Professores criticam mudança em prova de matemática da FGV
Carlos Lordelo - O Estado de São Paulo - 04/06/2012 - São Paulo, SP
Professores de cursinhos ouvidos pelo Estadão.edu criticam a dificuldade e a mudança no perfil da prova discursiva de matemática aplicada do vestibular de inverno da FGV. O exame, realizado neste domingo, 3, selecionará 200 alunos para o curso de Administração de Empresas em São Paulo.
`A prova estava dificílima`, diz a coordenadora do Objetivo Vera Lúcia Antunes. `As questões eram longas e trabalhosas.` O problema, segundo ela, é que os candidatos, àquela altura, já deveriam estar cansados. Pela manhã, no módulo objetivo, eles tiveram de resolver 60 testes de conhecimentos gerais. E à tarde, além das questões de matemática, eles precisavam escrever uma redação.
Para o professor do CPV Geraldo Akio Murakami, a prova discursiva surpreendeu. `Deu a impressão de que outra banca fez o exame. Diferentemente do que acontecia até a última edição do vestibular, a prova deste domingo era temática, com todas as questões remetendo a um mesmo texto.`
Segundo Murakami, a própria mudança na `filosofia da prova` já criava uma dificuldade extra para os candidatos. `Fora isso, a prova ficou engessada e a banca perdeu criatividade na elaboração das perguntas`, afirma.
Ainda de acordo com o professor do CPV, a FGV exigiu contas longas em detrimento da cobrança de conceitos. `A gente lamenta, porque era uma prova bem-feita. Eles tentaram inovar, mas a gente não sabe se era necessário, porque o exame vinha cumprindo a finalidade de selecionar bons candidatos.`
Outro fator que pode ter prejudicado os estudantes, na opinião de Murakami, é o fato de algumas questões dependerem da resposta de perguntas anteriores. `Vai ficar difícil de corrigir. Imagine um aluno que acertou o raciocínio numa questão, mas errou a conta? Ele vai levar esse erro para outras questões e sair prejudicado pelo efeito dominó de sua falha.`
O professor se disse ainda mais surpreso porque os 15 testes de matemática do módulo objetivo seguiram a `filosofia` de pedir assuntos que são trabalhados no início da graduação, como matemática financeira, funções e polinômios. `De manhã a prova estava dentro dos conformes`, diz Murakami.
O estudante Felipe Azevedo, de 19 anos, ficou feliz com seu desempenho na prova, principalmente na parte de testes. Para ele, matemática surpreendeu. “Achei a parte escrita de matemática a mais difícil, foi bem puxado. E falei com amigos: todos estavam reclamando”, diz Felipe, aluno do Objetivo.
Já o tema da redação foi elogiado pelos professores. Os candidatos tinham de escrever sobre o emprego de moradores de rua como “roteadores ambulantes” durante evento de tecnologia numa cidade dos EUA.
`É uma proposta diferente e boa. Trata de um assunto sem cair na superficialidade, pois exige do aluno uma reflexão sobre ética e condição humana aplicada ao conceito de trabalho`, afirma Daniela Aizenstein, do CPV. Ela acredita que a prova aberta de matemática, pela mudança do perfil, pode ter `comprometido o tempo` do candidato. `Não sei se o aluno, nesta situação de surpresa, agiu com frieza.`
Módulo objetivo
O vestibular começou de manhã, com as provas objetivas de matemática; língua portuguesa e literatura; língua inglesa; e Ciências Humanas (história, geografia e atualidades) - cada uma com 15 testes.
Para os professores do Objetivo e do CPV, as questões de inglês selecionam alunos com “formação ampla”, e não bastaria ao candidato ter feito apenas o ensino médio. Os 15 testes, com perguntas e alternativas exclusivamente em inglês, eram todos baseados em dois longos textos. O primeiro, publicado pela revista Time, falava do “espectro do genocídio” na Costa do Marfim. O segundo texto, extraído da The Economist, era sobre o aprendizado de línguas na China.
Segundo Renato Aizenstein, do CPV, o exame misturou a necessidade de o aluno ter `profundo conhecimento da língua e alta capacidade de concentração`. `O estudante realmente precisou pensar em inglês durante o vestibular.`
O professor diz que a escolha de textos de 2011 `frustrou` a expectativa de caírem temas atuais. Ele também lamentou o fato de não ter aparecido nada relacionado às áreas de administração e economia. `Os textos poderiam ser mais globais, mas a banca cumpriu o edital e só pediu interpretação de textos de algumas das principais publicações do mundo.`
Nas questões de língua portuguesa e literatura, o Objetivo elogiou a escolha dos textos. Para o professor do CPV Vidal Varella Filho, o exame teve nível médio de dificuldade e privilegiou semântica e estilística. `É uma prova relativamente bem elaborada, mas ainda não desafia os alunos.`
Humanas
A prova de Humanas foi caracterizada como “bem atual” pelo Objetivo, por cobrar temas como Comissão da Verdade e Código Florestal. “A FGV tem uma prova muito bem elaborada e inteligente. Exige do aluno conhecimento, formação, sobre todas as matérias”, diz a coordenadora Vera Lúcia.
Em geografia, caíram o problema da moradia no Brasil, a questão energética e os diferentes biomas do mundo, entre outros assuntos. `Foi uma boa escolha de temas, em relação a conteúdo, conceito e atualidade`, diz o professor do CPV Adriano Baroni. Ele acredita, porém, que a questão sobre terras raras na China deveria ser mais bem trabalhada. `Era algo muito específico e que poderia vir acompanhada de outros materiais para dar suporte ao aluno.`
Na parte de história foram cobrados, entre outros temas, história da Grécia, a colonização da América espanhola e duas questões sobre o Brasil Republicano. `A prova ficou dentro dos padrões do que normalmente exige, com questões relativamente fáceis`, afirma o professor do CPV Wanderley Scatolin. `Quem tivesse formação mínima e atenção não teria dificuldade em se sair bem.`
Em atualidades havia questões sobre Código Florestal, Comissão da Verdade, Ilhas Malvinas, imigração de haitianos, redes sociais e Brics. `Os temas eram esperados, mas a abordagem não foi tão simples. A riqueza de detalhes privilegiou os alunos bem preparados`, diz Alex Perrone, professor do CPV.
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