Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0901201101.htm
O governo paulista faz bem ao rever o sistema de ciclos no ensino fundamental, que admite a progressão de alunos mal alfabetizados
Em boa hora o governo estadual de São
Paulo abre uma discussão sobre a progressão continuada na sua rede de ensino.
Também conhecida como sistema de ciclos, que limitava a retenção de alunos
apenas à quarta e à oitava séries do ensino fundamental, a medida foi
implantada a partir de 1998 de forma precária. Terminou por ser confundida com
aprovação automática, a pior deturpação que lhe poderia sobrevir.
O sistema vinha nivelando as classes de ensino fundamental por baixo. Alunos
com bom rendimento se viam obrigados a seguir no ritmo daqueles com
dificuldade. Não sendo mais reprovados, estes tampouco recuperavam o atraso
acumulado, na ausência do acompanhamento e das aulas de reforço que os ciclos
pressupõem.
Com a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, criou-se mais um
problema. O primeiro ciclo, que terminava na quarta série, ganhou um ano. Assim, só ao término do quinto ano -tarde demais- o desempenho gravemente
deficiente de alguns alunos poderia resultar em retenção. Até esse ponto, os
retardatários prosseguiriam sem percalços, mas também sem estímulo nem
assistência.
O principal argumento em favor da progressão continuada era que a retenção
repetida de alunos terminava por desestimulá-los de prosseguir nos estudos,
levando à evasão. Com efeito, estatísticas mostram que a introdução dos ciclos
diminuiu tanto as taxas de reprovação quanto as de abandono. O estigma do aluno
repetente foi substituído, no entanto, pela indignação -sobretudo por parte de
pais- diante da possibilidade de "passar de ano" sem fazer esforço.
Retoma-se agora, para corrigir as distorções, uma ideia já aventada e nunca
implantada pelo governo paulista: reduzir a duração dos intervalos. Em 2007,
falava-se em ciclos de apenas dois anos. Agora, cogitam-se três.
Faz mais sentido que o primeiro momento de verificação rigorosa do progresso
dos estudantes se dê ao final do terceiro ano. É precisamente o ponto em que se
espera que os alunos estejam plenamente alfabetizados. Como isso deixa de
ocorrer com frequência, a constatação no tempo devido é condição necessária
para uma ação precoce da escola no sentido de evitar que crianças iletradas
prossigam nessa situação.
Condição necessária, mas não suficiente. Sem aperfeiçoamento do corpo docente,
com salários dignos para atrair os melhores profissionais e treinamento para
resgatá-los da pedagogia ineficiente, e sem investimento em aulas de reforço,
esses jovens brasileiros continuarão, infelizmente, marcando passo.
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