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domingo, 6 de outubro de 2013

A quem cabe a educação sexual? :: Cida Lopes


06/10/2013
Cida Lopes - SexólogaA escola, para o aluno, independentemente de sua idade, significa muito mais que somente um lugar de adquirir conteúdo acadêmico. Cada aluno, simultaneamente ao aprendizado cognitivo, também adquire valores, constrói relações e desenvolve a sua sexualidade. Despertando curiosidade desde a infância, a questão da sexualidade aparece em todas as séries, não sendo assunto específico da adolescência. Com isso, os educadores estão sujeitos a se depararem com situações e dúvidas que fogem à sua especialidade ou conteúdo específico.
Sabemos que construímos a nossa sexualidade a partir da nossa cultura, educação, dos nossos sistemas de crenças e valores. Por isso, a dúvida: como orientar o aluno, conciliando os valores da escola, da família e do próprio educador? A dúvida deve levar à investigação e não à estagnação. Negar essa realidade é assumir uma postura de resignação ao pensar que a educação sexual dos filhos e alunos se limita às informações passadas pelos pais e educadores.
Contudo a omissão também é uma forma de educação, só que reforça o conceito limitado que ainda vigora sobre a sexualidade hoje. Mas como dar o que também nos foi negado? E é por isso que repetimos padrões e comportamentos, para não termos que assumir nossas posições e escolhas, porque não podemos ensinar o que não aprendemos. O momento, porém, não é de procurar os culpados, e sim as soluções.
Não mexemos nessa caixa de marimbondo porque sentimos insegurança, medo de errar, ou por falta de habilidade, devido aos conceitos deturpados que temos sobre sexualidade. Restringimos a sexualidade à genitalidade, à relação sexual e pornografia, que é, muitas vezes, uma maneira camuflada de podermos falar das nossas dúvidas e inseguranças. Esse conceito limitado também empobrece as nossas relações, passa-se a ter hora, local e idade adequada para se falar sobre o assunto.
Diante desses critérios, a criança fica excluída, devido à imaturidade para exercer uma vida sexual ativa. Essa é a justificativa mais frequente tanto para os adultos como para as crianças explicarem a ausência de diálogos sobre tais questões. Reconceituando, no entanto, a sexualidade, ela é toda a expressão do nosso modo de pensar, sentir, comunicar e agir e está presente em qualquer forma de manifestação da nossa afetividade, portanto ela é vivenciada durante toda a nossa vida.
É por meio do desenvolvimento da nossa sexualidade que construímos a autoestima e a identidade de gênero, fatores que regem as relações entre as pessoas. A identidade de gênero origina a compreensão que temos de nós mesmos, do outro e do mundo, a partir do que é ser homem e ser mulher na nossa cultura. E a autoestima determina como cada um de nós vai estabelecer seus limites, exercer seus direitos e deveres, tomar decisões, desfrutando os ganhos e assumindo as perdas.
Assim, quando favorecemos à criança desenvolver uma sexualidade saudável, estamos contribuindo para que sua autoestima seja positiva. Esse conceito mais elaborado deve nos levar a procurar a verdade. Caso contrário, estaremos repetindo a história e perpetuando os erros.
Cada um de nós sabe o preço que ainda pagamos pela nossa educação fragmentada. Investir no nosso crescimento sexual é favorecer o crescimento pessoal. Aprendemos muito sobre nós mesmos, quando aprendemos sobre nossa sexualidade. Portanto a educação sexual não está restrita à adolescência, por não ser, simplesmente, mais um método contraceptivo ou de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de Aids. Educar para a sexualidade é educar para a cidadania, autonomia, para a vida, e, para isso, não há idade ideal.

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