Dizer que a universidade pública é elitista é um argumento fora do contexto atual. A expansão das universidades e as cotas mudaram esse paradigma
Fonte: Carta Capital
A experiência de escrever, na condição de reitora, para uma coluna deste veículo trouxe à tona a reflexão sobre os principais temas relacionados à educação e que poderiam ser de interesse dos leitores, em particular no que diz respeito à educação pública e o papel das universidades em nosso país.
Em alguns dos artigos que publicamos anteriormente, comentários postados no portal e nas redes sociais trouxeram colocações instigantes, bem como elementos para um possível diálogo e aprendizado.
Em um ano em que o assunto educação ganhou projeção inesperada, viemos a público para dizer que para existir a pátria educadora é necessário mais investimentos e menos cortes por se tratar de área estratégica para o desenvolvimento da nação.
Ainda com relação à interação dos leitores, um outro aspecto chamou a atenção. A impressão de uma parte da sociedade de que a universidade pública é para os filhos dos mais ricos e para a formação de uma elite.
Na verdade, o processo de expansão ocorrido nas universidades e institutos tecnológicos federais, junto com a lei que vinculou 50% das vagas a cotas raciais e de escola pública, além do ingresso universal pelo sistema ENEM - SiSU, produziu mudanças profundas, embora ainda necessitem de ajustes. Não é possível prever a que tipo de modificação estamos envolvidos, mas já é possível dizer que as universidades e institutos nunca mais serão os mesmos.
Uma das maiores argumentações de articulistas do passado era de que a universidade pública seria elitista. Esse é um argumento fora do contexto atual. O que temos hoje é a presença de toda a diversidade socioeconômica, cultural, racial e política presente, e muito viva, no interior das nossas instituições. Essa mudança no perfil do estudante e do servidor deve ser analisada pois tem gerado um sentimento de incompreensão ou de revolta, mas mostra uma universidade em pleno processo de transformação.
Uma das maiores argumentações de articulistas do passado era de que a universidade pública seria elitista. Esse é um argumento fora do contexto atual. O que temos hoje é a presença de toda a diversidade socioeconômica, cultural, racial e política presente, e muito viva, no interior das nossas instituições. Essa mudança no perfil do estudante e do servidor deve ser analisada pois tem gerado um sentimento de incompreensão ou de revolta, mas mostra uma universidade em pleno processo de transformação.
A mudança é também de postura. Um dos exemplos de inserção da universidade em políticas públicas é o envolvimento dela com o enorme programa de formação continuada aos professores da rede pública que vem sendo desenvolvido.
A universidade federal se abriu e saiu de seus muros para levar aos professores do ensino infantil, básico e médio mais acesso à uma formação continuada de qualidade. Exemplo disso é o programa de cursos de especialização semipresenciais que têm sido oferecido por diversas universidades para os professores da rede. Só na cidade de São Paulo, milhares de vagas e dezenas de cursos gratuitos são oferecidos em 31 Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade. Fica evidente que as universidades públicas terão papel fundamental para atingir o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) até 2023. Há outros exemplos que gostaria de contar nas próximas oportunidades.
Por fim, resta saber por que a sociedade ainda desconhece suas instituições e o que elas produzem de bom. Provavelmente não estamos falando o suficiente ou temos ainda certo acanhamento em divulgar. Precisamos dialogar mais e buscar mais espaços para nos disponibilizar para essa mesma sociedade que nos mantém.
Este texto é um convite à reflexão e uma tentativa de que mais pessoas conheçam o que as universidades são capazes de produzir, os seus acertos e os dramas de ser o próprio reflexo da sociedade. Que elas estejam cada vez mais acessíveis, aberta e concatenando seus objetivos com as necessidades da população. Felizmente, este é um processo em construção e que pertence a todos nós.
*Soraya Smaili é Reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
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