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sábado, 9 de julho de 2011

''GREVE É UM DIREITO, MAS ESTE NÃO ERA O CASO''


Apesar de a greve dos professores estaduais estar perdendo força, Eduardo Deschamps disse que ainda não considera o trabalho concluído
Fonte: Jornal de Santa Catarina (SC)

Há seis meses no primeiro cargo político partidário, o ex-reitor da Furb, Eduardo Deschamps (PSDB) já passou pela maior prova de fogo no trabalho e na vida pública. Há mais de 50 dias atua como o principal articulador do governo de Santa Catarina na greve dos professores da rede estadual, considerada a pior crise deste início de governo de Raimundo Colombo.

Deschamps é o intermediador entre o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte) e as principais secretarias envolvidas diretamente com o assunto. A indicação para a função foi feita por conta de experiência semelhante pela qual passou em 2007, quando os funcionários da Furb fizeram paralisação por uma semana. Apesar de a greve dosprofessores estaduais estar perdendo força, Deschamps disse que ainda não considera o trabalho concluído. Acompanhe a entrevista:

Jornal de Santa Catarina - Como foi atuar como o principal articulador da greve?

Eduardo Deschamps - Foi uma responsabilidade muito grande porque estávamos tratando com o Estado todo. Foi um grande aprendizado. Foi e continua sendo um papel importante, porque agora tem o trabalho de retomada das atividades.

E ainda tem uma etapa complementar que é de continuidade do trabalho de recomposição da tabela salarial e de melhoria das condições de trabalho do magistério. Assim que o Sinte declarar encerrada a paralisação, vamos organizar o grupo de trabalho para continuar o trabalho relativo a esta segunda negociação.

Santa - O senhor já havia participado de situação semelhante como reitor da Furb, em 2007?

Deschamps - Sim. E eu acabei sendo designado pelo secretário Tebaldi para intermediar este processo por conta da experiência preliminar que tive no âmbito da universidade, onde participei de um processo de negociação. Aquela experiência foi bastante útil neste processo.

Santa - Mas na Furb a paralisação durou apenas uma semana...

Deschamps - As dimensões são bem maiores. Enquanto na universidade você tinha uma comunidade de servidores de cerca de 1,5 mil servidores, no Estado estamos falando de 37 mil servidores na ativa e mais 37 mil inativos atingidos diretamente com este processo. Além disso, na Furb falávamos de uma comunidade de 15 mil alunos e aqui são mais de 700 milalunos sendo atingidos pela paralisação. A responsabilidade aumentou muito mais.

Santa - O senhor atua no magistério há quanto tempo?

Deschamps - Sou professor formado em Engenharia e atuo no magistério há mais de 20 anos.

Santa - Já atuou como grevista?

Deschamps - Não.

Santa - Qual seu posicionamento a respeito de greves?

Deschamps - Entendo que a greve, de maneira geral, deve ser usada como último recurso. A greve é um direito previsto constitucionalmente, mas este direito deve ser usado com bastante cuidado e parcimônia, porque tem que reunir condições muito excepcionais para que seja exercido. Este não era o caso.

Desde o primeiro momento, o governo estabeleceu um processo de negociação e apenas apresentou que tinha dificuldades de fazer o atendimento imediatamente, tanto que continua buscando condições para melhorar o que foi proposto e a aplicação da lei do piso, considerando a valorização do magistério como um todo.

Santa - Qual foi o momento mais crítico desta negociação?

Deschamps - Chegamos em alguns momentos em impasse muito complicados, até por conta dos limites que o governo tinha. O mais crítico, talvez, tenha sido o momento em que o governo apresentou a tabela salarial – esta que foi encaminhada via projeto de lei agora a Assembleia. Tínhamos avançado bastante.

Em seguida, houve uma assembleia estadual que praticamente colocou toda a negociação de volta à estaca zero. Ali, tivemos que ter tranquilidade e serenidade para reconstruir os avanços e construir uma proposta para atender a maioria da categoria. Eu até me declarava otimista em relação aos avanços, mas neste momento fiquei bastante preocupado com as consequências e dificuldades para chegar a um acordo.

Santa - Pensou em desistir da função de articulador?

Deschamps - Não. Me senti honrado pela confiança depositada em mim pelo secretário Tebaldi, pelo governador e pelo grupo para conduzir um processo tão complexo e estar na linha de frente. Eu sempre pensava que não podia trair esta confiança e que precisava dar o melhor de mim.

Santa - Oficialmente, a greve não acabou, mas está perdendo força...

Deschamps - Este processo não se encerra agora. Existe a proposta do grupo de gestão anterior à greve, de estudar melhorias nas condições de trabalho e de remuneração do magistério e esta proposta continua. Agora vêm as medidas preventivas, para que não ocorra novamente. Não podemos desconsiderar que precisamos melhorar as condições de trabalho e de remuneração do magistério.

Santa - Esta atuação pode ser considerada a maior prova de fogo de sua vida?

Deschamps - Sem dúvida foi a maior prova de fogo. Pela dimensão, pelo volume de trabalho e de pessoas envolvidas e pelas consequências, com certeza. Foram seis meses que pareceram quatro anos

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