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quinta-feira, 27 de maio de 2010

ESTUDANTES VOLTAM ÀS AULAS APÓS 48 DIAS DE GREVE DE PROFESSORES EM MINAS

27 de maio de 2010

Pais e alunos ainda não sabem como será a reposição de conteúdos perdidos
Fonte: Hoje em Dia


Marcela Novaes, 17 anos, moradora na região da Pampulha, em Belo Horizonte, não acreditou que, 48 dias depois, voltava a se levantar às 5h30 da manhã para vestir o uniforme, arrumar os livros e pegar o ônibus em direção à Escola Estadual Leopoldo de Miranda, localizada no bairro Santo Antônio, região centro-sul da capital. A instituição se antecipou e decidiu retomar as aulas na quarta-feira (26), após o fim da greve dos professores da rede estadual. Marcela comemorou ao se deparar com o professor de física dentro da sala do terceiro ano do ensino médio. Afinal, foram 33 dias letivos sem contato com nenhuma disciplina, no ano em que a adolescente vai disputar uma vaga na universidade.

- Fiquei feliz com o final da paralisação, mas retomar esta rotina de estudos é complicado. Dei apenas uma olhada nas matérias em casa e passei a maior parte do tempo no computador ou namorando. Agora, estou preocupada, pois tenho medo de que os professores corram com as disciplinas e as provas se acumulem. A motivação também não é das melhores, mesmo com o vestibular chegando.

Mas, se depender dos professores que voltaram ao trabalho, os alunos podem se tranquilizar. Harrisson Lima, 40, que leciona biologia na instituição, garante que o planejamento de todo um ano letivo não vai ficar cem por cento prejudicado.

- Nossa organização didática é dinâmica. Então, é ilusão pensar os estudantes vão perder tudo o que absorveram. Reitero que vamos analisar em quais conteúdos eles precisam de reforço, revisando cada detalhe. Ou seja, começaremos de onde paramos.

Por outro lado, Vitor Oliveira, 17 anos, colega de Marcela no terceiro ano, não se mostra tão otimista assim e já pensa em se matricular em um cursinho "intensivo ou pré-vestibular", na tentativa de não "ficar para trás".

- Esqueci muita coisa dos livros, e o ânimo caiu. Sem dúvida, interromper o aprendizado não foi benéfico para nós. Basta ver como entramos "perdidos" em sala, hoje (quarta-feira, 26). Além disso, perder os sábados e os recessos não promete ser animado.

Vitor tocou em uma questão importante e que também é alvo de preocupação dos pais. Alexia Carvalho, 45, mãe da estudante Daniele, 17, perguntava aos coordenadores da escola como será a reposição das aulas.

- Vou pagar aulas particulares para minha filha, uma despesa a mais para mim. Sei que nas matéria de lógica e raciocínio, como a matemática, as dificuldades e a pressão vão aparecer.

A direção da instituição esclareceu que sempre prezou pelas reposições e que espera orientações da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais para organizá-las. Mas tudo indica que sábados letivos serão introduzidos no calendário escolar e os recessos diminuídos.
- Não concordo com aulas nos finais de semana. Prefiro que eles decidam pela implantação de um horário extra nos dias regulares, o sexto horário. Os meninos não vão se interessar em frequentar a escola aos sábados, e tenho receio de que os professores exibam filmes e ´joguem` as disciplinas e provas para eles.

Marta Figueiredo, 54, mestre em Língua Portuguesa, avança que não se preocupa com as reposições por acreditar na competência dos colegas e no planejamento da coordenação. "Seja com livros ou materiais didáticos, o aprendizado vai acontecer. É claro que a dedicação dos estudantes também conta muito, e vamos precisar da cooperação deles. Mas vale lembrar que o processo de ensino se dá durante todos os meses e não em 48 dias", avalia Marta.


Professores decepcionados

A decisão do fim da greve foi tomada na terça-feira (25), depois que o governo estadual assinou um acordo com a categoria, estabelecendo o pedido de suspensão da liminar que determina multa de R$ 30 mil por dia de greve e a formação de uma comissão para fazer um estudo para viabilizar a modificação dos vencimentos básicos.

Harrisson Lima diz que a greve serviu para exaltar a luta da categoria, mesmo que os resultados do protesto ainda não sejam concretos.

- O governo fala em educação de referência no Estado, quando, na verdade, faltam profissionais, tamanho é o atrativo salarial. Meu vencimento base, por exemplo, é de R$ 546,50. Estamos decepcionados porque não sabemos quais serão os nossos benefícios. Mas, pelo menos, externamos a nossa luta.

Harrisson, trabalha em uma fábrica de ração para aumentar a renda mensal.

Quanto às atividades dos professores no período de greve, Harrisson e Marta são unânimes ao responder:

- Trabalhamos em outros lugares e aproveitamos para ler e nos informar. E um absurdo as pessoas pensarem que estávamos em casa dormindo.


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