15 de agosto de 2013
Autor: Fabio Giambiagi
Nesta
série de artigos que estou escrevendo acerca de temas demográficos, em nossos
encontros anteriores tratamos o caráter universal da maior longevidade, a
mudança do perfil demográfico brasileiro, a importância da revisão populacional
do IBGE de 2008, as novidades do Censo 2010, o fato de nascerem mais meninos do
que meninas, o envelhecimento por “ondas” e a relação entre o crescimento da
população e o PIB. O tema de hoje é a perspectiva de encolhimento da População
Economicamente Ativa (PEA).
A tabela
apresenta a perspectiva de evolução da população em idade intermediária no
Brasil entre 2013 e 2050, conforme projeção do IBGE. Por “população em idade
intermediária” entende-se a que está longe dos extremos, isto é, que não é nem
criança/adolescente, nem idosa. A princípio, representa a população em idade de
trabalhar. O que é “idade de trabalhar”, porém, é algo elástico, pois é possível
ter um jovem de 20 anos sem trabalhar e ainda estudando, assim como é possível
ter uma pessoa de 70 anos e ainda trabalhando. Por conta dessa dificuldade,
trabalhamos aqui com três universos, tomando como referência inicial o grupo
mais abrangente, entre 15 e 64 anos. Desse grupo retiramos então os subgrupos
extremos: num caso, o de pessoas de 60 a 64 anos, o que nos deixa com o
subgrupo de 15 a 59 anos; e no outro, o de jovens de 15 a 19 anos, o que nos
deixa com o subgrupo de 20 a 64 anos. Em números arredondados, a estimativa do
IBGE é que o Brasil em 2013 tenha 119 milhões de indivíduos de 20 a 64 anos;
129 milhões de 15 a 59 anos; e 136 milhões de 15 a 64 anos.

O tamanho
da população de cada grupo varia um pouco, mas a evolução das taxas de
crescimento populacional de cada um deles conta mais ou menos a mesma história,
com três denominadores em comum: 1) a taxa de crescimento populacional dos
adultos é positiva inicialmente e negativa depois; 2) já a partir da década de
30, a taxa de variação se torna negativa; e 3) na comparação entre 2013 e 2050,
a taxa de crescimento média de cada grupo é próxima de zero, ainda que em
alguns casos seja ligeiramente negativa e em outros ligeiramente positiva.
É
possível argumentar que o grupo que melhor capta a capacidade de contribuição das
pessoas para a geração de riqueza é a terceira coluna, que inclui os indivíduos
de 20 a 64 anos. É razoável, pois pode-se admitir que os jovens irão cada vez
mais se concentrar no estudo e adiar o ingresso no mercado; e que haverá uma
tendência a “esticar” a permanência na ativa. Mesmo nesse caso, em que o
crescimento do grupo é maior, observa-se que o contingente nessa faixa etária
aumenta 1,2 % a.a. entre 2013 e 2020, mas a taxas declinantes, que já se tornam
negativas entre 2030 e 2040. Para entender a importância dessa dinâmica, basta
citar que entre 2030 e 2050, este grupo de indivíduos de 20 a 64 anos de idade
“encolherá”, de 137 milhões para 127 milhões de pessoas.
Teremos
que tornar mais produtivo quem já saiu da escola e ainda tem pela frente 20 ou
30 anos na ativa

Da
leitura desses números, chega-se a três conclusões da maior gravidade. A
primeira conclusão é que, quando se combinam essas informações com a evolução
da população idosa, o país tem pela frente um desafio maiúsculo: enquanto que
entre 2020 e 2050 a população entre 20 e 64 anos irá diminuir em 2 %, o grupo
de pessoas com 65 anos de idade ou mais irá aumentar em nada menos que 156 %, o
que significa que a razão de dependência (coeficiente entre número de idosos e
população em idade de trabalhar) irá dar um salto.
A segunda
é que o crescimento futuro da economia irá depender essencialmente da
produtividade. Tomando como base 2013 e comparando com a expectativa que se tem
para 2050, em termos acumulados a população de 15 a 59 anos irá cair 5 %, entre
15 e 64 anos irá crescer apenas 2 % e o grupo de 20 a 64 anos irá se expandir
um pouco mais, mas menos de 7 %. Anualizadas, todas as taxas dão números
próximos de zero, como já salientado. No futuro, portanto, “crescimento do PIB”
terá um nome: produtividade.
A
terceira conclusão é que para sermos mais produtivos, teremos que educar mais
nossa juventude e – eis um enorme desafio – teremos que tornar mais produtivo
quem já saiu da escola e ainda tem pela frente 20 ou 30 anos na ativa. Caso
contrário, vamos perder o bonde da história. Temos um duro caminho pela frente.
Quem viver, verá.
Fonte:
Valor Econômico, 14/08/2013
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