Fonte: Nota 10
“A gente fica feliz com a gente mesmo”. É assim que João*, 18 anos, se refere à aprovação para a segunda fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Assim como ele, mais de888

Para João, no entanto, a alegria com o bom resultado representou uma conquista a mais. Nas próximas semanas, quando o adolescente deixar a unidade da Fundação Casa, onde cumpre há nove meses medida socioeducativa de internação, ele vai levar um novo estímulo para recomeçar a vida ao lado da família.
Agora, João espera concluir os estudos com um supletivo do ensino médio e tentar uma faculdade. “Eu ainda tenho vontade de fazer engenharia. Sempre fui bom com leitura e matemática, mas não via os meus valores. Antes de eu entrar aqui, queria ser veterinário”, disse o jovem, que também pensa em estudar direito.
Além de João, 558 adolescentes internados na fundação foram aprovados para a segunda fase. É o melhor resultado do órgão desde que começaram as olimpíadas. Na unidade em que João está, no Brás – zona leste da capital paulista –, dos 12 alunos que fizeram o teste, cinco foram classificados.
Pedro*, 17 anos, também se sentiu mais motivado com a aprovação. “Ter passado pela segunda [fase] já foi importante. Lá fora, eu não achava que ia conseguir passar numa prova importante assim. Aqui dentro, eu consegui. Eu ia até tentar [se estivesse lá fora], mas não ia me esforçar tanto”, contou.
Ele espera receber a notícia sobre o desempenho na prova já fora da fundação. “Tem meu filho lá fora que nasceu, e eu não vi. Mas foi bom parar para pensar. Estou pronto para ir embora. Vai fazer nove meses que estou aqui”. Quando foi internado, a mulher de Pedro estava com um mês de gestação.
A gerente escolar da Fundação Casa, Neuza Flores, destaca que a instituição busca inserir os adolescentes em atividades como esta, pois elas contribuem para fazê-los readquirir o interesse pelo aprendizado.
“Uma grande dificuldade que a gente tem aqui na chegada é fazê-los compreender a importância do conhecimento. Muitos têm muita dificuldade, mal conseguem ler e escrever. É preciso convencê-los da importância da aprendizagem”, diz Neusa Flores.
Ela acredita que o reconhecimento em competições como a Obmep eleva a autoconfiança dos jovens. “É extremamente motivador, porque eles se sentem capazes. É uma forma de estímulo para a escola”.
Neuza explica que, além da contribuição à aprendizagem, essas atividades ajudam em outros aspectos, como o vínculo familiar. “Independentemente de estar dentro ou fora da fundação, que família não fica feliz de saber que seu filho passou para segunda fase?”.
João ficou feliz em compartilhar a notícia com a mãe e o tio. “Eles ficaram mais felizes por ver que eu gostei de ter passado na prova e vi que sou bom. Basta focar no que eu quero, estudar, que eu consigo”, disse o jovem. A gerente escolar destaca ainda que a decisão de participar da olimpíada, tendo em vista que a inscrição é voluntária, contribui para o encorajamento dos adolescentes.
João e Pedro contaram com um reforço digital para o aprendizado da matemática. O Método Khan está sendo utilizado como uma das atividades extras para os jovens desde o segundo semestre do ano passado, por meio de uma parceria com a Fundação Lemman.
A agente educacional Mariza Souza Costa é tutora da ferramenta com os adolescentes. “O adolescente entra [na plataforma] e dentro das questões que ele consegue desenvolver, o sistema devolve outras para ele. Vai aumentando o grau de dificuldade”, explica Mariza.
Pedro acredita que a plataforma o ajudou a ter mais confiança para a resolução da prova da Obmep. “É um jogo de matemática, que dá bastante iniciativa”, disse. Ele explica que as questões propostas no Método Khan funcionam como desafios e é preciso alcançar as metas.
*Os nomes dos adolescentes são fictícios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário