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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Opinião: Educação - um caminho para o futuro

25 de novembro de 2014

"O modelo de escola tradicional mostra-se inadequado para formar pessoas capacitadas nos diversos talentos necessários para atuar num mundo inteiramente conectado", afirma Jorge Carrano

Fonte: Gazeta do Povo (PR)



A educação é, obrigatoriamente, o primeiro passo para a desejada sociedade mais justa. Mas para isso a escola precisa estar em sintonia com o nosso tempo, e formar também pessoas melhores. Necessitamos de indivíduos e profissionais mais qualificados para todos os aspectos da vida, que não sejam apenas combustível para o modelo econômico atual, que prioriza resultados de curto prazo em detrimento de abordagens de negócio mais sustentáveis.
Não podemos assumir que o diploma universitário é o único passaporte para uma vida feliz e de sucesso econômico. Os jovens têm seus sonhos, e esses não envelhecem, já cantou o poeta. Porém, são inúmeros os casos de jovens que entraram na universidade para seguir um desejo (quando não uma determinação) de seus pais. Seja porque eles, os “velhos”, se frustraram por não seguir determinada carreira, ou o contrário, justamente por seguirem essa profissão querem que os filhos aproveitem parte do caminho percorrido.
O resultado é uma massa de profissionais infelizes que, obviamente, se tornam maus profissionais, e cujo destino frequente é o consultório de um psicólogo. Nos casos mais graves, há dependência de álcool, tabaco, drogas e até suicídio.
Em 1988, o cientista e escritor Isaac Asimov deu uma entrevista na qual previa que, no futuro, o processo de educação seria totalmente diferente. Haveria mudanças fundamentais, como a continuidade do hábito de estudar além dos anos normais de escola. A pessoa, afirmava ele, estudaria por toda a vida. E estudaria o que gosta, pois, quando gostamos de uma coisa, queremos estudá-la, conhecê-la e praticá-la cada vez mais. A escola daria as ferramentas básicas, como alfabetização, noções de Matemática, orientações gerais, inclusive sobre “como estudar”.
O processo de educação seria, assim, parte do processo de construção da felicidade em nossas vidas, pois nos permitiria fazer as escolhas que desejássemos.
Já foram publicadas também muitas previsões de que a tecnologia extinguiria o papel do professor. É fato que as novas tecnologias permitem que os alunos estudem sozinhos, em qualquer lugar. A internet torna possível estudar qualquer assunto. Mas nem de perto isso significa a obsolescência do professor ou da escola.
Outra crítica recorrente é quanto à qualidade da informação disponível na internet, e o quanto podemos confiar nela. Embora verdade, é fato também que os livros didáticos estão cheios de erros, imprecisões e, pior, visões distorcidas da história para atender a momentâneos interesses políticos.
O papel do professor tem mesmo de mudar, mas por outro motivo. E a razão é que não faz mais sentido uma escola e um processo educativo que foram pensados para a sociedade de massa. No início da era industrial, era preciso formar trabalhadores qualificados para abastecer as fábricas. Assim como os parafusos, os operários precisavam ser muitos, padronizados e produzidos em grandes volumes.
Na sociedade do conhecimento, essa lógica não se aplica. O modelo de escola tradicional mostra-se inadequado para formar pessoas capacitadas nos diversos talentos necessários para atuar num mundo inteiramente conectado.
As informações sobre qualquer assunto hoje estão muito acessíveis. O papel da escola não deveria ser ensinar a todos a mesma coisa, mas permitir que cada um desenvolva suas potencialidades. Algo como deixar que todas as matérias fossem “eletivas”, para usar termo comum nas universidades.
Escola é mais do que o espaço de aprendizado formal. É parte vital de nossa formação social, da capacidade de dividir e compartilhar espaços com outros indivíduos. Deve servir também para a discussão de ideias e estimular a multiplicidade de visões.
Vivemos numa época de circulação de informações em velocidades sem precedentes. Ironicamente, em vez de aproveitarmos a oportunidade de aprender sobre o “diferente”, nos tornamos uma sociedade intolerante, avessa à diversidade de opinião. E isso nos empobrece como profissionais e pessoas.
*JORGE CARRANO, PRESIDENTE DA AGÊNCIA TAU VIRTUAL

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