A partir de
março professores alfabetizadores da rede pública de ensino
receberão a formação de orientadores de estudos para
melhor prepararem as aulas das crianças de 1º a 3º anos do
ensino fundamental. A ação é parte do Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Os orientadores
já receberam ou ainda receberão até o início de
março aulas de capacitação ministradas em 40
universidades públicas brasileiras. Para ajudar na
formação e nas aulas, um material especial foi desenvolvido
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com
colaboração de 11 instituições de ensino
superior.
`O material trata
da alfabetização de forma que ela se complete em três
anos. Não é só uma alfabetização que a
criança aprenda a ler palavras. Tem que produzir textos e ler com
autonomia`, explica a coordenadora adjunta do programa na UFPE, Ana
Cláudia Pessoa. Segundo ela, o material não propõe um
método a ser seguido em sala de aula, mas uma reflexão a ser
feita sobre a função social de ler e escrever.
Um dos textos do
material de formação dos professores é sobre a
apropriação do sistema de escrita alfabética pelas
crianças. Os autores indagam no título: que caminhos
percorrer? E logo respondem: `Para que o processo de
alfabetização das crianças contribua com o
fortalecimento das identidades coletivas e diversos saberes dos povos do
campo é preciso que o mesmo se dê de forma estreitamente
articulada com as comunidades ali existentes, ampliando e valorizando os
conhecimentos e vínculos das crianças com a realidade em que
vivem`.
Ao todo são
oito cadernos para formação dos professores e mais oito
unidades voltadas para cada um dos três anos do ciclo de
alfabetização. A formação também inclui
conteúdos voltados para a educação multisseriada,
muito presente nas escolas rurais, onde na mesma sala existem alunos de
diferentes níveis.
Para acompanhar o
material teórico, os professores já têm
disponíveis em sala de aula o chamado Kit de
Alfabetização e Linguagem, disponibilizado em 2005 com o
programa governamental Pró-Letramento - Mobilização
pela Qualidade da Educação, que tem como objetivo a
formação de professores para o ensino do português e da
matemática até o 5º ano do Ensino Fundamental e cujos
preceitos e experiências serviram de subsídio para o
Pnaic.
O Pacto traz
algumas novidades como os jogos inclusivos, que ainda estão sendo
desenvolvidos pela UFPE, mas Ana Cláudia adianta que
facilitarão o acesso e poderão ser usados por crianças
com ou sem deficiência. `Um exemplo são letras que podem ser
embaralhadas. A criança tem que descobrir que palavra elas formam.
Para a criança cega há a representação em
braille da letra no próprio brinquedo`, diz a coordenadora
adjunta.
Os jogos facilitam
também na capacitação dos professores. A
coordenadora-geral do Pnaic na Universidade de Brasília (UnB), Leila
Chalub, conta que duranta a capacitação do
Pró-Letramento, muitos professores começaram a entender a
matemática por meio de jogos. `Quando os professores viam ali as
frações concretas na frente deles entendiam muito
melhor`.
Para acompanhar o
desenvolvimento das crianças, o curso de formação
continuada dos professores alfabetizadores prevê, na unidade 1, o
planejamento de estratégias de avaliação permanente do
desenvolvimento dos estudantes a ser definido pelos próprios
professores. Com base no que for observado, os professores poderão,
com a ajuda dos orientadores, planejar tarefas para favorecer a
aprendizagem. No início e no final do 2º ano, será
aplicada a Provinha Brasil, para verificar os domínios de escrita e
leitura. A provinha será aplicada também pelos
professores.
Ao final do
3º ano haverá uma avaliação externa para checar
todo o processo de aprendizagem do aluno. Essa avaliação
será aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep). `A avaliação vem
para dar um direcionamento ao professor. Com base na Provinha Brasil e na
avaliação final ele vai poder também elaborar as
próprias questões e estimular o raciocínio das
crianças`, afirma a coordenadora de Projetos do Centro de
Formação Continuada de Professores em
Alfabetização e Linguagem (Cform) da UnB, Paola
Aragão.
Perguntada se
poderia haver uma formação voltada para as provas e
não para o aprendizado em si, Leila Chalub diz: `quem trabalha na
área, quem tem uma formação ética, tem um
compromisso com o ensino. Mas claro que acontece, se pensarmos que
não, seremos ingênuos`. Como exemplo ela cita o fato de ter
conhecido uma estudante que disse que resolvia as provas do final para o
começo, pois os professores já estavam cansados e
começavam a dar as respostas das primeiras questões. `Ela
aprendeu a fazer prova. Pode-se tentar de todas as formas, mas toda
avaliação tem vícios que são
inevitáveis`.
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