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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Opinião: Maioria dos alunos cariocas admite já ter colado e copiado trabalhos

 30 de Setembro de 2015

"A correlação entre a frequência de pequenos desvios éticos no ambiente escolar e a grande corrupção existente numa sociedade parece não ser tão espúria assim", afirma Antônio Gois

Fonte: Blog do Antônio Gois - O Globo Online
Em junho deste ano, um doutorando da UFMG que começou a dar aulas na graduação da universidade fez um post em seu blog pessoal (veja aqui) relatando sua frustração com o que chamou de postura corrupta enraizada nos alunos e na comunidade acadêmica. Mesmo num ambiente universitário, estudantes abusavam de recursos ilícitos como colar nas provas, copiar trabalhos e assinar lista de presença em nome de outros. Boa parte dos jovens, dizia ele, não era movida pelo desejo de conhecimento. Sugestão de livros, exercícios, trabalhos... tudo isso só fazia sentido para os alunos se houvesse algo em troca, no caso, pontos na nota final para facilitar a aprovação na matéria.
Inspirada por esse post, a coluna sugeriu ao Laboratório de Práticas de Pesquisa da UniCarioca que investigasse, na cidade do Rio, a ocorrência desses comportamentos em sala de aula. A sugestão, prontamente aceita pela instituição, deu origem à pesquisa Pequenas Infrações nas Salas de Aula, que ouviu em agosto 1.100 cariocas, a grande maioria deles estudantes dos ensinos médio e superior com idades entre 16 e 30 anos.
A maioria dos respondentes (58%) admite, por exemplo, que já pediu a colegas para colocar seus nomes em trabalhos de grupo mesmo sem ter contribuído com a realização dos mesmos. Outros 74% dizem que já fizeram isso em favor de outro colega.
De vez em quando, a opinião pública se choca com imagens de deputados em plenário assinando presença em nome de outros colegas. Mas a prática é comum também nas escolas, tendo sido admitida por 59% dos respondentes na pesquisa.
Do ato individual de colar numa prova ao de desviar milhões de cofres públicos vai uma distância gigantesca. Mas a correlação entre a frequência de pequenos desvios éticos no ambiente escolar e a grande corrupção existente numa sociedade parece não ser tão espúria assim. Em 2013, a pesquisadora Aurora Teixeira, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, publicou na revista científica “Journal of Academic Ethics” estudo baseado numa amostra de 7.602 alunos de economia e administração de 21 países (o resumo pode ser lido aqui). Ela identificou que a prática de colar em provas nesses cursos universitários variava muito entre países (o Brasil, infelizmente, estava entre os maiores percentuais da lista) e que havia alta correlação entre essas taxas e indicadores gerais de percepção de corrupção nas sociedades analisadas. Para ela, a “reprodutibilidade e a persistência ao longo do tempo de comportamentos desonestos mostram que é perigoso ignorar as trapaças num ambiente acadêmico."
Voltando ao levantamento da UniCarioca, ao fim, os pesquisadores perguntaram aos entrevistados quais seriam os responsáveis pelas práticas de corrupção em sala de aula. Apenas 41% disseram que os culpados eram os próprios alunos. A maioria apontou para outros atores: o professor ou instituição acadêmica que não estimulam a aprendizagem; o sistema educacional que precisa ser modernizado, ou mesmo a falta de investimento do governo no ensino. Também na educação, o inferno são os outros.

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