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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pra não dizer que não falei das flores (e até 2016!)

24 de Dezembro de 2015

Fonte: Uol Educação

Ao longo desse ano, tentei falar de educação e do direito à educação, abordando temas noticiados e debatidos em nosso cotidiano. O objetivo foi provocar, promover a reflexão e o diálogo mais denso, menos raso sobre questões importantes para o fortalecimento de nossa democracia. Tarefa nada fácil.
2015 foi complicado. Para ficar no nosso assunto, a gestão da educação, no âmbito nacional, foi prejudicada por corte gigantesco de recursos, na casa dos 10 bilhões de reais; troca de ministros, por motivações meramente políticas (foram três, neste ano); condução incompetente de programas como o financiamento estudantil (FIES).
No nível estadual, governadores preferiram tratar demandas da escola como caso de polícia. Bomba de gás e bordoada em professores e em alunos. Tanta coisa importante para fazer e, na esfera municipal, apareceu uma moção ridícula da Câmara de Vereadores de Campinas (SP), protestando contra a "demoníaca" inserção, no Enem, de "questão de temática de gênero". O mesmo órgão, meses antes, havia aprovado, na primeira de duas votações, a proibição da "aplicação da ideologia de gênero" nas escolas da cidade. Na mistura de incompetência, politicagem, babaquice, caos e violência, pelo Brasil afora, houve até caso de aluno espancando professor.
Não dá pra fugir dos exemplos ruins. A educação, aliás, não pode deixar de enfrentar o que andou mal. Lembra-nos Adorno o perigo de que tudo aconteça de novo está em não se admitir o contato com a questão.
Muitos temas complexos para os quais não há solução pronta e rápida, à venda no mercado. Por isso, a importância de trazê-los ao debate. Isso implica, evidentemente, uma tomada de partido. Não existe neutralidade. Toda narrativa implica um ponto de vista. Há outros. Em sua Introdução Crítica ao Direito, Michel Miaille dizia que nossa experiência, nossa descoberta do mundo não se impõe pela "lógica das coisas". É feita sempre "de certa maneira", de uma perspectiva. Afinal, simplesmente, as coisas não tem uma razão em si. É tudo um construído por nós (na força ou na conversa).
E a verdade é que está muito difícil conversar. A compreensão está prejudicada. Ouve-se e se lê muito pouco. Preferimos imagens e textos curtos. Com limite de caracteres. Então, passamos o olho e rotulamos. Pronto. Emitimos opiniões sobre tudo. Prevalecem generalizações, maniqueísmos, reduções simplistas. A frustração, talvez, diante da paralisia e dos desmandos na economia e na política corrompida fez aflorar o ímpeto autoritário. Por todo canto, soluções finais e extremas, absolutamente rasas. Combate-se a fala alheia, gritando, xingando. Pretende-se a solução da violência de forma violenta.
Apesar de tudo, entendo, ainda, que deveríamos continuar tentando o caminho do diálogo e do aprendizado pelo diálogo. Pois, em matéria de educação (a frase, agora, é de Dewey) o exemplo é mais importante que o preceito. A criança imita, seguindo o padrão de humanidade que vivenciou. Não se ensina nem se aprende o respeito desrespeitando; a inclusão, marginalizando; o diálogo, doutrinando, sem ouvir o que o outro tem para dizer.
Precisamos, urgentemente, melhorar o conteúdo e a forma de nossas ações. Eles estão em contradição. Podemos, quem sabe, aproveitar o fim de ano para parar e pensar no que fizemos, onde erramos e acertamos.
Não dá para ser otimista. Otimista é o capitalista, insensível ao sofrimento alheio e sempre propenso a encontrar a causa dos problemas dos outros em seus próprios vícios (essa fala é de Dewey também).
Mas nem tudo está perdido. Podemos ser bem melhores do que temos sido. Cultivar as flores que, como Brás Cubas, nascem dessa terra e desse estrume. É o meu compromisso para o próximo ano.
Um melhor e mais humano 2016 para todos nós. Obrigado e até lá.

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