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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Maioria não usou chance extra para passar de ano

29/04/2013
AVANÇO POLÊMICO


Chance extra aprova minoria



Um levantamento realizado por Zero Hora aponta que uma minoria aproveitou a chance de passar de ano ainda no primeiro trimestre de 2013, oferecida a alunos reprovados em escolas estaduais de Ensino Médio. A oportunidade extra foi proposta pela Secretaria Estadual da Educação (SEC), como parte de uma reformulação do secundário iniciada em 2012 em turmas de 1º ano.
Pelas novas regras, os alunos que não obtiveram conceito satisfatório em uma das quatro áreas do conhecimento passaram a ser promovidos para o 2º ano, em regime de progressão parcial. O ponto polêmico foi a orientação que a secretaria deu a respeito daqueles que foram mal em mais de uma área e acabaram reprovados: eles deveriam passar por uma nova avaliação nas primeiras semanas de abril, capaz de catapultá-los para o 2º ano com aulas já em andamento.
A medida sofreu resistências e gerou controvérsia dentro das escolas, onde foi criticada como uma forma encontrada pelo governo de melhorar na marra os índices calamitosos de reprovação no Ensino Médio. O levantamento realizado por ZH indica que centenas de alunos aproveitaram essa nova chance e reverteram a reprovação de 2012. Mas a maior parte não quis participar ou não alcançou o desempenho necessário. Continuaram na condição de repetentes.
ZH buscou os dados sobre aprovação e reprovação diretamente com as escolas estaduais dos cinco maiores municípios gaúchos. Nem todas responderam ou aceitaram fornecer informações, mas mais de uma centena revelou seus números. Em Porto Alegre, no universo consultado, 37% dos alunos habilitados a participar do chamado avanço foram aprovados. Os índices mais baixos apareceram em Canoas (23%) e Caxias do Sul (24%). Os mais altos, em Pelotas e Santa Maria (ambas com 51% de aprovação).
– A grande maioria dos alunos iniciou com interesse mas, no decorrer das aulas, apresentou o mesmo comportamento do ano anterior: não estudou e não entregou tarefas – relata Fabiene Silveira, diretora da Escola Julio Grau, de Porto Alegre.
Índices de aprovação podem ser menores
Por conta de algumas limitações, o levantamento de ZH dá uma ideia apenas aproximada do desempenho dos alunos – apesar disso, ele se justifica pela falta de dados oficiais até o momento. As distorções não dizem respeito somente ao fato de ter sido consultada uma amostra dos estabelecimentos estaduais.
Outro fator a interferir é o fato de o número de alunos não aprovados no avanço obedecer a critérios diferentes, conforme a escola. Algumas repassaram o total de estudantes que estavam habilitados a receber a nova chance, incluindo aqueles que não quiseram aproveitá-la. Outras informaram somente o número de alunos que se inscreveram para participar. Em algumas, foi possível usar apenas o universo de secundaristas que efetivamente se submeteu aos exames de 2013.
Isso significa que os índices de aprovação podem ser menores do que os sugeridos pelo levantamento. Se fossem levados em conta todos os alunos reprovados em 2012 e que poderiam ter aproveitado a nova oportunidade de avançar para o 2º ano, a proporção de aprovados cairia. No caso de Caxias do Sul, por exemplo, a 4ª Coordenadoria Regional de Educação realizou um levantamento abrangente e chegou a um índice de aprovação inferior ao colhido por ZH. Na cidade, 2.532 alunos foram reprovados em 2012. Participaram do plano de avanço 2.083 deles (82,26%). Desses, 501 (24,05%) desistiram no meio do caminho, 1.126 (54,05%) foram reprovados e 456 (21,90%) passaram de ano.
Apesar das críticas, a chance extra tem amparo na Lei de Diretrizes e Bases. A professora da UFRGS Maria Beatriz Luce, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE) entre 2004 e 2012, considera um dever das escolas oferecer chance de recuperação:
– Uma avaliação bem feita é decisiva para uma inflexão no comportamento de um aluno.
*Participaram Júlia Otero, Diário de Santa Maria e Pioneiro
Levantamento feito em escolas dos cinco maiores municípios gaúchos mostra que a maior parte dos alunos reprovados em 2012 não aproveitou a chance de passar de ano no primeiro trimestre deste ano. A oportunidade foi proposta como parte de uma reformulação do Ensino Médio iniciada no ano passado em turmas de 1º ano.

EDUARDO ROSA E ITAMAR MELO*


29/04/2013
Quando a opção é não avançar
Camila Conter, 15 anos, tinha em mãos a possibilidade de passar do 1º para o 2º ano, apesar da reprovação em matemática e ciências da natureza. Aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Margot Terezinha Noal Giacomazzi, de Canoas, ela fez a prova de recuperação neste trimestre e atingiu a nota necessária. Foi uma das 10 que, em um universo de 53, chegaram à média. Após uma conversa com os pais – uma dona de casa e um aposentado –, preferiu não avançar:
– As outras turmas, que já estavam no 2º ano, teriam começado as matérias. Então, eu estaria bem atrasada. Achei que não valeria a pena.
No entanto, o que mais pesou na decisão da moradora do bairro Guajuviras foi o temor de não estar preparada para os novos conteúdos, devido a uma defasagem no aprendizado.
– Se eu rodei no ano passado, foi porque eu não aprendi alguma coisa. Quis repetir e ficar mais forte, conseguir aprender o que faltou. Se não, eu ia acabar rodando de novo – afirma Camila, que considerou o novo sistema injusto por recuperar um ano em uma prova de múltipla escolha. – Teve gente que nem se preparou, marcou as questões e passou.
Assim como Camila, a direção do colégio avaliou a mudança como negativa no que diz respeito à reorganização do ano letivo.
– Os alunos, inicialmente, gostaram da notícia da nova chance oferecida, mas reconheceram que ficaria inviável recuperar as lacunas na aprendizagem em pouco tempo – acrescenta a diretora, Tatiana Lopes Stein.
A professora explica que, para a nova avaliação, os estudantes tiveram uma lista com os conteúdos exigidos e a possibilidade de empréstimo de livros para estudo das disciplinas.





29/04/2013
“Uma experiência bem-sucedida”
Jose Clovis de Azevedo/Secretário estadual da Educação
Na sexta-feira, o secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, falou sobre os resultados preliminares da chance de avanço. Além dos números levantados para esta reportagem, citou estatísticas da própria secretaria, referentes a alguns municípios. ZH detectou uma possível confusão nos números da SEC, que acabavam inflando os índices de aprovação. A secretaria respondeu que as observações feitas por ZH podem ser pertinentes, razão pela qual os números citados pelo secretário não são apresentados. A entrevista:
Zero Hora – Como o senhor avalia os resultados da nova chance dada aos alunos?
Jose Clovis de Azevedo – Os resultados estão além da minha expectativa. Se ficasse só nisso, o projeto já poderia ser considerado um grande êxito. Cada aluno que avança é uma vitória.
ZH – Há uma crítica de que essa experiência foi uma forma de promover a aprovação automática.
Azevedo – Como muitos não foram aprovados, a crítica de que se tratava de uma aprovação automática fica difícil. O que pedimos não foi pura e simplesmente aprovar, mas oferecer um novo desafio aos alunos.
ZH – Chama a atenção a discrepância de resultado entre determinadas escolas. O que explica isso?
Azevedo – As escolas têm autonomia, têm seus próprios critérios de avaliação. Onde a aprovação foi total, nossa convicção é que foi feito um trabalho sério e ético. Onde todos foram reprovados, acreditamos que há um problema grande, porque índices elevados de reprovação significam que há falhas no ensino.
ZH – Alunos que conseguiram o avanço estão sendo inseridos em turmas de 2º ano já em andamento. Eles não vão ficar para trás?
Azevedo – Se os professores concluíram que o aluno podia avançar, é porque estão preparados para recebê-los. Em uma turma, o nível de conhecimento sempre é diferenciado.
ZH – A oferta de uma nova chance de aprovação será repetida nos próximos anos?
Azevedo – Pela legislação, a avaliação tem de ser permanente, contínua e cumulativa. Vamos acompanhar o rendimento ao longo do ano, para evitar que seja necessário efetuar uma nova ação desse tipo. Mas é possível repeti-la, porque foi uma experiência muito bem-sucedida.




 
29/04/2013
Discrepância entre as escolas
Ao se debruçar sobre os resultados obtidos pelas escolas e levantados por ZH, chama a atenção o fato de algumas instituições terem chegado a números extremos. Há colégios que aprovaram todos os estudantes de 1º ano testados em avaliações neste mês, enquanto outros reprovaram 100% dos alunos que se propuseram a fazer as novas provas.
O Dom João Becker, na zona norte de Porto Alegre, alcançou aproveitamento total na recuperação aplicada com o ano letivo em andamento. A direção atribui o índice de 22 aprovados à maneira como a nova forma de avaliação foi implantada na escola – priorizando os conteúdos mais importantes, focando na revisão durante o primeiro mês de aula e fazendo com que os alunos fossem acompanhados de perto pela supervisão.
– Eles melhoraram o comportamento. Ainda é prematuro dizer se a alteração foi boa, ao longo do ano é que teremos respostas – salienta a diretora, Ana Maria Corte Mello.
Os estudantes Robson Silveira, 16 anos, e Anderson do Canto, 17 anos, se queixam da grande quantidade de conteúdos que tiveram de revisar, mas lembram que a alteração no processo também resultou em uma mudança no comprometimento diante dos estudos.
– Tinha muita imaturidade, falta de atenção, brincadeira. Mudei porque agora sei o que é um ano perdido – confessa Robson.
Diretor diz que não houve real recuperação dos conteúdos
Na outra ponta, está a Escola Estadual de Ensino Médio Affonso Charlier, de Canoas. Lá, nenhum dos 14 estudantes que fizeram a recuperação em 2013 atingiu desempenho satisfatório para mudar de série.
– Esse processo não foi válido porque não houve a real recuperação dos conteúdos e, em consequência disso, o aproveitamento também não foi efetivo. Os motivos são diversos: alunos que precisavam rever o conteúdo anual não aprendido em um mês, as sequências de aprendizagem dos temas de base enfraquecida, entre outros – justifica o diretor da escola, Marcos Hermi Dal"Bó.
Professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Helena Sporleder Côrtes explica que, ao deparar com situações extremas, é necessário relativizar as circunstâncias que cercam os dados. Pondera que, teoricamente, a aprovação ou a reprovação na totalidade é possível, mas uma questão precisa ser levantada:
– A avaliação é um processo muito complexo e, toda vez que temos resultados desta natureza, em princípio, desconfiamos que algum problema aconteceu. Será que o instrumento foi bem feito, que processo de avaliação foi efetivo, que os professores estavam suficientemente preparados para fazer isso e que os alunos estudaram? Os extremos sempre devem ser indicadores de uma reflexão.








 
29/04/2013
Aula mesmo só a partir da chegada dos retardatários
Depois de dedicar o primeiro mês de aula ao esforço de recuperar os alunos de 1º ano reprovados em 2012, as escolas estaduais têm diante de si um novo desafio: integrar os recém-aprovados a turmas de 2º ano que já estão em andamento. Levando em consideração que são estudantes com um histórico de dificuldade escolar, a tarefa pode se revelar especialmente complicada.
Para evitar esse problema, muitos colégios resolveram interferir no andamento do 2º ano. No começo do atual período letivo, orientaram os professores a dedicar as primeiras semanas de aula a uma revisão do conteúdo do nível anterior. Alguns estabelecimentos maiores, adotaram como solução a criação de turmas específicas para os que começaram 2013 no 1º ano e vão terminá-lo no 2º.



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