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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Empreendedora aposta em `professor-mãe` para ensinar crianças com dificuldades em aprender


POR ADRIANO LIRA - G1 GLOBO.COM - 21/10/2013 - RIO DE JANEIRO, RJ

A professora e terapeuta familiar Elizabeth Polity sempre gostou de ensinar – ainda mais crianças com dificuldades em aprender, e desde uma época em que distúrbios como a dislexia eram vistos de forma preconceituosa pela sociedade. Em 1996, a escola em que Elizabeth trabalhava dispensou todos os alunos com problemas no aprendizado.
Esse comportamento fez com que a professora tomasse coragem, convidasse professores que trabalhavam com ela e criassem uma escola para as crianças preteridas. A ideia deu certo. Desde fevereiro de 1997, Elizabeth é a diretora do Colégio Winnicott, especializado na educação de crianças com dificuldades de aprendizagem causadas por fatores neurológicos, emocionais ou cognitivos, como dislexia, déficit de atenção, síndrome de Down e fobia escolar.
Em 1996, Elizabeth era coordenadora em uma escola convencional, mas que também aceitava crianças com dificuldades. Na época, a mantenedora da instituição foi vendida para um grupo que queria transformar o colégio em um lugar de `alunos de elite`. Por isso, todos aqueles que tinham algum problema foram dispensados. Ao ver as crianças sendo rejeitadas, Elizabeth convidou alguns professores da escola para abrir sua própria instituição. `A primeira reunião que fizemos para criar o Winnicott aconteceu no salão de festas do prédio de um professor. Convidamos os pais dos alunos dispensados e a reação deles foi muito positiva. Foi comovente`, afirma ela.
No dia 2 de fevereiro de 1997, o Winnicott foi aberto no Jardim Paulista, centro expandido de São Paulo. O nome do colégio foi inspirado no pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott. Ele criou o conceito da `mãe suficientemente boa`, aquela que se mostra como um porto seguro ao filho, mas que diminui gradativamente a atenção à criança, a fim de estimular seu desenvolvimento. Tal conceito foi usado por Elizabeth para definir a dinâmica de ensino do Winnicott.
O colégio tem `professores suficientemente bons`, com condições de exigir o melhor dos alunos, mas sem deixar de ser uma figura de segurança para as crianças. `Autores como Freud afirmam que o professor pode atuar como um substituto da figura materna. Com afeto, o professor cria um contexto ainda mais favorável para a aprendizagem`, diz a diretora.
O Winnicott tem hoje 65 alunos, mas o número costuma variar entre 55 e 70 crianças. O ensino aborda todos os anos dos ensinos fundamental e médio. A metodologia de aprendizagem é individualizada, mas alunos com faixa etária e desenvolvimento intelectual semelhantes podem estudar em grupo. Neste caso as salas de aula têm, no máximo, seis crianças.
Apesar de contar com profissionais preparados para o ensino de crianças com dificuldades, Elizabeth afirma que a mensalidade do Winnicott é menor que a de colégios particulares de elite, que não oferecem os recursos de seu colégio. Cada aluno paga R$ 2,5 mil, em média.
Ao contrário do que normalmente se vê no mundo do empreendedorismo, a expansão do Winnicott não é a maior prioridade de Elizabeth. `Um número maior de alunos prejudicaria o acompanhamento individual dos alunos, que é de extrema importância para nós`, afirma ela.
Por fim, a diretora do Winnicott deixa uma mensagem para os pais de crianças com alguma dificuldade em aprender. `Apesar de muita coisa ter mudado, ainda há muita gente que não entende as dificuldades desses alunos. Peço para que os pais não sejam preconceituosos. Que abram a mente, pois essas crianças são absolutamente normais e têm muito a contribuir.`

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