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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Em Minas, 438 mil estudantes estão fora da série adequada


ALINE DINIZ - O TEMPO - 18/08/2014 - BELO HORIZONTE, MG

O número de matrículas em cursos para que estudantes repetentes voltem a cursar as séries adequadas caiu mais de quatro vezes em três anos em Minas Gerais. Cerca de 438 mil alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental público e privado de todo o Estado não estavam na série adequada em 2013. No entanto, apenas 20,5 mil participaram de cursos de correção de fluxo – estruturados para ajudar os alunos que repetiram de ano.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC), em 2010, eram 90,6 mil inscrições nessa modalidade pedagógica. Em 2011, o número caiu para 53 mil. Já em 2012, foram 41 mil e, em 2013, 20,5 mil. Pela legislação, o responsável pela escola deve oferecer os cursos.
Moradora de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, a mãe de um adolescente de 14 anos, que repetiu de ano duas vezes, luta para a escola pública, em que o filho estuda, colocá-lo em um curso de reforço, mas ainda não conseguiu. “Pago aulas particulares de reforço escolar com muita dificuldade. É preciso deixar de fazer um passeio, deixar de comer peixe e não pagar a van para dar conta”, desabafa a mãe, que pediu anonimato.
Análise. Sobre a queda nas matrículas, o ex-secretário executivo do MEC e presidente do Instituto Alfa e Beto João Batista Araújo Oliveira acredita que há uma priorização de outras políticas na educação. No caso de Minas, o especialista considera que o governo está trabalhando para evitar a repetição de ano. “O esforço está mais na prevenção. Há uma atenção para a alfabetização e leitura”, explica.
Para o ex-secretário, o lado negativo da redução de cursos de correção de fluxo é que muitos estudantes despreparados não são retidos e acabam passando sem ter o conhecimento necessário. “Eles vão passando desapercebidos”.
Olivera pondera ainda que o governo não tem recursos para melhorar o ensino nos anos iniciais e ainda corrigir o descompasso série-idade de séries mais avançadas. “Não é que não há o problema. Mudou-se o foco. Há dez ou 15 anos, o número de alunos atrasados era muito maior”. Em 2010, eram 581.538 alunos com defasagem (19,3% do total da época), contra os 438.639 do ano passado. Oliveira salienta, no entanto, que o número de 2013, que representa 15,9% dos estudantes do Estado (no total são 2.758.741 em escolas públicas e privadas), ainda é alto. O ideal, para ele, seria de no máximo 10%.
Sobre investimentos, o MEC informou que não reduziu o dinheiro repassado aos governos estaduais e municipais para a realização de cursos de correção de fluxo.
Opções. Oliveira explica que há três formas principais de realizar cursos de correção de fluxo. O mais comum é retirar o aluno com dificuldade da série regular e formar uma turma especial. Depois de passar por um intensivo, o estudante volta para a série adequada à sua idade.
Outra forma é a chamada “dependência”. O estudante passa de ano, mas continua cursado uma ou mais disciplinas da série anterior. A terceira possibilidade é o reforço escolar.
Programas
Opção. A Secretaria de Estado de Educação informou que para os alunos que não conseguiram se formar na idade prevista, há o programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). No ano passado, 233 mil estudantes estavam matriculados no projeto.
Acompanhamento. O objetivo, de acordo com a pasta, é trabalhar para que o aluno aprenda no tempo certo. No ensino fundamental, existe um Programa de Intervenção Pedagógica, que promove ações de acompanhamento do aluno durante todo a sua trajetória escolar.
Prioridade. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que os programas de correção de fluxo são prioridade para o órgão.

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