Caçula da
pós-graduação no País, o mestrado profissional
(MP) dobrou de tamanho nos últimos cinco anos e atingiu a marca de
499 cursos. Apesar do crescimento expressivo, a modalidade, reconhecida
pelo governo em 1998, ainda não é tão procurada quanto
o mestrado acadêmico e a especialização, que são
mais antigos.
Os programas de
especialização geralmente são mais breves (têm
360 horas de duração) e ampliam os conhecimentos
técnicos e científicos dos alunos em uma área.
Já os mestrados duram em média dois anos e vão
além: estimulam a reflexão teórica e visam a formar
pesquisadores para a academia ou profissionais para o mercado de trabalho.
Enquanto as especializações concedem certificado, os
mestrados dão título de mestre e abrem portas para lecionar
no ensino superior.
Para tornar os MPs
mais atrativos, o Ministério da Educação (MEC) baixou
novas regras em 2009. A modalidade passou a ser avaliada sob
critérios diferentes dos cursos acadêmicos. Desde
então, por exemplo, as escolas podem ampliar seu quadro de
professores sem titulação mas com reconhecida
experiência profissional nas áreas dos programas.
Os alunos
também saíram ganhando. Os MPs deixaram de exigir
dedicação integral, como seus irmãos acadêmicos,
e agora aceitam mais formas de comprovar a conclusão do curso. Isso
pode ser feito com a entrega de relatórios de pesquisa, patentes e
aplicativos. Ou seja, qualquer projeto que atenda à finalidade do
programa serve para concluir o mestrado profissional. Apresentar uma
dissertação é só uma das possibilidades.
Um ponto
fundamental não mudou: o rigor da avaliação da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), órgão do MEC
responsável pela pós-graduação stricto sensu
(mestrados e doutorados). Só 29 MPs existentes no País (ou
5,8% do total) têm hoje a nota máxima 5. Outros 376 receberam
nota suficiente para funcionar.
“A cada
três anos nós avaliamos o programa. Se ele tirar 1 ou 2,
é descredenciado e impedido de receber alunos. Para voltar a
funcionar, deve passar pelo mesmo trâmite da criação de
um novo curso”, diz o diretor de avaliação da Capes,
Lívio Amaral.
A
regulamentação serve de referência para a qualidade de
cada programa, diferentemente do que ocorre com as
pós-graduações lato sensu - as
especializações precisam obedecer a critérios
mínimos, mas não são avaliadas pela Capes.
Para o professor
José Luiz Rossi Jr., coordenador do MP em Economia do Insper, um dos
melhores do País, a avaliação dá visibilidade
à pós stricto sensu. Segundo ele, o aumento do número
de programas profissionalizantes se deve à descoberta de um nicho de
mercado. “As instituições perceberam que havia
espaço para cursos mais especializados do que as
pós-graduações lato sensu.”
Profundidade
Formado no
Instituto Militar de Engenharia (IME), Rodrigo Maranhão, de 26 anos,
buscou o renomado Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no
Rio, para aprofundar o conhecimento sobre mercado financeiro - ele trabalha
na gestora de fundos Brookfield. Rodrigo deve concluir o MP em
Métodos Matemáticos em Finanças nesta quinta-feira,
28, com a apresentação de uma dissertação.
“No mestrado, você vê conteúdos em um nível
de profundidade tão grande que fica mais fácil depois
raciocinar e tomar decisões no trabalho”, afirma.
Segundo o
coordenador do curso do Impa, Jorge Zubelli, o MP nasceu de um programa
acadêmico cuja grade foi adaptada em 2008. Para manter a qualidade do
curso, a instituição faz uma seleção
criteriosa. “É fundamental que o candidato tenha sólida
base em matemática. Olhamos o histórico acadêmico e
cartas de recomendação de professores”, diz. Resultado:
apenas três ou quatro pessoas se formam a cada ano. “Muitos
alunos iniciantes são convidados para trabalhar em São Paulo,
onde há mais oportunidades no mercado financeiro, e abandonam o
curso.”
Os melhores
A Universidade
Federal da Bahia (UFBA) também aposta em um recrutamento exigente no
curso de Conservação e Restauração, o melhor MP
do País na área de Arquitetura. “A pós existe
desde 1981 e, na essência, já era um mestrado profissional
antes do reconhecimento formal da Capes à modalidade”, conta o
vice-coordenador do curso, Luiz Antonio Cardoso.
O MP tem dois
semestres de aulas presenciais e outro de orientação a
distância. Muitos alunos são de outros Estados e alguns do
exterior. O trabalho final deve ser um projeto de
intervenção. “Uma aluna ganhou prêmio com seu
estudo sobre a possibilidade de restaurar bicas públicas de Olinda
(PE).”
Cursos de elite
são exceção no Nordeste. Por lá, só
quatro MPs têm nota máxima - dois da Federal da Bahia e dois
da de Pernambuco (UFPE). Na região Sul também é
escasso o número de programas top: os três melhores são
da Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Já no Norte e no
Centro-Oeste nem sequer há MPs com conceito 5.
Lívio
Amaral, da Capes, diz que o órgão se esforça para
consolidar a pós stricto sensu nessas regiões, mas lembra que
a proposta de criação de cursos deve partir de
instituições de ensino ou empresas.
Companhias
também podem submeter MPs à Capes. A mineradora Vale, por
exemplo, selecionará nos próximos meses a primeira turma do
curso Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões
Tropicais, em Belém (PA). As aulas devem começar em maio para
20 alunos, alguns deles funcionários.
“Não
basta esperar que só o setor público e as universidades gerem
conhecimento e tecnologia. As empresas têm de fazer parte do
processo. Isso dará retorno a médio e longo prazo”, diz
o coordenador do curso da Vale, Roberto Dall’Agnol. Para ele, o
projeto é “auspicioso” porque capacitará pessoas
em uma região ainda carente de profissionais qualificados.
Concentrado
Enquanto isso, o
Sudeste abriga 22 dos 29 cursos de excelência avaliados pela Capes.
Entre eles está o tradicional MP em Administração de
Empresas da Fundação Getulio Vargas em São Paulo
(FGV-SP). Na seleção, a escola analisa a
“maturidade” da carreira do candidato.
“O aluno
precisa trazer alguma experiência para a sala de aula. Se for muito
jovem, não terá muito para acrescentar às
discussões com colegas”, diz a coordenadora do curso, Marina
Heck. “Quando um aluno do fim da graduação me pergunta
sobre pós, sugiro esperar um pouco, adquirir bagagem profissional e
fazer uma poupança para depois investir no mestrado
profissional.”
O administrador
Daniel Finamore, de 27 anos, optou por outro MP da FGV-SP, o de
Gestão Internacional, em busca do sonho de trabalhar em
multinacional. Conseguiu, e hoje é gerente de produto da francesa
L’Oréal. O curso serviu de trampolim, já que o paulista
fez o módulo obrigatório no exterior na HEC Paris e depois
estagiou na sede da empresa de cosméticos. Voltou recentemente ao
Brasil contratado para o escritório do Rio.
Apesar de
reconhecer a importância do curso (nota 3 na Capes), Daniel
não esquece do que aprendeu antes, na especialização
em Marketing da ESPM. “Os cursos agregaram conhecimentos diferentes e
complementares”, afirma. “Se você tem dúvidas
sobre qual tipo de pós escolher, o melhor é analisar qual
rumo profissional quer dar para sua vida.”
MESTRADO
PROFISSIONAL OU MBA?
O MBA no Brasil
é considerado curso de pós-graduação lato
sensu, como as especializações, e só pode ser
oferecido por instituições de ensino superior ou escolas
credenciadas pelo MEC. Nos EUA e na Europa, os MBAs têm carga
horária maior e conferem aos alunos o título de mestre em
Administração
PROFMAT
Curso
semipresencial para professores de matemática da rede pública
de educação básica está formando primeira
turma
CIENTISTAS DA
PM
A Polícia
Militar de SP criou em 2009 um MP em Ciências Policiais de
Segurança e Ordem Pública, feito pelos capitães
PARCERIA NA
PÓS
A Embraer tem um
MP em Engenharia Aeronáutica com docentes do ITA, em São
José dos Campos (SP). Mais de 1.150 formados já foram
contratados.
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