A Universidade de
Campinas (Unicamp) faz na noite desta sexta-feira uma formatura como nunca
se viu nem lá nem em qualquer instituição de ensino
superior. Tem data e hora marcada, vai ter diploma e cerimônia como
todas as outras. A promessa de emoção de alunos e professores
é até maior. Mas os formados não terminaram a
faculdade, pelo contrário, agora é que eles vão entrar
na graduação.
A solenidade
parabenizará os alunos que se formaram na primeira turma do Programa
Interdisciplinar de Formação Superior (Profis) ,
ação de inclusão social iniciada em 2010. Os
beneficiados são estudantes que tiveram as melhores notas do Enem em
cada uma das escolas públicas da cidade do interior de São
Paulo, por menor que essa nota seja em comparação com os
aprovados pelo vestibular. Eles passam por um curso de conhecimentos
acadêmicos gerais de dois anos e, ao final, têm garantida uma
vaga na Unicamp.
O programa
é a inspiração para o aguardado projeto das três
universidades estaduais de São Paulo de ter metade de seus alunos
oriundos de escola pública e uma alternativa às cotas
tradicionais. Ele também assume que o ensino proporcionado pelo
estado aos estudantes das escolas públicas é pior do que o
oferecido pela rede particular, mas em vez de apenas dar um bônus na
nota para que mais alunos da rede do governo consigam ingressar na
faculdade, garante um curso geral de dois anos para suprir defasagens e
elevar o nível de conhecimentos básicos deste
público.
Dos 120 que
iniciaram a primeira turma, pouco mais de 60 serão chamados ao palco
nesta sexta. Outros 30 tiveram dificuldade com pelo menos uma das
matérias propostas e estão repetindo parte do programa,
alguns prestaram vestibular depois do primeiro ano e preferiram
começar logo a faculdade e houve desistências.
As baixas
não diminuíram o entusiasmo dos idealizadores.
“É um sucesso. Nossa menina dos olhos. A universidade toda
torce e comemora o programa”, afirma o pró-reitor de
graduação, Marcelo Knobel. Todos os professores são
voluntários. Há mais docentes interessados em participar do
que aulas para dar. A instituição tem um núcleo de
estudos para acompanhar os egressos do Profis por pelo menos 15 anos.
“As
vantagens que prevíamos se confirmaram”, avalia Knobel.
“Apesar da turma muito heterogênea, o que dificulta a
conclusão de muitos, são alunos altamente interessados e eles
chegam à graduação amadurecidos, conhecedores do ritmo
de estudos e do que os espera”, diz.
Para o formando
Guilherme Arruda Pedrozo, 19 anos, também não cabe
dúvida do êxito do programa. Ele planeja agora começar
um curso de Engenharia Elétrica, como já pretendia antes do
Profis, mas também leva na bagagem uma “visão
totalmente diferente de história” e um “olhar
crítico” para literatura que não tinha quando terminou
o ensino médio.
O mais importante
para ele é a abertura de um novo modelo de inclusão. Como
todos os beneficiados, ele visitou a escola pública em que se formou
para falar do programa e ficou satisfeito com o resultado. “É
perceptível como a chance de entrar na Unicamp sem enfrentar a
concorrência da escola particular e com a previsão de ter
aulas de base anima. De repente, as pessoas veem que podem sonhar com uma
coisa que nem contavam mais.”
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