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domingo, 20 de março de 2011

GREVES PREJUDICAM OS ALUNOS

20 de março de 2011


As comissões da AL e da Câmara não têm um diagnóstico sobre a escola pública na Capital e no Estado do Ceará
Fonte: Diário do Nordeste (CE)
Apesar dos prejuízos causados aos alunos da rede pública, por conta de calendáriosEscolares conflituosos e grades de conteúdo diferentes nas Escolas municipais e estaduais, as discussões levantadas na Câmara Municipal de Fortaleza e na Assembleia Legislativa estadual têm ficado restrito ao problema salarial dos professores e deixado de contemplar outras questões como a qualidade do ensino e o prejuízo imposto às famílias que precisam matricular seus filhos na Escola pública.

Há praticamente dois meses os estudantes da Escola privada já estão tendo aulas este ano, nos diversos estabelecimentos de ensino da Capital e do Interior. Os alunos da Escolapública, municipal e estadual, só agora vão começar o ano letivo de 2011, sem qualquer garantia de que terão aulas normais até o mês de dezembro. Na Câmara Municipal de Fortaleza e na Assembleia Legislativa, nenhum dos vereadores e deputados defenderam o direito de os estudantes pobres serem respeitados em seus direitos.

Professores admitem que os prejuízos dos estudantes são consequências das greves que fizeram para reivindicar aumento salarial, mas reclamam que alunos e Escolas têm ficado "abandonados" em virtude da falta de interesse dos poderes Executivo e Legislativo para resolver os problemas. Os parlamentares afirmam que estão trabalhando para minimizar os prejuízos, mas consideram que as soluções encontradas não são de curto prazo.

Calendários
As 449 Escolas municipais de Fortaleza atendem a cerca de 240 mil alunos e seguem dois calendários diferentes. O ano letivo começa em 21 de março para algumas Escolas e somente em 27 de abril para outras. Na esfera estadual, a realidade não é diferente. Enquanto parte dos 487 mil alunos iniciou o ano letivo próximo às datas das Escolas particulares, em 31 de janeiro, outros só retomaram os estudos em 14 de março último.

Para os alunos não precisarem repetir o ano, a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) chegou a dar autonomia para cada Escola ajustar o próprio calendário e normalizar o período. No entanto, a iniciativa que tinha por objetivo minimizar os atrasos causados pelas greves dos professores acabou ressaltando a discrepância do período letivo e da grade curricular entre as instituições públicas.

Conforme analisou a professora estadual Laura Lobato, a autonomia dada às Escolas do Governo do Estado comprometeu a preparação do aluno que vai prestar vestibular e a transferência de estudantes para outras instituições, ao permitir conteúdos e períodos letivos muito diferentes.

Isso porque nem sempre os prazos de matrícula das Escolas coincidem. Para resolver esses casos, as Escolas precisam então realizar avaliações especiais no intuito de aprovar oaluno antes do término do período letivo, quando nem todos os conteúdos foram abordados em sala.

Atrapalhando
O professor municipal Francisco Djacyr acrescentou que, além desses problemas de ordem prática apontados por Laura Lobato, os calendários diferentes das Escolas dificultam o acompanhamento pedagócico e acabam atrapalhando o crescimento intelectual do aluno.

"A falta de unidade pedagógica nas Escolas públicas é prejudicial. O professor tem que cumprir com sua responsabilidade, mas a obrigação educacional não é só dele. A responsabilidade tem que ser compartilhada com órgãos públicos e com políticos", ponderou Djacyr, ao opinar que a Educação não tem sido tratada como prioridade pelos representantes públicos cearenses.

A professora Laura Lobato colocou que o problema maior é a omissão das esferas públicas de poder, que, na prática, não se comprometem com a fiscalização do ensino público e a proposição de soluções. "O problema é sistêmico", declarou, analisando que a responsabilidade sobre os prejuízos educacionais e pedagógicos estaria pulverizada.

Monitorar
Conforme explicou Laura, a Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor), responsável por monitorar as ações de administração e gestão nas Escolas, não fiscaliza sistematicamente a reposição das aulas por hora aula e conteúdo.

O Ministério Público até defende que o aluno tem direito a aula, mas não confere a qualidade do ensino. Já as secretarias de Educação do Estado e do Município não se esforçam no sentido de negociar um calendário Escolar mais uniforme.

"E cadê as comissões da Câmara e da Assembleia para resolver isso?", questiona Laura Lobato, ao lembrar que, além das posições já colocadas, as discrepâncias nos calendáriosEscolares ampliam o afastamento social e a desigualdade entre alunos das redes pública e privada.

Planejamento
Nenhuma das duas comissões de Educação do Legislativo municipal de Fortaleza, e da Assembleia Legislativa cearense, têm um diagnóstico sobre a realidade da escolha pública. A deputada Mirian Sobreira (PSB), vice-presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Ceará, admite que falta planejamento e investimentos para resolver os problemas de Educação, mas acredita que as soluções só serão viabilizadas a longo prazo.

"O governador Cid avançou nesse sentido, mas a própria secretária de Educação já disse que não conseguiremos ter Escola de qualidade nesse mandato. É preciso que os próximos governos deem continuidade às iniciativas", declarou a deputada.

Salientando que o parlamento não pode intervir administrativamente na questão educacional, Mirian Sobreira informou que a Comissão de Educação ainda está em fase de planejamento por conta do início da legislatura, mas que o trabalho do colegiado será voltado à população. "A ideia é sair do Parlamento e acompanhar os projetos. O papel do deputado também é ouvir o povo", disse.

Imaturos
Indagada dos motivos pelos quais o debate sobre Educação nas Casas Legislativas se referem mais ao professor do que propriamente aos alunos, que seriam o principal alvo do serviço público, Mirian Sobreira avaliou que "os debates ainda são imaturos na Assembleia", mas opinou que a implantação de novos programas do Governo nas Escolas estaria sinalizando para a mudança de foco do professor para o aluno.

Debates
Já o presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Fortaleza, Guilherme Sampaio (PT), discorda que exista restrição nos debates sobre Educação nos parlamentos. Segundo ele, a Câmara tem se preocupado em realizar debates com o intuito de propor políticas públicas que ampliem o aprendizado do aluno.

O petista informou que a Comissão a qual preside tem acompanhado os trabalhos na área e, inclusive, tentou articular com o Governo do Estado, no primeiro ano da gestão de Cid Gomes, para uniformizar o calendário Escolar.

Agora, a Comissão tem se colocado como elo entre os professores e a Prefeitura para evitar novas greves e assim normalizar o calendário. "Há dois anos temos conseguido articular o reajuste dos professores e evitar paralisações, mas a perspectiva para unificar os calendários é a médio prazo", declarou Guilherme Sampaio.

Gestão Escolar
O petista defendeu que as ações do colegiado para resolver esse tipo de problema se limitam a legislar e fiscalizar, mas reiterou que a Comissão de Educação da Câmara Municipal fez um plano de trabalho para o biênio 2011/ 2012 priorizando gestão Escolar.

O vereador Gerôncio Coelho, que assumiu a vice-presidência da Comissão, colocou que ficou decidido na reunião da última semana que o colegiado vai priorizar o trabalho externo da Casa para, além de deliberar matérias, aproximar a fiscalização e a cobrança referente às demandas da população




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