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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Em busca do aluno perdido

28 de Setembro de 2015

Governo de Minas pretende levar 158 mil jovens de volta à escola

Fonte: Estado de Minas (MG)
A secretária de Estado da Educação, Macaé Evaristo, de 50 anos, defende que sejam feitos projetos estruturantes para melhorar a qualidade da rede pública em Minas. Entre essas ações, ela destaca a melhoria do salário dos Professores e da qualidade da infraestrutura da Escola. Para melhorar a qualidade do Ensino no estado, ela aposta no programa Virada Educação Minas Gerais e na Educação integral.
Uma das metas é fazer com que 158 mil estudantes com faixa etária entre 15 e 17 anos voltem para os bancos Escolares. Até 30 de outubro, estão abertas as inscrições para jovens nessa faixa etária que desejem regressar aos estudos em 2016. Mais informações podem ser obtidas no www.novotempo.educacao.mg.gov.br.
Macaé lembra que frequentou os bancos das Escolas públicas. Ela se formou como normalista e dedicou toda a carreira, como concursada, ao Ensino na rede pública. Foi Professora de anos iniciais, de jovens e adultos, além de coordenadora pedagógica. Também atuou como diretora de Escola e trabalhou na formação de Professores indígenas.
Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, ela falou do acordo para reajustar em 31,78% o salário da categoria em dois anos, da meta de nomear 15 mil Professores por ano como forma de resolver, até 2018, o problema dos contratos precários com Professores designados. Também anunciou aumento de 100% no valor que será investido na merenda Escolar, que passará de R$ 150 milhões por ano para R$ 300 milhões. Ela destaca que, antes, a alimentação era uma atribuição exclusiva do Ministério da Educação (MEC). Agora, o governo do estado também fará um aporte de igual valor.
Dados da Secretaria de Estado da Educação (SEE) apontam que 158 mil jovens com idade entre 15 e 17 anos estão fora da Escola. Quais são os fatores que levam ao distanciamento do jovem da Escola?
A primeira coisa é entender que temos um fenômeno, que não é só mineiro e brasileiro, de certo desestímulo do jovem com a instituição Escolar. Há explicações diversas. A geração dos dias de hoje, em que há uma profusão de tecnologia e produção de conhecimento muito rápida, tem dificuldade de se concentrar. O conhecimento é pensado de forma fragmentada e isso é uma tendência que pega forte a juventude. Temos fenômenos geracionais e uma parte da questão que está ligada à própria instituição Escolar, à forma como ela se organiza, à sua capacidade de inovar para dar conta de dialogar com esse público. Questões ligadas à necessidade precoce de entrar no mundo do trabalho e outros problemas sociais que afligem a juventude explicam por que muitos estão fora. O que é importante, e a secretaria tem feito muito esse debate, é fazer uma articulação melhor entre família, Escola e outras instituições que atuam com juventude para a gente construir um processo de reencamentamento do jovem com o conhecimento.

O reencantamento do jovem passa por onde?
Primeiro, passa por um cuidado com a Escola pública. Chamo atenção para isso, porque, em Minas Gerais, temos 4,7 milhões de matrículas para a Educação básica na rede pública. Quem garante a Educação dos mineiros é a Escola pública. Muitas vezes, há um discurso de valorização da Escola pública, mas a gente não percebe isso no dia a dia da política pública nem do cidadão. Você tem uma Escola no seu bairro, mas, que tipo de relacionamento tem com ela? Tem cuidado, preocupação? Participa das atividades, contribui com uma agenda de desenvolvimento educacional? É importante trabalhar numa reconexão da ideia da Escola pública com as comunidades. No nosso país, há uma tradição de que o público não é de ninguém. Ou se ele é de alguém, é do Estado. Mas não, a Escola é nossa. Todo o movimento que estamos fazendo é no sentido de chamar atenção para essa questão da juventude: os que estão fora da Escola e os que estão na Escola. Temos que trabalhar na criação de um engajamento, da secretaria, da Escola, dos próprios jovens. Um jovem de 15 a 17 anos precisa pensar no seu projeto de formação. Ele tem capacidade de se apropriar, de compreender e pensar um projeto de vida.

A senhora ressalta que é relevante que a comunidade acolha a Escola. De que maneira o Estado pode despertar ou, de alguma forma, induzir essa participação?
Este ano, fizemos uma agenda que foi muito bacana. Estamos saindo dela agora com essa chamada para os jovens: a Virada Educação. Uma chamada às comunidades para conhecerem os projetos pedagógicos, as iniciativas das Escolas e contribuírem com a Escola pública. Não temos um balanço final, mas tivemos mais de 2 mil Escolas envolvidas no nosso estado, que tiveram sábado de abertura para a comunidade. As famílias foram para as Escolas, fizeram coisas. Diretor fez teatro junto com Aluno. Aluno Ensinou algo para Professor. A comunidade foi para a Escola. Criar ambiente de “comunidade de aprendizado”, no nosso estado, é fundamental. Como a gente contribui para isso? Criando uma cultura de possibilidade de a comunidade conhecer, de estar na Escola. No final do ano, teremos processo de eleição de diretores de todas as nossas Escolas. É um momento importante. Queremos insistir muito nesse processo de eleição, para que abarque o debate pedagógico. Passado o processo de eleição dos diretores, teremos, no início do ano, os colegiados Escolares. Estamos trabalhando com a ideia de ter um dia no estado para fazer essa eleição. O colegiado tem uma atuação importante.
Recentemente, o Estado de Minas publicou matéria mostrando a falta de Professores na Educação básica e o desinteresse pelos cursos de licenciatura. Como esse profissional pode ser resgatado? Como a senhora avalia essa falta de interesse social pela carreira de Professor do Ensino básico?
A gente vive processo de fragilização da Escola pública. A gente viveu processo de fragilização do profissional de Educação, da função, do lugar social do Professor, que passa pela carreira e condições de trabalho. No caso de Minas, nós avançamos este ano, porque conseguimos fazer um acordo com trabalhadores da Educação em torno do piso. Isso era uma crise muito grande, que impedia diálogo mais próximo da Secretaria de Estado da Educação com as Escolas. Fazer um acordo com os trabalhadores foi um movimento importante. É um desafio brasileiro valorizar a formação e carreira do Professor. O número grande de pessoas que atuam na Escola sem a formação específica na área é resultado da desvalorização do lugar social da Educação. No estado, um terço é concursado, um terço designado e um terço são aqueles ex-efetivados. Portanto, nós temos dois terços da Educação em contratos precários. Desde o início do ano, temos feito esforço grande de nomeação de Professores. Ter uma agenda de concurso público garante uma adesão de profissionais devidamente habilitados e certificados para as áreas que vão trabalhar.

O reajuste acordado foi de 31,78% em um período de dois anos. O Brasil passa por um momento de crise. Os projetos de Educação requerem investimento. Há riscos em função da crise?
A gente falar de crise é prematuro, porque é tentativa de futurologia. Tem que ser bem efetivo. Todo esforço da secretaria para cumprir com aquilo que foi acordado. Nós temos uma lei, foi uma negociação importante. Eu, como secretária, tenho duas grandes tarefas: fazer o acordo e cumpri-lo. Vamos lutar com todas as armas para arcar com a responsabilidade. Mais do que isso, a Educação precisa de muito investimento. Temos que melhorar a remuneração dos Professores. Mas condição de trabalho também é investir nos profissionais. Quando olho para estrutura de nossas Escolas acho que ela precisa melhorar. É necessário garantir que haja uma boa biblioteca, a comunidade tem que cuidar desse patrimônio.Temos também um esforço grande com alimentação Escolar. A melhor notícia que quero dar é que estamos aumentando em 100% o recurso para merenda Escolar.

A partir de quando?
Agora. O governador já autorizou. Até então eram R$ 150 milhões/ano, recurso que o governo federal colocava. O estado de Minas não colocava nenhum centavo. Agora o estado vai colocar R$ 150 milhões/ano para a alimentação Escolar e vamos melhorar sua qualidade. A outra medida é que teremos uma nutricionista em cada uma das superintendências regionais de Ensino para fazer uma orientação regionalizada dos cardápios.
Um outro sonho das pessoas que atuam na área da Educação é a Escola integral. Como está a questão no estado?
Minha militância na Educação é o debate da Educação integral. Nós estamos retomando essas questões em Minas, ampliando o conceito. Passando da ideia de uma Escola de tempo integral para a de Educação integral, no sentido de que a gente precisa garantir uma ampliação do tempo do estudante em experiências educativas. Isso não significa, necessariamente, fazer sete horas de atividade por Aluno em uma Escola que não comporte aumento de carga. Mas se você olha o potencial educativo das comunidades, você pode garantir atendimento integral utilizando outros espaços e outros equipamentos públicos.

Foram feitas 9 mil nomeações. O que isso representa para resolver o déficit de dois terços de Professores em contratos precários?
Nós traçamos uma meta que é fazer em torno de 15 mil nomeações por ano. Nesse ritmo, chegaríamos a 2018 com mais de 60% do quadro de Professores das Escolas estaduais concursados e com formação na área específica que ele está trabalhando. É uma mudança muito grande no perfil dos profissionais. Não se faz uma boa Escola de um dia para o outro. É um processo. Se temos bons resultados nos anos iniciais, isso não é fato quando chega no final do Ensino médio. Só temos 4% que saem com competência que consideraríamos adequada para um jovem que está terminando o Ensino médio. Temos que ter agendas estruturantes: fazer concurso público, nomear os Professores, investir na formação, melhorar a infraestrutura. Não tem nada de novo. O que tem de novo é fazer.

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