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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mortalidade infantil está diretamente associada à falta de estudo dos pais


26/08/2013
No País. Estatística compilada pelo "Estadão Dados" mostra que, para cada ponto porcentual retirado da taxa de analfabetismo da população adulta, a morte de crianças cai 4,7 pontos; fator tem mais influência do que a pobreza e a falta de saneamento básicoLucas de Abreu Maia
José Roberto de Toledo
Rodrigo Eurgaretti
Nada mata mais crianças no Brasil do que a ignorância. Pesquisa do Estadão Dados mostra que nenhuma outra de 232 variáveis testadas influi mais nas mortesna infância do que a falta de estudo dos adultos. Nem falta de dinheiro, de água ou esgoto têm impacto maior.
Os dados se referem aos 5.565 municípios brasileiros, foram coletados durante o Censo 2010 e compilados peloAtlas de Desenvolvimento Humano no Brasil. Eles foram usados para criar um modelo explicativo dos indicadores que poderiam causar a mortalidade de crianças de até 5 anos. Por meio de métodos estatísticos, foi possível ver que a maior causa desse tipo demorte estárelacionadaà taxade alfabetização da população com mais de 18 anos.
Para cada ponto porcentual retirado da taxa de analfabetismo da população de 18 anos ou mais, a taxa de mortalidade de crianças até 5 anos cai 4,7 pontos. Na prática, se 1% dos adultos de uma cidade é alfabetizado, em média, mais 47 crianças sobrevivem àprimeirainfância, a cada 10 mil nascimentos. "Às vezes, a casanão tem saneamento básico, mas se a mãe tem um pouco de educação, consegue que o filho tenha acesso aos programas sociais do governo", disse o pesquisador do IBGE Celso Simões, autor de estudo que chegou a conclusão similar.
O gráfico acima mostra como essas duasvariáveis estãore-lacionadas. Cada ponto representa um município. Ao seguir uma tendência diagonal, o conjunto desses dados revela que quanto maior o analfabetismo, maior a taxa de mortalidade na infância. Cidades como Olho D"água Grande (AL) são exemplos onde esses dois índices são altíssimos - 50 crianças de até 5 anos morrem por ano e 46% dos adultos são analfabetos. Blumenau (SC) está no outro extremo, com taxa de mortalidade cinco vezes menor e apenas 2% de analfabetismo entre adultos.
O impacto da alfabetização de adultos sobre a mortalidade de crianças é duas vezes maior do que o da pobreza. O segundo fator com maior peso para evitar mortes infantis é aumentar a fatia da renda dos 20% mais pobres. Cada ponto porcentual a mais na renda faz diminuir 2,8 pontos da taxa de mortalidade na infância.
O terceiro fator estudado que diminui a mortalidade na infância é o acesso a águae esgoto. Mas o impacto é bem menor do que o do analfabetismo e da pobreza. A cada ponto porcen-tual a menos de população sem saneamento básico, a mortalidade na infância cai 0,8 ponto. Combinadas, as três variáveis -analfabetismo, pobreza e água/ esgoto - explicam 62% da taxa de mortalidade das crianças com até 5 anos no Brasil. O modelo é consistente também no tempo. Aplicado aos dados do Censo de 2000, seupoder de explicação é ainda maior: 69%.
O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Ca-saJoséCássio de Moraes ressalta que a maior educação mater-natambémaumentaaschances de doenças infantis serem diagnosticadas mais cedo: "A mãe com nível educacional melhor reconhece mais rapidamente os sintomas de doenças." / COLABOROU DIEGO RABATONE

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