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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Currículo único à vista nas escolas do país

02 de janeiro de 2012
Projeto do MEC quer criar diretrizes como número de livros para alunos. Para analistas, aspectos regionais têm de ser respeitados

Fonte: O Globo (RJ)

Sérgio Roxo 
sergio.roxo@sp.oglobo.com.br

São Paulo - Reduzir a desigualdade na aprendizagem de alunos de Escolas de regiões pobres e ricas do Brasil. Esse é o principal objetivo por trás da implantação da unificação do Currículo no país, que está sendo discutida entre o Ministério da Educação e os secretários estaduais da área. O texto vai estabelecer, entre outras metas, o que o aluno deve saber ao final da cada uma das séries. Os estados terão autonomia para manter aspectos regionais.

- O Currículo é um caminho para a equidade, porque a gente está pensando em estabelecer as condições que a Escola tem de ter para garantir a implantação desse Currículo - disse Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC.

Segundo Pilar, o texto terá especificidades como determinar o número de livros que o aluno terá que ler por mês em cada série. Para isso, vai tratar das condições da biblioteca da Escola. Também terá uma lista de atividades a serem aplicadas pelo professor em sala de aula.

- Professor tem que ter rotina. A aprendizagem não pode ter improvisação - disse.

"O Currículo vai organizar a formação do professor"
Hoje, segundo a secretária de Educação Básica, a defasagem no nível de aprendizagem dos alunos é maior entre áreas pobres e ricas da mesma cidade do que entre estados do país:

- A diferença é brutal entre as classes sociais. Da periferia de São Paulo para o centro, você vai encontrar dois meninos brasileiros na mesma idade, um com direito negado (ao conhecimento) e outro, não.

Para Pilar, o desnível existe por causa do ambiente encontrado pela criança em casa, antes de começar a vida Escolar:

- A criança que não teve contato com a literatura terá mais dificuldade para aprender a ler e escrever do que uma que teve. Cabe à Escola suprir essa deficiência.

A ideia do MEC é que o Currículo seja bem mais do que um índice de livro, como é hoje.

- O Currículo vai organizar a formação do professor, definir o material didático e a programação da TV Escola. Vai balizar o aprofundamento da formação do professor - disse a secretária do ministério.

Para o secretário de Educação da Paraíba, Afonso Scocuglia, que tem representado o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) nas discussões sobre o Currículo, os cursos de formação dos professores devem usar o texto.

- Tudo vai girar em torno disso, o livro didático, a formação de professores. Os cursos de licenciatura vão ter como referência o Currículo. A Escola não vai poder alegar que não deu aquele conteúdo.

A unificação também vai facilitar a vida dos alunos que mudarem de estado.

- Há sempre deslocamentos de alunos de um estado para outro, e garantir essa base é mais uma vantagem nesse sentido - disse Scocuglia.

O objetivo do MEC é que o Currículo, que será dividido por matérias, esteja pronto até julho de 2012. Entre julho e outubro, haverá discussões com secretários estaduais e municipais e com representantes de entidades de professores e dirigentes da área; em seguida, uma consulta pública. A meta é ter o texto final em dezembro de 2012.

De acordo com Pilar, nenhum estado por enquanto apresentou resistência ao modelo discutido. É consenso que o Currículo deve ter uma parte comum para todo o país e outra reservada para a incorporação de aspectos regionais. O percentual dessa divisão ainda está sendo discutido.

- A princípio, seria 70% de base comum e 30% de base local - afirmou Scocuglia.

A implantação do Currículo único tem sido adotada por outros países federativos. A Austrália, por exemplo, vai começar a colocar em prática o Currículo único em 2012, depois de mais de três anos de discussões.

- Uma preocupação é certificar que o nível da Educação é de primeira classe em todo o país - disse Barry McGaw, diretor da Agência de Currículo e Avaliação da Austrália.

Segundo a secretária do MEC, apesar das diferenças, um dos aspectos do projeto australiano deve servir de inspiração ao Brasil: começar a implantação do Currículo único por língua (Português no Brasil, Inglês na Austrália) e por Matemática.

Fernando José de Almeida, professor de pós-graduação em Currículo da PUC-SP, elogia a proposta, mas diz que não se pode tratar o tema como unificação do Currículo, pois é preciso respeitar os aspectos regionais:

- A base local é o Currículo também.

Almeida acredita que o projeto trará avanços:

- Não posso fazer uma Escola para a burguesia e uma Escola para o filho do operário. Tenho que ter bases curriculares comuns. Era uma falha do passado ter um Currículo para São Paulo, outro para Escolas particulares e um Currículo de terceira categoria para o resto das Escolas.

Ao mesmo tempo em que deve estabelecer as diretrizes, o Currículo, diz o especialista, não pode engessar a atividade do professor na sala de aula:

- O grande desafio é não empurrar o professor para, sozinho, ficar inventando o que vai fazer. Isso é uma covardia com o professor. E também não é ter um planejamento tão draconiano no governo central, federal ou estadual que os professores não tenham autonomia nenhuma. 

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