PESQUISA

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Volta às aulas evidencia abismo entre redes pública e particular
 O Tempo, 31/01/2012 - Belo Horizonte MG
Estudantes que perderam 70 dias letivos em 2011 revelam desânimo
JOANA SUAREZ
Prestes a começar um novo ano letivo, a educação em Minas Gerais enfrenta desafios. A volta às aulas, marcada para depois de amanhã em algumas escolas e para dia 6 em outras, impõe ainda mais obstáculos aos alunos da rede estadual. Impactados pelos efeitos negativos da greve dos professores, eles revelam desânimo e preocupação. A corrida para colocar o ensino nos trilhos, após a paralisação, só aumenta o abismo entre a qualidade das instituições públicas e particulares. Cerca de 270 instituições da rede estadual nem conseguiram ainda terminar a reposição do conteúdo perdido nos 70 dias letivos de greve no ano passado. Uma das metas agora é realinhar o calendário prejudicado pela paralisação de 112 dias, a mais longa da história do Estado.
"A reposição é apenas o cumprimento de uma norma, mas não atende à necessidade pedagógica do aluno", critica o pedagogo e consultor educacional Guilherme José Barbosa. "A greve interrompeu o processo de aprendizado e aprofundou o desnível com a rede particular". A fórmula que o ensino público deve seguir para tomar um novo rumo, de acordo com especialistas, passa pela melhor preparação dos professores, incentivo à leitura interpretativa e melhor aproveitamento do tempo em sala de aula. Comparação. Um bom termômetro da deficiência da educação pública é o desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A discrepância entre o resultado das alunas Letícia dos Santos e Marina Gonçalves de Aguiar, ambas com 17 anos, exemplifica a situação. Enquanto Letícia, que estudou em uma renomada escola particular de Belo Horizonte, teve boa nota no Enem e espera a publicação da lista de aprovados para o curso de medicina em duas instituições, Marina se saiu mal no exame, após ficar quase três meses sem aula por causa da greve, e viu sua expectativa de passar no vestibular de uma universidade pública se desmanchar. "Corri o risco de tomar bomba e não me sinto preparada para começar a faculdade".
A dificuldade que frustrou o sonho de Marina também será enfrentada neste ano por Lucas Alexandre Teixeira, 18, aluno da Escola Estadual Villa Lobos, na capital. Ele se diz inseguro para fazer o Enem. "Não recuperamos quase nada do conteúdo perdido", disse Teixeira, que mal vai concluir a reposição, no dia 10 de fevereiro, e já vai começar o novo ano letivo uma semana depois. Tentando minimizar os impactos negativos da greve, a secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, afirma que o movimento se concentrou na região metropolitana de Belo Horizonte e teve a adesão de só 10% dos professores. "Tenho certeza de que a greve prejudicou os alunos. Mas, em cerca de 3.000 escolas, não tivemos nem uma hora de paralisação", disse.
Mau uso do tempo reduz aprendizado - Para o especialista em educação, professor e economista Claudio de Moura Castro, um problema grave, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, é a falta de produtividade nas aulas. "Pesquisas mostram que menos da metade do tempo de aula é realmente produtivo e se torna aprendizado. O restante é perda de tempo". A questão, na opinião do consultor, é mais séria do que uma greve de professores. O ensino médio das escolas brasileiras é o pior do mundo na avaliação de Castro. "Temos um modelo único de ensino, com 15 matérias obrigatórias, sem flexibilidade e sem considerar o grau de preparação, interesse e motivação do aluno". (JS)

Nenhum comentário:

Postar um comentário