PESQUISA

domingo, 24 de março de 2013

Brasil fica para trás em inovação

24/03/2013

Os países emer­gentes reduzi­ram considera­velmente a dis­tância que os se­para das potên­cias no que diz respeito à pes­quisa e à inovação, áreas funda­mentais para dar sustentação ao razoável desempenho econô­mico que essas nações tiveram nos últimos anos. O Brasil apre­sentou alguns avanços, como mostra um levantamento da empresa de informação Thomson Reuters, mas o perfil do País indica atraso em áreas es­senciais, como engenharia, quí­mica e física. Para os autores da pesquisa, essa deficiência pode significar uma limitação importante para o desenvolvi­mento econômico no futuro. O problema é o de sempre: o in­vestimento em inovação, tanto público quanto privado, é bai­xo e direcionado apenas para certas áreas do conhecimento, normalmente ligadas à nature­za, negligenciando setores que possibilitariam um salto estru­tural importante, como tecno­logia e ciências físicas.
O levantamento da Thomson Reuters mostra que, há 40 anos, dois terços das pesquisas publicadas se originavam de países do G-7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo. Hoje, o G-7 responde por menos da metade. O qua­dro mudou graças ao cresci­mento acelerado das pesquisas em cinco países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e Coreia do Sul.
Para os padrões europeus e da OCDE, o investimento em pesquisas, num país desenvolvi­do, deve ser de algo em torno de 2% do PIB. Com exceção da Coreia do Sul, que investe mais até do que a Alemanha, os paí­ses emergentes citados no estu­do ainda não estão nesse pata­mar, mas seus autores salien­tam que não é apenas uma questão de dinheiro - isto é, não basta construir laborató­rios ou pagar bons salários aos pesquisadores. O importante é que o sistema educacional des­ses países seja transformado pa­ra criar uma geração intelec­tualmente preparada para esse desafio, e isso leva tempo e re­quer políticas de Estado firmes e contínuas. Alguns emergen­tes já tomaram essa providên­cia há algum tempo, e o caso sul-coreano é o mais notável, enquanto outros patinam, co­mo o Brasil, a Índia e a Rússia.
A dependência de investi­mento público para a inovação também é uma importante dife­rença entre Brasil e Coreia do Sul. Enquanto a indústria brasi­leira banca menos da metade dos recursos destinados à pes­quisa, o setor privado sul-corea- no responde por quase 75%. O estudo considera "anormal­mente baixo" o aporte privado para a inovação no Brasil e atri­bui esse fenômeno à oferta ofi­cial de incentivos fiscais para a indústria. Ou seja, o setor priva­do fica à espera de que o investi­mento seja feito pelo governo.
Além disso, a julgar pela pro­dução científica registrada em revistas especializadas, o Brasil concentra suas pesquisas na área de ciências biológicas - ou, para usar um termo cunha­do pelo estudo, "economia do conhecimento da natureza". Os demais emergentes tam­bém vão bem em biologia e em bioquímica, mas apresentam um cardápio bem mais variado de interesses e um pesado in­vestimento em ciências físicas, voltadas para o desenvolvimen­to tecnológico, que o Brasil não prioriza. Em seus planeja­mentos quinquenais, a China já deixou claro que pretende passar de manufatureira a gera­dora de conhecimento - em 2010, 84% das patentes requeri­das entre os emergentes eram chinesas e sul-coreanas. Desse modo, o futuro próximo indica um ambiente muito mais com­petitivo do que o atual.
No Brasil, contudo, observa- se uma errática política de in­centivo à inovação em tecnolo­gia, limitando-se a programas estatais - no último deles, o go­verno anunciou R$ 32,9 bi­lhões, até 2014, para financiar projetos. O estudo divulgado agora comprova que, entre os emergentes, há aqueles que in­vestem de modo sistemático e permanente para mudar seu status global, tentando ombrear com as grandes potên­cias em inovação, e há os que se querem "desenvolvidos" ape­nas pela força de belas pala­vras. Já passou da hora de deci­dir se o Brasil quer continuar a ser um mero emergente, esco­rando-se em assistencialismo voluntarista e no paternalismo estatal, ou se vai investir para ser uma verdadeira potência

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