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terça-feira, 11 de outubro de 2011

OS IMPACTOS POLÍTICOS DA GREVE


As imagens não permitem perceber com clareza se houve mesmo maioria pelo retorno às aulas
Fonte: O Povo (CE)

O primeiro ano do segundo governo Cid Gomes (PSB) tem sido mais atribulado que todo o primeiro mandato. Depois do escândalo dos banheiros e das denúncias envolvendo empréstimos consignados e o secretário-chefe da Casa Civil, o governo enfrenta o desgaste da greve dos professores.

É difícil e precipitado prever os impactos no longo prazo da paralisação que se encerrou ontem. Mas os efeitos imediatos são motivo de preocupação para a administração estadual. Não à toa, houve ofensiva publicitária para tentar rebater a imagem de truculência e de gestão que não valoriza o magistério.

Não existe pior categoria para um político ter como inimiga que a dos professores. São, em primeiro lugar, imprescindíveis. Todas as demais atividades dependem deles, como ponto de partida da formação. Além disso, é uma profissão extremamente simpática.

Numa briga entreprofessores e quem quer que seja, todo mundo tende a ficar do lado dos professores. Se for contra governantes, então, chega a ser covardia.

Mesmo que excessos sejam cometidos, como chegou a ocorrer na Assembleia Legislativa, não é fácil impingir aeducadores a pecha de desordeiros. E, ainda por cima, o senso comum sabe que eles são mal pagos, mesmo. Muito pior que mereceriam.

Como não bastasse, é a categoria mais numerosa e capilarizada do serviço público. É rara a família que não tenha professores. Assim, os efeitos e desgastes da greve acabam amplificados para um espectro bem maior que apenas a categoria. E a força política desse segmento vem sendo seguidamente comprovada.

São muitos os parlamentares eleitos sucessivamente na carona de seus votos. Se mobilizados em massa, são capazes de mudar os rumos mesmo de eleições majoritárias. Por tudo isso, a situação política do governo é, hoje, bem complicada. A questão é saber quais os efeitos disso no longo prazo.

O PRAZO DE VALIDADE DO DESGASTE
Faltam três anos para a próxima eleição de governador. Numa perspectiva fria, totalmente pragmática e um pouco cínica do processo - atributos que costumam ditar as análises que partem dos políticos - é previsível que o desgaste esteja diluído até que o governo volte a precisar da opinião pública. Por mais que, hoje, sua imagem esteja arranhada.

A história recente mostra isso. No primeiro ano como presidente, em 2003, Lula teve popularidade seriamente abalada pela reforma da Previdência. Três anos depois, foi reeleito com apoio considerável do funcionalismo.

O mesmo vale para o relator daquela reforma, o hoje senador José Pimentel (PT). E, para não ir tão longe, há quatro meses, a prefeita Luizianne Lins enfrentou situação bem parecida com os professores de Fortaleza.

Com direito a confronto com a Guarda Municipal e spray de pimenta. E, enquanto Cid Gomes se reuniu com os professores duas vezes, ela nem recebeu a categoria para negociar. Hoje, porém, pelo menos esse abalo de imagem a prefeita parece ter superado. Com o governo o processo se repetirá? Impossível dizer com certeza.

Na política, não costuma haver verdades absolutas. E, se há exemplos de crises superadas, há marcas que ficam indefinidamente. Até hoje, o irmão de Cid, Ciro Gomes, sofre com frase atribuída a ele, comparando os médicos a sal: são brancos, baratos e estão em qualquer lugar. Quase duas décadas depois, a pecha sobre Ciro não se desfez.

HISTÓRIA AINDA ESTÁ SENDO ESCRITA
A narrativa da greve dos professores ainda não teve seu final. E a forma como a postura do governo entrará para a história pode ser reescrita. O Estado está agora sob pressão. Osprofessores cederam e aceitaram o pedido de voltar às aulas para negociar.

Dentro de 30 dias, se não houver os avanços desejados, a greve será retomada. E, pelo discurso da Secretaria da Educação, a reivindicação dos professores é impossível de ser atendida. Ou seja, a probabilidade de a paralisação ser retomada em novembro é nada desprezível.

Sobretudo, porque a decisão de suspender a greve foi das mais controversas. Houve divisão clara e as imagens da assembleia não permitem perceber com clareza se houve mesmo maioria pelo retorno às aulas.

O ideal teria sido realizar a contagem dos votos. Mas essa é questão interna da categoria, e cabe a ela resolver. Objetivamente, o governo está pressionado a chegar a entendimento com os professores nos próximos 30 dias. Sob risco de o movimento ser retomado, devolvendo todo o processo à estaca zero.

O VOTO DA BASE
O líder da prefeita Luizianne Lins (PT) na Câmara, vereador Ronivaldo Maia (PT), oficializa hoje a posição dela sobre emenda de Magaly Marques (PMDB) que anula os efeitos de lei, de autoria de João Alfredo (Psol), que cria a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) das dunas do Cocó. Ronivaldo vai orientar à base aliada para votar contra a proposta de Magaly.

Érico Firmo
ericofirmo@opovo.com.br

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