21 de Agosto de 2015
Existe apenas uma psicóloga no núcleo de Cascavel para atender os mais de 4 mil professores da rede...
Fonte:CGN
Depois de décadas de profissão ela chegou ao seu limite. Os remédios são tantos que ela foi impossibilitada até de dirigir. O seu psiquiatra recomendou que ela ficasse 90 dias longe da escola, mas o perito do estado discordou e determinou que ela ficaria apenas 15 dias afastada. “Eu entro em pânico”, disse ela, quando questionada sobre sua volta às salas de aula.
Ela é uma entre as centenas de personagens, que mensalmente se licenciam das salas de aula de escolas estaduais de cidades que compõem o Núcleo Regional de Cascavel. De acordo com número do próprio núcleo, por mês 300 professores (QPM ou PSSS) se afastam por até três dias de suas funções e 600 profissionais do estado na região – 90% deles, professores – se afastam por mais de três dias. O principal motivo, de acordo com o NRE é a (falta de) saúde destes profissionais. Os professores do estado estão adoecendo, mas o NRE destaca que a média de atestados mensais sempre foi a mesma.
De acordo com o presidente da APP Sindicato em Cascavel, Paulino da Luz, diversos casos de professores que adoecem devido ao estresse da profissão têm sido identificados em Cascavel e cidades vizinhas. “Existe uma cobrança muito grande em cima dos professores, principalmente após a greve. Esse estresse se acumula e é agravado pela falta de socorro por parte da saúde do estado”, destacou.
Vale lembrar que, ocorrem atrasos no pagamento do SAS (Sistema de Assistência a Saúde) por parte do governo, fazendo com que profissionais suspendam o atendimento aos professores através deste plano. “Agora, creio que o estado pagou os atrasados, porque os hospitais não reclamaram mais. Entretanto, a disponibilidade de especialistas ainda é insuficiente. Os professores só conseguem atendimento em situações mais sérias, não existe saúde preventiva”, criticou Paulino. Para ele, o estresse ocasionado pela greve, assim como as incertezas no setor pioram a situação. “Como será amanhã? Não sei! Como será o ano que vem? Não sei! Vai ter PDE (Plano de Desenvolvimento da Escola)? Não sei! Vai ter eleição para direção? Não sei! Vamos receber o reajuste acordado? Não sei!”, lamentou.
Segundo Paulino existe apenas uma psicóloga no núcleo de Cascavel para atender os mais de 4 mil professores da rede. “É uma ótima profissional, mas ela é só uma”, relatou. De acordo com a chefe do NRE de Cascavel, Inês Dallavechia, “o Governo do Estado vem fazendo ajustes para melhorar as condições de trabalho dos professores, como o aumento da hora-atividade para os educadores”. Para a nossa personagem do início do texto, que chamaremos de Maria (ela solicitou anonimato), a hora-atividade está longe de ser o suficiente. Segundo ela, durante a hora-atividade na escola é impossível preparar aulas, visto que os computadores – muito antigos – não funcionam. “Como consequência, passo todo o domingo trabalhando”, contou ela, que devido a reposição de aulas do período de greve estava há nove semanas trabalhando de segunda à sábado, com seis aulas pela manhã e seis aulas durante a tarde.
Indisciplina
Conforme Maria, além de todos os fatores relacionados à sobrecarga de trabalho está a indisciplina dos alunos. “As turmas são muito numerosas. Tenho turma com mais de 40 alunos. Alguns são muito indisciplinados”, comentou.
Outra professora que não quis se identificar (a chamaremos de Júlia) também se queixa da indisciplina. “Primeiro fiquei 90 dias fora de função [não dá aulas, mas precisa ir à escola], depois sete dias de atestado e agora vou ficar mais 180 dias fora de função”, relatou ela. Júlia conta que ao voltar da greve, começou a ter crises de pressão alta durante as aulas. “Saía do meio da aula para o posto de saúde”, disse. Júlia começou a ter insônia e pânico da sala de aula.
“Os alunos estão extremamente indisciplinados e você não tem mecanismos suficientes para melhorar o comportamento dele. Alguns admitem que consumiram drogas antes da aula, chegam agitados. Você os tira da sala, mas não tem mais onde colocá-lo. Ficamos de mãos atadas, não temos muito com quem contar. O professor adoece porque precisa desempenhar uma função que não é dele. Ensinar é muito legal, mas ter que dizer pro aluno que ele não pode agredir o colega, por exemplo, não é nossa função. Muitos pais, quando chamados à escola, dizem para ‘darmos um jeito’. Desembocou tudo na escola”, queixou-se.
Júlia conta que sua fobia chegou ao ponto de ela estar na biblioteca e passar mal apenas com a presença dos alunos. “Quando acordo pela manhã e penso que terei que ir para a escola fico enjoada. Sei que é psicológico, mas é como me sinto”, disse.
Sem apoio
Maria, assim como Júlia, destaca a falta de apoio. Segundo ela, as “equipes de apoio” formadas por pedagogas existem nas escolas, mas não desempenham a sua devida função. “Participei de um evento recentemente onde havia professores de várias escolas do núcleo de Cascavel. Todos foram unânimes em dizer que na escola onde atuavam as pedagogas não desempenhavam o seu papel”, disse.
Conforme ela, estas profissionais – que teriam, entre outras, a função de atender alunos indisciplinados – não tomam providências e jogam a responsabilidade para os professores, que se vêm obrigados a acumular mais esta função. “Elas ficam em suas salas diferenciadas com ar-condicionado, recebem o mesmo salário que o nosso a não nos prestam o apoio necessário. Por isso eu questiono: Qual a real função das pedagogas em uma escola? Não temos apoio nenhum, estamos sobrecarregados e por isso ficamos doentes”, disse ela, que não acredita mais na solução dos problemas da educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário