Foto: Fernando Madeira
Cursos técnico é opção para tornar o ensino médio mais atrativo
O ensino médio do Espírito Santo evoluiu no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) conseguiu a maior nota, 3,7, desde que a avaliação começou a ser feita, em 2007 e teve o melhor desempenho em Matemática entre as redes estaduais do país – apesar de a nota em números absolutos ter caído ou oscilado ao longo dos anos.
A evolução é inegável. A questão é que o cenário brasileiro como um todo nessa fase da educação é muito ruim.
A média nacional está estagnada nos mesmos 3,7 desde 2011. A nota de Matemática (271,34) com a qual o Espírito Santo lidera nas redes estaduais em 2015, por exemplo, é menor do que quando obteve o 4º lugar em 2009 (277,56) Uma estagnação que, segundo especialistas, compromete o avanço do desenvolvimento do país.
Má formação que prejudica tanto setores como a indústria, quanto a prestação de serviços e até a própria educação.
O gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, ressalta que 10% dos que concluem o ensino médio vão para as universidades, outra pequena parcela vai para os cursos técnicos, mas a maioria acaba por ingressar no mercado de trabalho, o que ressalta a importância dessa etapa.
“Embora a educação por si só não seja capaz de tornar um país desenvolvido, ela é condição fundamental para que isso ocorra. Nos últimos 20 anos a produtividade brasileira está praticamente estagnada e onde há educação de qualidade a produtividade é maior”, analisa.
Na avaliação do presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, o cenário ruim “não invalida que o Estado esteja fazendo coisas boas”, pondera.
“Nos países germânicos, o setor produtivo é que cuida da educação profissional técnica. O que me impressiona é o empresariado não se importando com esse resultado do Ideb”, critica.
Doutora em educação e professora da Ufes, Cleonara Schwartz não acredita que o Ideb seja um bom parâmetro para avaliar a qualidade da educação, mas concorda que a ausência de uma educação de qualidade prejudica o desenvolvimento do país. “Muitas vezes as pessoas que vão prestar serviços não conseguem entender uma explicação, o que comprometem a qualidade do serviço que elas estão prestando”, exemplifica a professora.
Mais cursos e menos matérias para melhorar
Se os resultados do Ideb não são satisfatórios, soluções surgem para melhorar o desempenho. O grande consenso é que o ensino médio precisa ser mais atrativo para os jovens.
Entre as propostas, mais opções de cursos técnicos, menos disciplinas e modelos diferentes de escolas em tempo integral. “O problema não é ter muito conteúdo, mas sim muita matéria”, afirma João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto.
“São muitas disciplinas, um currículo extenso para trabalhar, em média, em 4 horas por dia das quais normalmente são 2h30 realmente aproveitáveis”, afirma o gerente de projetos do Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho.
“É preciso dar ao aluno a chance de que ele dê ênfase naquilo que é de seu maior interesse, ou na área que quer seguir. Hoje, o aluno se adapta a escola. Na verdade ela precisa se adaptar ao projeto de vida do aluno”, comenta Olavo.
“Tem que diversificar as opções de cursos no ensino médio, cursos técnicos e mais cursos nas áreas de humanas, exatas e biomédicas. A longo prazo, o ensino médio só vai melhorar quando melhorar o ensino fundamental”, afirma o presidente do Instituto Alfa e Beto.
Integral
Para Olavo, um dos bons exemplos do país no Ideb vem de Pernambuco, em primeiro lugar empatado com São Paulo e que cumpriu a própria meta. Ele elogia o programa de escolas em tempo integral que já perdura no Estado há mais de 10 anos e no qual o Espírito Santo se inspirou para criar o Escola Viva.
“É importante porque oferece o ensino em tempo integral. A escola se adequa e ajuda o aluno a ter seu projeto de vida, também enfatiza o protagonismo juvenil e permite ao professor ter dedicação exclusiva. Creio que ao aprender com Pernambuco o Espírito Santo está em um bom caminho”, destaca o gerente.
Futuro
Ao comentar os resultados do Ideb, o secretário de Estado da Educação, Haroldo Corrêa Rocha prevê que o Escola Viva trará impactos positivos no próximo Ideb, já que serão 15 escolas no novo modelo fazendo a prova, ao passo que no ano passado a única escola implantada não fez.
Ele destaca que ações como o programa Jovem de Valor para melhorar a gestão e o uso de ferramentas digitais na sala de aula também devem ajudar em um novo avanço.
Análises
“Não existe país desenvolvido sem educação de qualidade” - Olavo Nogueira Filho, Todos Pela Educação
“Os dados do Ideb mostram que o Brasil tem um bom início, mas começa a perder fôlego a partir da segunda parte do ensino fundamental. Quando chega no ensino médio a situação é catastrófica, como a gente vê. Muita gente não o conclui e muitos dos que o concluem não saem preparados para a vida e para o mercado. Enquanto o Brasil não colocar a educação básica como elemento central do seu projeto de país nós não vamos nos desenvolver enquanto nação. Se observarmos nos últimos 20 anos praticamente não houve avanço na produtividade no país. Por outro lado, os países onde há grande produtividade têm educação básica de qualidade, pois ela é um fator fundamental. Ainda que a educação não seja suficiente para tornar um país desenvolvido ela é extremamente necessária. Não existe país desenvolvido sem educação de qualidade.”
“Para ter progresso, tem que investir no capital humano” - João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto
“As notas do Espírito Santo tendem a ficar na média das do Brasil. No ensino médio, quando você olha a diferença com outros, você vê que é muito pertinho. Não há uma diferença qualitativa muito grande. Não há aumentos significativos. Tudo é muito ruim. Mas isso não significa que o Estado não esteja fazendo coisas boas. Para ter progresso, tem que investir no capital humano. Sem isso, a economia evolui pouco. Quanto maior o nível de escolaridade, maiores os rendimentos salariais e produtividade, na economia. Para melhorar o ensino médio, temos duas opções. A longo prazo, só vai melhorar quando melhorar o ensino fundamental, que tem que ter uma média muito maior que o ensino médio. Além disso, a curto prazo, é preciso diversificar as opções de cursos no ensino médio para atrair os jovens. Mais cursos técnicos e mais cursos nas áreas de humanas, exatas e biomédicas.”
“Há fragilidades que se mostram no individual, não no coletivo” - Cleonara Schwartz, doutora em Educação e professora da Ufes
“O Ideb como avaliação de larga escala acaba camuflando algumas coisas e mostrando outras. Não dá para afirmar por ele que a rede do Espírito Santo está excelente e nem que não está. A média inclui tanto alunos muito bons quanto os que não vão tão bem. Creio que é preciso cada diretor, por exemplo, olhar mais para o desempenho individual do aluno. Há fragilidades que se manifestam no individual, não no coletivo. Hoje, empresas têm dificuldades de contratar profissionais e muitas delas fazem até formações internas para melhorar habilidades em leitura e escrita. O futuro é uma sociedade tecnológica onde o indivíduo vai ter que lidar com um grande volume de informação em pouco de tempo. É essa a habilidade que vai se exigir dele. Muitas pessoas que prestam serviços hoje têm dificuldades de entender explicações que são reflexo de sua formação.”
“Nossa educação nascia enquanto os outros ganhavam Prêmio Nobel” - Ítalo Francisco Curcio, doutor em Educação e professor da Universidade Mackenzie
“As metas foram estabelecidas em comparação com outras nações avançadas. A decepção ocorre porque pensávamos que poderíamos atingi-las e não aconteceu. Temos que tirar um atraso histórico. O Brasil tem uma posição econômica entre as dez maiores do mundo, uma grande capacidade grande produção, uma população entre as maiores... era de se esperar uma educação do mesmo patamar. Ocorre que de 1824 até 1946 tivemos cinco constituições que não legislaram sobre a educação. Só fomos ter uma lei de diretrizes e bases (LDB) em 1961. Enquanto a nossa educação nascia, os outros ganhavam prêmios Nobel. A consequência de resultados como esses é que estamos vivendo no país uma manutenção do atraso. Precisamos verificar as metas do Plano Nacional de Educação e analisar por que algumas metas que já venceram não foram cumpridas pelo sistema.”
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