09/2010

Os estudantes paraibanos de Escolas da rede pública concluem o ensino médio com conhecimento em Matemática e Português inferior ao que se exige a quem está na última série do ensino fundamental
Fonte: Jornal da Paraíba (PA)

Fonte:
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/10543/alunos-nao-dominam-matematica-e-portugues


Os estudantes paraibanos de Escolas da rede pública concluem o ensino médio com conhecimento em Matemática e Português inferior ao que se exige a quem está na última série do ensino fundamental. O baixo desempenho atinge também os concluintes do nível fundamental, pois a pontuação média obtida pelos estudantes que terminam o 5º ano (antiga 4ª série) e por aqueles que finalizam o 9º ano (8ª série) ficou abaixo do que se considera adequado para as relativas séries.

Enquanto a pontuação mínima considerada ideal para os concluintes da 8ª série do fundamental na disciplina de Matemática é acima de 300, quem finalizou o ensino médionos colégios públicos do Estado conseguiu apenas 252,17 pontos no exame para avaliar o grau de conteúdo que o aluno teria na disciplina de cálculo. Se comparado com o patamar do que se espera para concluintes do ensino médio, a diferença aparece bem mais larga. Em Matemática, a pontuação mínima seria acima de 350.
Foi constatado que, em Português, as dificuldades também são grandes. Na escala de pontos mínimos para se considerar o aprendizado como apropriado para determinada série, a média alcançada pelos alunos do sistema público de ensino na Paraíba esteve abaixo do adequado em todas as séries analisadas. Um exemplo pode ser confirmado em alunos do 3º ano do ensino médio que tiveram uma média, na última avaliação aplicada, de 251,38, bem menor ainda do que se espera do resultado dos concluintes do fundamental, já que para quem terminou o ensino fundamental, esperava-se um resultado de 275 pontos na mesma disciplina.

 A média dos paraibanos, além de estar abaixo do considerado apropriado, tem ficado abaixo dos números nacionais. Para se ter uma ideia, na Prova Brasil/Saeb 2009 os alunos paraibanos conseguiram 264,16 pontos em Matemática (incluindo estudantes de Escolaparticular), enquanto que no Brasil a pontuação foi de 274,71, que também está menor que o esperado para esse alunado. 

Ainda com relação ao país, um levantamento feito por um jornal de circulação nacional identificou que um quinto dos alunos que terminam o ensino médio não sabe em Matemática o que se espera para um estudante do 5º ano do fundamental. Apenas 11% têm conhecimento adequado para este nível de ensino na disciplina. 

Os dados considerados nesta matéria foram levantados através dos exames Prova Brasil e Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), realizados pelo Inep/MEC, que abrange estudantes das redes públicas e privadas do país, localizados em área rural e urbana, matriculados nas 4ª e 8ª séries (ou 5º e 9º anos) do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio. São aplicadas provas de Língua Portuguesa e Matemática. As avaliações são feitas por amostragem.

Professores das duas disciplinas, consultados pela reportagem, explicam que muitos alunos enfrentam dificuldades principalmente quando chegam à 1ª série do ensino médio, por não terem passado por um fundamento sólido, ainda nos primeiros anos do ensino fundamental. Uma disciplina como Matemática se baseia na continuidade dos conteúdos e, se um aluno não aprendeu nos primeiros anos de sala de aula, ele vai sofrer na sequência dos assuntos seguintes. Docente há mais de 20 anos, Acciclero Lacerda disse que muitosalunos chegaram ao nível médio sem ter domínio das quatro operações, um assunto compatível para estudantes da antiga 4ª série. É comum, segundo o professor, estudantes passarem para o 1º ano do ensino médio sem saber resolver uma equação de primeiro grau, que se aprende na segunda fase do fundamental.
“Grande parte vem do ensino fundamental com um grave déficit de aprendizagem. Nessa fase, eles não adquirem o conhecimento necessário para estar na devida série. Tudo começa pelos erros na metodologia de ensino repassada pelas ‘tias’ das primeiras séries. O que resulta em alunos do ensino médio cheio de vícios de aprendizagem e não conseguem acompanhar os próximos conteúdos”, alertou.
 
Primeiros anos: resultado também é ruim
Se os estudantes concluem o ensino médio com desempenho abaixo do ideal para alunos que ainda estão nas séries do nível fundamental, o resultado nos primeiros anos de estudo também está aquém do que os órgãos estabelecem como satisfatório. A Prova Brasil mostra essa questão. As notas obtidas pelos concluintes dos anos iniciais (até o 5º) do ensino fundamental nas matérias Matemática e Língua Portuguesa, obtidas na avaliação em 2009, foram inferior à pontuação mínima estabelecida pelo Todos Pela Educação para essas séries.
 
Na disciplina de cálculos, os alunos precisariam conseguir pelo menos 225 pontos no exame, no entanto a nota da Prova Brasil/Saeb do ano passado foi 199,52 para quem passou pelasEscolas da rede pública de ensino espalhadas pelo Estado. No caso das Escolas privadas, o resultado foi bem melhor: os concluintes das séries iniciais do fundamental alcançaram 240,74 pontos em matemática, acima do índice elaborado pelo Todos Pela Educação.
Alunos de colégios públicos da Paraíba matriculados nas séries finais do fundamental sofrem com o mesmo problema. Apesar da evolução nos resultados nas avaliações do Ministério daEducação (MEC) de 2005 a 2009, as notas em Matemática e Português ainda foram baixas. Na rede pública, em 2009, os estudantes da 5ª à 8ª séries obtiveram 241,76 e 238,66 pontos, respectivamente. As pontuações mínimas nessas disciplinas (para alunos desses anos) são 300 e 275 pontos. 
 
Para o diretor de Gestão Curricular da Secretaria de Educação de João Pessoa, Marcelo Bandeira, o resultado do desempenho dos alunos da rede municipal segue em rumo contrário à pontuação identificada na média do Estado, segundo a Prova Brasil/Saeb. Ele explicou que a comprovação do bom nível dos alunos, nas disciplinas de Português e Matemática, aparece com as notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) obtidas pelo alunado das Escolas municipais. 
 
Bandeira explicou que o Ideb leva em conta os parâmetros da Prova Brasil e Saeb, e o bom resultado no índice comprova a adequação dos alunos para as séries que estão cursando. “Quase 80% das Escolas do município estão com nota 3, meta projetada para 2011, e 20% já contam com índices que estão previstos para 2013. João Pessoa atingiu as metas do Ideb e temos Escolas que se destacam entre as melhores do Nordeste e até do país, como é o caso do Colégio José Novais, que tem seis no Ideb, e a Aruanda, que obteve cinco na mesma análise”, ressalta.
Para atingir as metas do MEC, a Secretaria de Educação desenvolve ações e projetos que englobam os eixos administrativo, pedagógico e cultural. “Assim como a parte pedagógica, as esferas administrativas e a parte da cultura estão intrinsecamente ligadas ao processo ensino/aprendizagem dos alunos. Por isso, iniciativas como os projetos Escola Nota 10; Ano Cultural e o Futuro Visita o Passado foram implantados, visando a melhorar o desempenho do alunado”, citou o diretor. Um dos destaques é o projeto de apoio pedagógico que oferece suporte para os estudantes, desde as séries iniciais até o último ano do fundamental, a partir de convênio com a Universidade Federal da Paraíba. Atualmente, existem 70 milalunos, incluindo Educação de Jovens e Adultos, em 92 Escolas da rede municipal em João Pessoa. (JS)
 
Desinteresse causa a deficiência
Entre as deficiências apontadas como determinantes para o fraco desempenho dos estudantes paraibanos e também brasileiros, de acordo com especialistas no assunto, está a falta de aparelhamento das Escolas, deficiência no número de professores, baixa capacitação dos docentes, reduzido nível de aprendizagem na base (séries iniciais) e, em primeiro lugar, o antigo e prejudicial desinteresse dos próprios aprendizes. 
 
Limitações como déficit de equipamentos necessários para incrementar as aulas (computadores com acesso à internet e datashow) e o despreparo dos professores, em especial aqueles que atendem as séries iniciais, estão entre as principais causas das notas baixas dos alunos da rede pública. “Ficamos, muitas vezes, impossibilitados de ministrar aula por conta da falta de aparelhamento nas Escolas. Em um dos colégios onde trabalho, há somente três computadores para atender um universo de 40 alunos. Além disso, tem que ter professor capacitado para ensinar a base. Caso contrário, tanto o aluno quanto oprofessor enfrentará dificuldades nas séries seguintes. Às vezes, pensa-se que se trata de incapacidade do aluno, mas a questão está no preparo inadequado desde o início do aprendizado”, opina o professor Acciclero Lacerda.
A professora Verônica de Sá Tavares, que leciona Português em um dos maiores colégios públicos de João Pessoa, garante que a falha está na falta de interesse dos alunos. 
“Eles têm dificuldades em interpretação de texto. Tentamos trabalhar essa questão em sala de aula, mas não há motivação alguma na maior parte dos casos. Claro que existem aqueles que se destacam, mas é um número irrisório. Estamos no segundo semestre e muitos que estão no 3º ano, mesmo com o vestibular às portas, não demonstram qualquer esforço para aprender. Tem horas que a gente questiona: o que fazer?”, lamenta. 
FAMÍLIA
A inexistência de incentivo da família também colabora para que parte dos adolescentes não esteja seguindo com maior empenho nos estudos. Os assuntos da Língua Portuguesa onde os alunos encontram os maiores empecilhos na assimilação são interpretação de texto, redação, concordância, crase e emprego das palavras, conforme a professora Verônica.
 
A orientadora educacional Alda Soleide de Oliveira, que possui especialização em gestãoEscolar, confirmou que um grande número de alunos chega ao ensino médio com deficiência em assuntos básicos, vistos nas primeiras séries do fundamental. “Podem perguntar: como eles conseguem passar para outras séries? A resposta está no método de avaliação dos professores que se utilizam de trabalhos e outros meios, em detrimento das provas, a fim de beneficiar os estudantes”, avisa. Além de métodos de avaliação alternativos, os docentes costumam beneficiar os alunos que apresentam assiduidade, bom comportamento e participação nas aulas com pontos adicionais. Tudo para ajudar na nota final. (JS)
Reforço ajuda a ‘abrir a mente’
Aluna do 3º ano no Colégio Liceu Paraibano, Luana de Brito reconhece as dificuldades que tem na disciplina de Matemática e precisou recorrer a aulas de reforço para “abrir melhor a mente”. Hoje, a ajuda vem do irmão, que cursa Administração na Universidade Federal da Paraíba. A adolescente de 17 anos vai prestar vestibular para o curso de Serviço Social, justamente para fugir dos temidos cálculos.
Luana disse que outra barreira que prejudica o aprendizado está na falta de assiduidade dosprofessores em sala de aula. “Também enfrentamos problema com a mudança deprofessores. Este ano, já trocou pela terceira vez. O professor atual tem uma metodologia que considero atrasada, principalmente para quem vai se deparar com o vestibular em breve. O jeito é estudar em casa e compensar com a ajuda de outras pessoas”, conta.
O vice-diretor do Liceu, Manoel Gerald da Costa, que também é professor de Matemática, confirma a deficiência dos alunos paraibanos que estão no ensino médio e lembrou que o fenômeno é visto em todo o país. Os motivos, para ele, estão na desestruturação observada nas séries iniciais. “A eficaz assimilação dos conteúdos por parte dos alunos do ensino fundamental são primordiais para toda a vida Escolar e profissional do cidadão. Não se vê mais a cobrança como havia antes. Isso parte dos pedagogos, que se formam sem ter interesse nenhum na disciplina de matemática. Inclusive, eles escolhem o curso para fugir da disciplina”, destaca.
Stella Rossane, de 18 anos, faz parte da mesma turma de Luana e também sofre para apreender Matemática. Ela sempre estudou em colégios públicos e diz que a realidade seria diferente se tivesse tido acesso a Escolas particulares, onde acredita que a Educação é mais rígida. Confesso que não gosto de Matemática, pois tem muita fórmula. Mas acho que se estudasse na particular (escola) seria mais cobrada, teria mais atenção e o resultado seria melhor”, disse a estudante, que, apesar da aversão a Matemática, pretende conseguir uma vaga no curso de Ciências Contábeis na UFPB. 
O secretário de Educação do Estado, Sales Gaudêncio, ao ser questionado sobre as políticas para melhoria de desempenho dos alunos da rede pública estadual, informou que não poderia se pronunciar, por estar em férias. A secretária adjunta da Educação do Estado, Emília Freire, também não pôde falar sobre o assunto porque estava em viagem para Fortaleza, em um evento de interesse da Secretaria de Educação. 
 
Para comentar os resultados da Prova Brasil/Saeb, a reportagem entrou em contato com a gerente do Programa de Avaliação da Secretaria de Educação do Estado, Iara Andrade de Lima, que informou apenas o desempenho do Estado no Ideb (Índice de Desenvolvimento daEducação Básica). Ela destacou que o ensino público no Estado obteve excelentes resultados na avaliação em todas as séries, que usa a Prova Brasil como um dos parâmetros. “Nos anos iniciais, conseguimos 3.9, quando o previsto era 3.4. Nas séries finais do fundamental, ficamos com 3.2, enquanto que a meta do MEC era de 2.9. O ensino médio, o resultado foi de 3.4 ultrapassando o previsto que era de 3.1”, informou.
Como medidas para acelerar a aprendizagem dos alunos do Estado, a gerente destacou os programas de correção de fluxo Escolar, como o Acelera Paraíba, Circuito Campeão, que conta com parceria do Instituto Ayrton Senna, e Se Liga Paraíba. “Estamos investindo nas séries iniciais, pois entendemos que quando o aluno tem boa formação na base vai obter melhores resultados nas séries finais. Paralelo atuamos em uma linha de ações que vai desde ampliação na infraestrutura das unidades até a implantação de laboratórios de informática e distribuição de livros”, diz. (JS)

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