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sábado, 30 de março de 2013

Em déficit com os alunos

30/03/2013
TCU aponta que institutos federais sofrem com evasão, falta de professores e infraestrutura precáriaDemétrio Weber
Vinicius Sassine
Queixa. Aluna do Instituto Federal de Brasília, Alcilene (de blusa estampada) questiona o reitor Wilson Conciani (de terno) sobre o funcionamento da biblioteca do campus
Educação sem qualidade
BRASÍLIA Aposta do governo no ensino profissionalizante, os institutos federais enfrentam problemas de evasão, baixo índice de conclusão, falta de professores e infraestrutura insuficiente. Em cursos destinados a jovens e adultos que não terminaram a escola na idade adequada - segmento chamado de Proeja -, o abandono chegou a 24%. Em cursos técnicos de nível médio feitos por quem já possui certificado de ensino médio e está em busca de formação profissional, a evasão alcançou 19%. A rede federal tem também déficit de profissionais: faltam 7.966 professores, o equivalente a 20% do total previsto, e 5.702 técnicos de laboratório - 24,9% do quadro de pessoal.
O diagnóstico é resultado de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), entre agosto de 2011 e abril de 2012. Há duas semanas, o relatório foi aprovado no plenário da Corte, com a recomendação de que o Ministério da Educação (MEC) elabore plano de combate à evasão, inserção profissional dos estudantes e redução do déficit de professores, com incentivos para que docentes trabalhem longe das capitais.
Segundo os auditores, o "principal fator que põe em risco a qualidade dos serviços educacionais" é o déficit de professores e técnicos. O levamento mostrou que as maiores carências atingiam os institutos do Acre (40,1%), de Brasília (40,1%), Mato Grosso do Sul (38,2%), Amapá (35,3%) e São Paulo (32,7%).
"Uma das causas do déficit observado de professores é a baixa atratividade da carreira. Apurou-se em pesquisa que a remuneração é fonte de insatisfação para 68% dos professores", diz o relatório.
Os auditores constataram que metade dos alunos tinha pelo menos um ano de atraso no curso. O ministro-relator, José Jorge, chamou a atenção para o que interfere na aprovação e evasão: deficiência de aprendizado nas etapas anteriores, baixa renda das famílias e a infraestrutura dos institutos.
José Jorge destacou a heterogeneidade dos estudantes. Os institutos oferecem, no mesmo campus, desde cursos profissionalizantes para quem não concluiu o nível fundamental até cursos de nível médio e superior, especialização e mestrado.
"É importante salientar que o período em que o aluno permanece no instituto federal afeta diretamente a economicidade do programa de governo. Cada ano a mais que o discente demora para concluir seu curso gera um custo para a sociedade, cujos recursos poderiam ser aplicados em fins diversos, até mesmo especializando outros alunos", escreveu o ministro-relator.
O Instituto Federal de Brasília é um retrato dos dilemas provocados pela expansão da rede. Projetado para atender até 4 mil estudantes, o campus tem atualmente cerca de 1.200. Metade do terreno é um canteiro de obras: estão em construção a biblioteca (para 700 pessoas), o anfiteatro (com 1.200 lugares) e o ginásio de esportes. Mas a falta de funcionários prejudica o funcionamento e, pelo menos um dos cursos, teve mais de 50% de evasão em 2012.
Na semana passada, alunos reclamavam que a biblioteca provisória permanecia fechada à noite. Outra queixa era sobre o laboratório de informática: sem funcionário para tomar conta dos equipamentos, o acesso só ocorre na presença de professores, por motivo de segurança. Assim, a queixa dos estudantes era a de que não podem utilizar as máquinas antes das aulas e durante os intervalos.
- A biblioteca tem poucos livros e fecha às 18h. Não temos acesso ao laboratório de informática. Não funcionam porque não têm funcionário - disse Alcilene Mendes de Matos, do 1º semestre de tecnologia em gestão pública.
Questionado por Alcilene, o reitor Wilson Conciani disse que os dois funcionários da biblioteca estão de licença médica. De acordo com ele, a implantação do campus de Brasília deve ser concluída até 2016, o que significará mais do que triplicar o número de alunos, de 1.200 para 4 mil. Mas, para ele, a ampliação deve ser feita com cautela, no ritmo de conclusão das obras e de contratação de professores e funcionários:
- Não dou conta de receber mais alunos. A gente está com problema de falta de funcionários? Está. Mas não posso trazer todo mundo de uma vez. Não dá para pôr professor sem aluno. E vice-versa.

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