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sábado, 29 de novembro de 2014

Alunos do 9º ano pioram em matemática

29 de novembro de 2014
É o que mostram os dados da Prova Brasil - avaliação do governo para escolas públicas - obtidos pelo 'Estado'; português tem melhora

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

O desempenho dos alunos do 9.º ano do ensino fundamental das escolas públicas do País piorou em matemática, mas melhorou em português. É o que indicam os resultados da Prova Brasil, na comparação de 2013 com a análise anterior de 2011. Já no primeiro ciclo do fundamental (5.º ano), a avaliação melhorou nas duas disciplinas. As médias foram obtidas com exclusividade pelo Estado.
A Prova Brasil é a avaliação oficial do governo para todas as escolas públicas e os resultados servem para a formulação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A avaliação ocorre a cada dois anos e as médias começaram a chegar nesta sexta-feira, 28, às escolas.
Os números do Ideb foram divulgados em setembro sem as médias de proficiência pelas disciplinas, o que havia sido criticado por especialistas. O País não havia conseguido bater a meta para o ano no Ideb, mas a média no indicador cresceu - o que não revela a queda no aprendizado, por exemplo, em matemática no 9.º ano. A média de matemática nesta série passou de 243,17, em 2011, para 242,35 em 2013. O valor considerado adequado é 300. Abaixo disso, os alunos não conseguem, por exemplo, analisar uma tabela.
Análise. Pelos dados, apenas 25% dos alunos teriam os conhecimentos adequados na matéria. Em português, também no 9.º ano, a nota média cresceu e passou de 236,86 para 237,78 - o ideal é 275. Localizar informações explícitas em crônicas e fábulas é competência que, na média, os alunos não teriam. Apesar de a média ter tido leve alta, o porcentual com conhecimento adequado é de 23%.
Na avaliação do 5.º ano, o desempenho em leitura é o que teve melhor variação entre 2011 e 2013. Passou de 185,7 para 189,7. O nível considerado adequado é de 200. O aluno com nota menor não teria condição de identificar assuntos comuns a duas reportagens. Já em matemática, a média do País passou de 204,6 para 205,1, enquanto se desejava a partir de 225. Na escala de proficiência, isso indica que os alunos não seriam competentes para resolver problemas envolvendo adição e subtração de moedas e cédulas.
Segundo os dados de desempenho da última Prova Brasil, 40% dos alunos brasileiros estão com conhecimento adequado no 5.º ano em português e 35%, em matemática. Conforme Chico Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), os dados mostram a realidade que precisa ser enfrentada. “Matemática não melhorou. É o ponto que precisa ser enfrentado.” O Inep não tem data definida para divulgar as médias da Prova Brasil para todas as escolas do País, como ocorreu com a divulgação de 2011.
Soares ressalta que o Brasil teve avanços no acesso à educação com o passar dos anos, mas o aprendizado ficou aquém. “No caso da vaga e permanência, a conclusão é que as coisas caminharam. Mas elas caminharam mais que o aprendizado”, afirmou.
Já o professor da USP Ocimar Alavarse avalia que também é preocupante a tendência de estagnação da nota. “Tanto a queda em matemática quanto o aumento em português no 9.º ano são leves e podem estar na margem de erro. O grande problema do País ainda é o ensino fundamental, por que os alunos que chegam ao ensino médio são muito fracos.”


Entrevista com Presidente do Inep, Francisco Soares: 'Estamos fazendo um esforço para melhorar o debate pedagógico'
1.Por que as médias das disciplinas não foram divulgadas com o Ideb?
Estamos fazendo um esforço para melhorar o debate pedagógico. Divulgar as médias nesse momento, sem esse esforço, era reduzir o pedagógico a segundo plano. Foi um ano atípico, com eleições e críticas. Mas esse boletim nunca tinha sido divulgado antes desse período. E não há nada que a sociedade não sabia via Ideb.
2.Mas como fazer para que esses resultados ajudem na melhoria da educação?
Gosto de chamar o Ideb de bússola da educação básica. Ele foi divulgado e indica onde estamos. Se faz o debate público, mas não basta. Para mudar o aprendizado, preciso de uma dimensão da escola mais pedagógica. E isso não havia tido a proeminência que eu entendo que deveria ter.
3.A Base Nacional (o novo currículo brasileiro), que está sendo construída, colabora com esse processo?
A base é uma discussão razoavelmente simples nos anos iniciais e nas ciências da natureza, matemática e leitura. É mais difícil quando chega no ensino médio e nas outras dimensões. Claro que o que está escrito aqui (no boletim) estará na Base Comum, porque a Prova Brasil não pede nada irrelevante. Mas eu me sentiria mais tranquilo, na direção do Inep, se tivesse uma base nacional comum definida. Porque a Prova Brasil tem de se ater a conhecimentos e habilidades da Base.


Boletins comparam escolas com mesmo nível socioeconômico
As escolas passaram a receber boletins de desempenho na Prova Brasil com a contextualização de dados e também com mais detalhes pedagógicos sobre o que significam as notas médias. O Estado teve acesso nesta semana ao novo documento que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) começou a encaminhar nesta sexta-feira, 28, para as unidades escolares.
A partir de agora, as instituições serão classificadas em níveis socioeconômicos. São sete ao todo, calculados a partir da renda indireta dos alunos (com perguntas, por exemplo, sobre bens familiares) e escolaridade dos pais. Com a classificação socioeconômica, o Inep apresenta os resultados da escola e também um quadro de comparação com o Brasil e outras redes, como já ocorria, mas também com colégios similares. Esses grupos de escolas são definidos tanto pelo nível socioeconômico quanto pela rede e região.
Vários especialistas em educação reclamavam que os dados de desempenho, como o Ideb e a Prova Brasil, não levam em consideração a diferença de perfil de alunos ao comparar todos de uma única forma. O maior responsável pela contextualização dos dados é o presidente do Inep, Francisco Soares, que promete esses critérios para todas as avaliações do Ministério da Educação (MEC). “A comparação é fundamental, mas devo comparar a escola que trate com alunos parecidos”, diz ele. “A pobreza não define, não é destino, mas é um fator no resultado. Precisamos saber por que escolas parecidas têm sucesso e outras, não.”
Risco. O professor da USP Ocimar Alavarse entende que é importante saber as diferenças socioeconômicas, mas teme por um reflexo negativo. “Pode ter o risco de fazer com que as escolas joguem a toalha ao ser classificada em níveis muito baixos”, afirmou. Segundo dados obtidos pelo Estado, a maioria da escolas (61%) está nos níveis 4 e 5 - de uma escala de grupos que vai de 1 a 7.
O Inep também organizou no documento de devolução da escola o porcentual de professores com formação adequada. Mas, segundo Soares, o segundo aspecto mais importante é que o novo documento traz uma explicação mais detalhada sobre o que provavelmente o estudante sabe, de acordo com as notas alcançadas.
São correlações entre as pontuações e os itens da Prova Brasil. “Estamos preocupados com essas duas dimensões, da contextualização e da explicação. Isso é um avanço, mas ainda será difícil para as escolas conseguirem fazer a vinculação com o trabalho na aula”, disse Francisco Soares.
Portal. O instituto trabalha para criar um portal em que será possível colocar a nota e visualizar os itens, além de ter acesso a uma explicação sobre os níveis. 

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