PESQUISA

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"Contra tendência, jovem deixa carreira de engenheiro e vira professor"

Fonte: G1
14 de outubro de 2016

Marco Angioluci, de 25 anos, celebra Dia do Professor empreendendo. Falhas na formação do ensino médio são alvo de 'startup' de ex-bolsista do Ismart.


Ex bolsista de um projeto que apóia jovens talentos, Marco Aurélio Angioluci, de 25 anos, deixou de seguir carreira na área de engenharia, para a qual estudava na Universidade de São Paulo (USP), para lançar-se em um projeto de vida: ensinar matemática, da tabuada às mais complicadas equações, a estudantes de colégios, cursinhos e universidades que têm dificuldade com os números.
Neste 15 de outubro, Dia do Professor, Marco e seus colegas de trabalho no cursinho-escola que fundou esperam que a iniciativa ajude a formar uma nova geração de jovens, que enxerguem a matemática como algo mais leve, simples e atrelado ao cotidiano.
"Ser professor deveria ser muito mais alguém formador de habilidades e capacidades do que um transmissor de conteúdo. Para mim, é uma oportunidade de formar gente melhor que eu.”
Para isso, Marco aposta em retomar, nas duas salas que seu recém-criado cursinho-escola ocupa, em um prédio comercial da Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, o ensino de matemática em sua raiz, tentando recuperar déficits de aprendizado adquiridos no colégio e combatendo vícios de estudo, como a pressa dos vestibulandos ou eventuais acomodações.
"O aluno precisa ter o pensamento correto. O aluno não tem que saber resolver um problema em três minutos, ele tem de ter a capacidade e resiliência de ficar três horas em um problema, se for necessário"
“O aluno precisa ter o pensamento correto", diz o professor. "O aluno não tem que saber resolver um problema em três minutos, ele tem de ter a capacidade e resiliência de ficar três horas em um problema, se for necessário", adiciona.
Essa visão vem da história acadêmica de Marco. Aluno de escola pública na infância, ganhou uma bolsa de estudos por meio do Ismart e pôde concluir o Ensino Médio no Colégio Bandeirantes, tradicional escola particular da capital paulista.
A transição chamou a atenção do então estudante não só pela diferença na qualidade de conteúdo: “era muito mais puxada”, ele recorda. Mas também pelos problemas vistos na rede pública, na qual avalia sem vaciliar que “o ensino era muito defasado”.
Morador de Cajamar, na Grande São Paulo, Marco acordava todos os dias às 4h da manhã para chegar ao colégio a tempo da primeira aula. "Eu chegava em casa era 19h30 da noite. Era puxado, mas eu gostava. Era o famoso nerd", brinca. O esforço deu retorno: Marco foi de primeiro aluno em sua turma na escola pública para primeiro aluno em sua turma no Bandeirantes, e saiu do colégio direto para o curso de Engenharia Mecânica, na USP.
Na universidade, o então estudante passou a envolver-se com ONGs, dar mais e mais aulas particulares de matemática (atividade que ele exerce há mais de nove anos), e a amadurecer o sonho de empreender na área da educação. Deixou a universidade e acreditou que havia chegado o momento de tirá-lo do papel. Depois de alguns empréstimos bancários e feitos por amigos, nasceu o Desempenho Máximo.
Hoje já em sua oitava turma, o cursinho-escola ainda enfrenta dificuldades próprias de todo negócio recém-criado. Com uma equipe de cinco pessoas, Marco divide sua responsabilidade de gestor, principalmente, com seu sócio e colega professor, Felipe Müller, de 20 anos.
"Minha missão é passar matemática de uma forma que não foi passada para mim", diz Felipe. "A gente quer ouvir o que eles têm para falar, a gente quer deixar que eles falem também, quer poder desenvolver outras habilidades emocionais, enfim".

'Prefiro sair do meu cursinho e vir para cá'

De acordo com o estudante Yohannes Nunomura, de 20 anos, foi essa preocupação com o aspecto humano do ensino que o fez passar a estudar matemática com Felipe, na Desempenho. Em seu terceiro ano de cursinho pré-vestibular, ele conjuga aulas nos dois lugares e crava, sem rodeios: "eu prefiro sair do meu cursinho e vir para cá, porque eu sei que aqui eu vou aprender muito mais".
Yohannes se lembra de uma vez em que, depois de tentar diversas vezes a resolução de um problema, voltou para casa frustrado só para encontrar uma mensagem de Felipe no celular. "Ela dizia: 'cara, não desanima, tem uns conteúdos que a gente pega fácil, tem outros que não'. Eu nunca tinha tido isso, um professor que realmente se importasse", disse.
Para Marco, isso se dá por diversos problemas culturais do sistema de ensino brasileiro, da falta de motivação e preparo de muitos professores, à falta de reconhecimento e incentivo de esforço dados aos alunos. Sobre possíveis alternativas ao modelo atual, como a reforma no Ensino Médio proposta pelo governo federal, ele não se anima.
“Eu não acho que uma medida provisória vai transformar a forma como o professor aqui do colégio dá aula há 30 anos", afirma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário