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quarta-feira, 22 de junho de 2011

OPINIÃO: GREVES EM PAUTA


''Depois de longo tempo sem que as greves pudessem se manifestar, em função de sindicatos cooptados, o País começa a ver muitas manifestações de trabalhadores insatisfeito'', diz Roberto Boaventura

Fonte: Diário de Cuiabá (MT)

Depois de longo tempo sem que as greves pudessem se manifestar, em função de sindicatos cooptados, o País começa a ver muitas manifestações de trabalhadores insatisfeitos.

Por aqui, destaco a greve dos professores da rede estadual. Recentemente, participei, a convite do Sintep-MT, de um debate sobre o modelo em que está estruturada a rede de ensino público: o ciclo de formação, substituindo o regime das séries.

De início, lamento a ausência – mesmo justificada – da assessora da Seduc ao evento. Por coincidência trata-se de uma colega do Instituto de Educação/UFMT. Há anos tento estabelecer diálogo acadêmico com meus pares especialistas em Educação. Orquestradamente, eles permanecem no silêncio.

Registrei essa ausência – não substituída – porque foi um momento rico em que osprofessores da rede expuseram suas angústias profissionais. Uma se refere ao contingente de professores contratados precariamente. Há Escolas em que efetivos sejam minoria. A outra se refere aos tais “ciclos”.

No que toca à efetividade dos docentes, eis uma preocupação. Conheço casos deprofessores, ex-discentes de Letras, que passaram em concursos da Seduc e pediram exoneração. Motivos: salários, más condições de trabalho e doentia ambiência Escolar. Como os dois primeiros itens nos são conhecidos, enfatizo o terceiro ponto, salvando as exceções.

Começo exemplificando com o que ouvi de um professor de Inglês, aprovado em 2º lugar no penúltimo concurso. Em que pese suas qualidades, inclusive a de ser excelente orador,alunos de 14 e 15 anos não lhe permitiram sequer desejar um “bom dia”, nem em português.

Além de perceber estudantes drogados, ouviu a seguinte sugestão: “seja bem tranquilo,professor, caso não queira pra sua cabeça”. Resultado: exonerou-se no dia seguinte para preservar sua vida. Ouvir seu relato é desolador. Aqueles alunos já são frutos dos ciclos de “formação humana”. O fracasso dessas experiências é visível a olho nu.

Nesse sentido, tudo isso coaduna com relatos de acadêmicos meus que estão visitando Escolas e entrevistando diretores, supervisores, orientadores, professores e alunos. Resguardando exceções, os relatos estarrecem. Em um deles foi exposto que a Escola estadual mais próxima geograficamente à UFMT desativou o ensino do noturno por conta do vandalismo.

Se for, posso prever o futuro: outras unidades farão o mesmo. Mais: em breve, o turno vespertino também será desativado; pouco depois, será a vez do turno da alvorada. Tudo é questão de poucas décadas. Quem (sobre)viver, verá o desmonte do sistema; ou melhor, do País!

Não tenho dúvidas da complexidade e abrangência político-sociopedagógicas que envolvem tudo isso. Todavia, a flexibilização do rigor na Educação é um dos motivos centrais de uma sociedade irresponsavelmente permissiva e corrupta. Nesse sentido, o espanto de um dos meus acadêmicos africanos conveniados com a UFMT chamou atenção.

Ele estava assustado com o que viu numa Escola: completa falta de respeito dos estudantes com osprofessores. Perguntei-lhe se em seu país – Guiné-Bissau – era diferente. “Sim. Lá, um aluno não desrespeita um professor. Se tentar, ele é punido pela Escola e pelos pais”, respondeu-me.

Pois por aqui é diferente. Essa diferença, que é uma aberração, nos “ranqueia” como uma das piores educações do planeta. Logo, salvar as novas gerações, por meio de rigorosaEducação, deve ser nosso maior desafio.

No próximo artigo, falarei da “enturmação dos ciclos”, adotado pela Seduc. Sabem o que isso? Preparem-se.

* ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ | Dr. em Ciência da Comunicação/USP e Prof. da UFMT
  rbentur26@yahoo.com.br

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