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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Professor cria ‘escola de inglês comunitária’ dentro da escola

03 de Fevereiro de 2016

Fonte: Porvir

Eu já tinha o sonho de criar um projeto de inglês, mas a participação no PDPI – BET USA (Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Língua Inglesa nos Estados Unidos) me possibilitou dar início a um trabalho na Escola Estadual Francisco Almeida Monte, em Fortaleza. Como contrapartida da viagem, teria que aplicar os conhecimentos do programa em uma ação dentro ou fora da escola. Com o comprometimento e a minha vontade, propus a criação de um projeto que tem a língua inglesa como foco para a inserção de alunos que não têm condições de pagar um curso de idiomas.
O projeto é configurado da seguinte maneira: ele é totalmente voluntário. O aluno é convidado, mas não é obrigado a participar. Todo começo de semestre, eu circulo pela escola e passo por todas as salas para convidar os alunos. Além disso, também tem a questão de abrir a escola para as pessoas da comunidade entrarem, inclusive de outras escolas. Quero que eles percebam que a escola pública também tem o seu valor. Ela não é uma escola que deve ser abandonada. Temos alunos que não são da escola, como trabalhadores, estudantes do ensino superior e até aqueles que não estudam. Não existe nenhum tipo de restrição.
Eu tento inserir todos os alunos na escola pela sua dificuldade de falar, ler e compreender a língua. A carga horária escolar para língua estrangeira é muito reduzida e a realidade do número de alunos por sala é muito difícil para o professor. Dessa maneira, de forma voluntária, eu trago os alunos que realmente se interessam pela língua, dando a oportunidade deles escolherem participar.
Arquivo Pessoal / José Maurício Santos da Silva
Comecei em 2013 e hoje já tenho quase 50 alunos. Só não tenho mais por não conseguir abarcar sozinho. Meu desejo é que a secretaria de educação possa ver o meu projeto como uma possiblidade de inserção e consiga me ajudar a trazer mais pessoas para aumentar seu alcance.
Atualmente, tenho três turmas e estou começando a abrir a quarta. Aos sábados acontecem duas, das 8 às 10h e das 10 às 12h. Após um ano e meio, a primeira já está um pouco mais avançada e consegue ler e contar coisas em inglês, enquanto a segunda turma já consegue dar informações e escrever textos lógicos. A terceira foi iniciada no final do ano passado, às terças, no período noturno.
Todas as atividades são direcionadas à comunicação e compreensão oral. Trabalho em torno de várias teorias e sempre procuro trazer pessoas que tenham relação com o idioma para aumentar o interesse dos alunos. Já tivemos até a visita de um cônsul-geral de Recife. Isso é muito bom porque o aluno vai vendo e procura saber mais sobre a língua. Desde o início, pessoas maravilhosas têm participado do projeto. A última foi uma professora universitária norte-americana Susan Sunflower, que esteve no Brasil para fazer um curso com professores.
Eu ainda gostaria muito de criar um laboratório para trabalhos de interação via internet. Nós fizemos isso duas vezes com uma ex-professora minha, da Universidade do Colorado. Combinamos o fuso horário e colocamos os alunos dela, futuros professores de inglês, para conversar com os meus alunos que estão aprendendo o idioma. Eles faziam várias perguntas e davam respostas, tudo em tempo real, com imagens, por meio de videoconferências.
Essa atividade costuma acontecer no final do semestre. Temos o cuidado de fazer uma coisa dirigida, em que o professor organiza e acompanha os diálogos. Se um aluno está aprendendo a descrever pessoas e lugares, por exemplo, as perguntas são direcionadas nesse sentido, mas são sempre reais. Durante as aulas, eu também uso filmes de curta duração. Após exibi-los, os alunos precisam falar sobre eles ou escrever um resumo em inglês.
O projeto também busca trazer o envolvimento da família. A cada turma que começo, chamo os pais dos alunos interessados. O aluno só tem a vaga se a família estiver presente na reunião.
Conversando com a professora norte-americana Susan, contei a ela que o projeto não tem apenas uma linha definida. Minha sala é um mundo aberto onde tudo pode acontecer. Acho que isso é uma coisa legal, porque é vivo. Eu adoto um material, mas não obrigo o aluno a comprar. Deixo apenas como indicação se ele quiser se aprofundar. Além disso, também criei um site para o curso, onde coloco links de jogos e vídeos com músicas. Dentro do Facebook, mantemos um grupo fechado para dar dicas e conversar sobre desempenho.
O objetivo do projeto é fazer o aluno falar a língua, a grande dificuldade da escola regular. Embora o trabalho seja a longo prazo, os resultados já são positivos. Tenho tudo anotado e percebo que os alunos já estão progredindo.

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