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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mulheres que terminaram Ensino Médio têm mais chances de conseguir emprego

30 de Novembro de 2015

No Brasil, 803 mil adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora da sala de aula e tendem a perpetuar a pobreza

Fonte: Correio Braziliense (DF)
As meninas que frequentam regulamente as escola terminam o Ensino Médio têm mais chances de conseguir um bom emprego e salários acima da média do mercado. O impacto da Educação na vida dessas jovens é tão profundo que os filhos delas tendem a ser mais saudáveis e a se colocar em melhor posição quando, adultos, forem em busca de um emprego. Apesar de todas as pesquisas confirmarem o quanto uma boa formação escolar faz diferença, uma em cada três meninas da América Latina não consegue chegar ao fim do ensino secundário.
O Brasil tem parcela grande de responsabilidade por esse quadro desanimador na região. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, no país, 943 mil garotas entre sete e 17 anos estão fora da escola, apesar da obrigatoriedade de matrícula nessa faixa etária. Desse total, a maioria, 803 mil, é composta por adolescentes entre 15 e 17 anos.
Os dados apavoram não apenas as famílias dessas meninas, que têm as perspectivas de futuro inevitavelmente afetadas, mas toda a sociedade. No entender da professora Carmen Migueles, especialista em Educação da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape), o impacto de uma criança fora da escola na reprodução da pobreza é muito maior se ela for do sexo feminino. “A Educação das garotas é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. A baixa escolaridade delas é a raiz da miséria. É a fragilidade social feminina o principal fator que leva à pobreza e à violência”, afirma.O descaso com a formação educacional feminina é global. Mais da metade — 52,3% — das 59,3 milhões de crianças fora da escola no mundo são do sexo feminino.
Isso significa que 31 milhões de garotas em idade escolar não estão estudando, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Delas, 17 milhões nunca pisarão em uma sala de aula — muitas, por restrições da própria família. “Quanto maior o número de garotas fora da Escola , maior o baque no desenvolvimento do país. A pobreza tem gênero: ela é feminina”, alerta Carmen.Os números assustam, acrescenta a professora. Ela ressalta que mais de 80% dos miseráveis do mundo são mulheres e crianças com menos de 10 anos. “As mães de menor renda não têm suporte à maternidade, o que faz com que criem crianças em situação vulnerável. Como muitas são abandonadas pelos maridos e não podem deixar os filhos sozinhos, criam famílias sem perspectiva de melhora econômica, o que perpetua a miséria”, explica.
Filme repetidoNo favela do Sol Nascente, no Distrito Federal, a triste realidade se impõe. “Sempre gostei da escola, quando frequentava. Matemática era minha matéria preferida”, lembra Ketlen Juliana dos Anjos, 15 anos. Ela deixou a sala de aula antes de terminar o quarto ano do ensino fundamental, logo depois de descobrir que estar grávida aos 13 anos. “Fiquei sem opção”, diz, com voz contida, o rosto abatido pelo cansaço.A mesma decisão foi tomada pela mãe da Juliana, quando tinha a mesma idade da filha.
“Talvez por isso ela não tenha ficado irritada comigo, nem com as minhas duas irmãs, que também abandonaram a escola”, ressalta a menina. “É como se a vida se repetisse”, acrescenta. Priscila, 21, a irmã do meio de Juliana, deixou a sala de aula antes de terminar o ensino fundamental, para se dedicar à nova família.Na casa de Priscila, em Ceilândia, enquanto o marido garante o salário, no lixão, ela cuida dos dois filhos. Jaqueline, 28, a irmã mais velha, conseguiu ir um pouco além: foi a única mulher da família a ingressar no ensino médio. Mas desistiu de continuar os estudos antes de chegar ao segundo ano, quando engravidou pela primeira vez.
“Depois disso, ela teve mais dois filhos. Nunca mais voltou para a escola", conta Juliana, desanimada, como se estivesse prevendo o próprio futuro. Pelos cálculos da ONU, das jovens que avançam até o ensino médio, 45% não se formam.
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Famílias estimulam abandono
A família é a maior responsável pelo abandono das salas de aulas pelas crianças, sobretudo se elas forem mulheres. Na maioria dos casos, é um parente próximo que estimula a interrupção do Ensino sem saber que, naquele momento, está condenando as menimas a um futuro pouco promissor. Que o diga a maranhense Luana Araújo, 19 anos. Quando tinha 16, a pedido do tio, ela abandonou os estudos, em Barreirinhas (MA), para cuidar dos primos, em Brasília.
O pai, que continuou no Maranhão, trabalhando na roça, nunca se opôs à ideia. Desde que chegou à capital, Luana nunca mais pisou em uma Escola, nem para completar o Ensino básico, que cursou até o sexto ano. Hoje, com um filho de 6 meses e em inegável dependência financeira do marido, a única pretensão profissional da jovem — que, quando criança, queria ser médica — é se tornar faxineira ou babá.Segundo a coordenadora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Rebeca Otero, normalmente os pais dessas crianças, por também não terem alto grau de Escolaridade, consideram normal trocar a Escola pelo trabalho.
Mas a falta de orientação não é uma falha apenas das famílias, que são, em muito casos, pouco orientadas. Como o sistema Escolar não atrai as crianças, quando elas não se sentem acolhidas nas salas de aula, vão embora. “Pessoas mais pobres, com histórico familiar difícil, não têm ninguém que as motive a continuarem os estudos. Se a família não é educada e não incentiva as meninas a acordarem cedo e a se dedicarem ao aprendizado, elas acabam desistindo”, afirma a Professora Carmen Migueles, da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ebape).

Perigos
Quando foi expulsa da Escola, em junho deste ano, Thaynara Pacheco, 14, não ficou tão preocupada. Ela estava cursando a quinta série pela terceira vez. Foi desligada do colégio por excesso de faltas. “Nem minha mãe se importou muito, ela entendeu a situação. Eu estava sem vale-transporte para pegar o ônibus. Então, ficava caro frequentar a Escola”, justifica. A vizinha Iara Eduarda, 17, também desistiu de estudar por dificuldades com o transporte público. “Demorava mais de uma hora pra chegar em casa depois da aula, que era à noite. O ônibus só fazia metade do trajeto. Chegava de madrugada”, conta.

Essas meninas consolidam um dos maiores desafios para a terceira meta do Plano Nacional de Educação (PNE), do governo federal, que pretende matricular todos os adolescentes de 15 a 17 anos na Escola até 2016. Conforme a Unesco, as matrículas de meninas são sensíveis à distância e a problemas de infraestrutura.

“Para manter as crianças estudando, é cuidar do entorno do colégio, para que elas não se sintam ameaçadas no caminho”, afirma Rebeca Otero. Como as meninas são mais vulneráveis à violência sexual, quando sabem que há perigos no trajeto, os pais concordam que elas deixem de estudar.

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