27 de setembro de 2014
Um terço das crianças de projeto da prefeitura foi reprovado em 2013
Fonte: O Globo (RJ)
Estar no 3º, 4º ou 5º ano do Ensino fundamental, com 8, 9 ou até 10 anos de idade, sem saber ler e escrever já seria por si só uma realidade dramática para qualquer estudante da rede municipal do Rio. E, para reverter esse quadro, a Secretaria de Educação criou, há pouco mais de quatro anos, um projeto chamado de "reAlfabetização": a ideia foi separar esses Alunos em classes onde passam por reforço, para tentar aprender o conteúdo básico que ficou para trás. Mas números levantados pelo GLOBO no Data Rio, portal de dados abertos da prefeitura, mostram que a iniciativa pode estar gerando em muitas crianças uma dupla frustração. Em 2013, as turmas desse programa foram as que registraram os maiores índices de reprovação: 33,2%. Ou seja, de 6.959 matriculados, 2.307 (ou um em cada três estudantes) não conseguiram, numa segunda tentativa, se alfabetizar.
- Não é qualquer Professor que consegue trabalhar nessas turmas. São crianças com graves dificuldades sociais, problemas familiares, alguns já usuários de drogas, com a autoestima muito baixa... As classes em geral têm 25 Alunos, é difícil conseguir dar conta. Às vezes, tenho a sensação de que estou lidando com crianças que estão sendo jogadas para debaixo do tapete. Mas sigo no projeto porque conseguir fazer com que um estudante desses saia, enfim, aprendendo a ler e escrever é algo extremamente gratificante - desabafou uma Professora que trabalha numa Escola no Complexo da Maré.
Fora do Prova Brasil
A subsecretária municipal de Ensino, Jurema Holperin, respondeu ao GLOBO por e-mail e defendeu o projeto, mesmo com a reprovação registrada no ano passado: "Apesar de o índice estar aquém do que se deseja, é importante ressaltar que a Escola não vinha lidando de frente com o Analfabetismo e nós resolvemos enfrentá-lo, acreditando no potencial de nossos Alunos. Queremos que todos consigam, mas tirar 70% da situação de fracasso mostra que o caminho é esse", disse ela, lembrando que o Rio teve uma greve de Professores no ano passado.
A subsecretária municipal de Ensino, Jurema Holperin, respondeu ao GLOBO por e-mail e defendeu o projeto, mesmo com a reprovação registrada no ano passado: "Apesar de o índice estar aquém do que se deseja, é importante ressaltar que a Escola não vinha lidando de frente com o Analfabetismo e nós resolvemos enfrentá-lo, acreditando no potencial de nossos Alunos. Queremos que todos consigam, mas tirar 70% da situação de fracasso mostra que o caminho é esse", disse ela, lembrando que o Rio teve uma greve de Professores no ano passado.
Como estão separados das classes regulares, os Alunos da "reAlfabetização" não participam, por exemplo, da Prova Brasil, exame que é aplicado aos estudantes para compor a nota final do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb). Os dados de reprovação, porém, segundo a Secretaria de Educação, são incluídos. Em 2013, a rede municipal da capital estacionou no Ideb: nos primeiros anos do Ensino fundamental, caiu dos 5,4 de 2011 para 5,3; e, nos anos finais, manteve os 4,4.
A coordenadora geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Suzana Gutierrez, criticou a falta de apoio para o projeto e acrescentou que a situação pode ser ainda mais grave do que mostram os números:
- Falta apoio e há muita cobrança, inclusive pressão para que os Alunos sejam aprovados.
- Falta apoio e há muita cobrança, inclusive pressão para que os Alunos sejam aprovados.
A subsecretária Jurema Holperin informou, por sua vez, que "as turmas recebem material específico e os Docentes participam de uma capacitação inicial para atuarem no projeto e, ao longo do ano, acompanhamento sistemático de Professores tutores".
Os dados levantados pelo GLOBO também revelam que é na 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) - que engloba, além da Maré, comunidades como a de Vigário Geral - onde o drama da reprovação é ainda maior. Nas turmas chamadas de "reAlfabetização 1", voltadas para esses Alunos de 3º a 5º ano que não sabem ler e escrever, o índice dos que não conseguiram passar chegou a 40,7% em 2013. De 506 matriculados, 206 foram reprovados. A 4ª CRE também foi aquela com o maior índice geral de reprovação no Ensino fundamental da rede municipal, somadas todas as séries: 14,5%, ou 8.167 estudantes de um total de 56.186.
Sobre essa região, a subsecretária Jurema Holperin afirmou que já há projetos de reforço Escolar em andamento e que a prefeitura "vai construir um Campus Educacional que reunirá em um mesmo lugar sete novas unidades". Até 2016, segundo ela, a região vai receber um investimento de cerca de R$ 236 milhões, possibilitando que "mais de dez mil crianças passem a estudar em turno único, com sete horas de aula por dia".
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