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quinta-feira, 7 de junho de 2012

SEM ESTÍMULO EM CASA, ESTUDANTES SEM AULA DEIXAM ESTUDOS DE LADO

Hoje a greve dos professores se torna a mais longa da história da Educação na Bahia
Fonte: Correio da Bahia (BA)

Há 58 dias sem pisar na sala de aula, o estudante André Neves da Silva, 15 anos, teve a rotina completamente alterada desde o início da greve dos Professores da rede estadual. No lugar do quadro-negro, a TV. Ao invés de se concentrar nos livros, se distrai no computador de casa.
Apenas as atividades físicas que pratica - futebol e caratê - nas tardes de alguns dias da semana, permanecem as mesmas. “O que eu tenho mais feito esses dias é jogar bola. Estudar não dá, nem terminei a primeira unidade, no caderno não tem quase nada e estudar com os livros sozinho é muito complicado”, diz André, estudante do 5ª série do Ensino fundamental do Colégio Estadual Mário Costa Neto, na Federação. 
Hoje, a greve se torna a mais longa da história da Educação na Bahia. São 58 dias de paralisação, um a mais que em 2007, primeiro ano do governo Wagner. De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (SEC), dos 1.104.168 estudantes da rede, 745.484 Alunos estão sem aulas. 
Problemas
Para especialistas, a dificuldade de aprendizado está não só na execução de um corrido calendário de reposição quando a greve acabar, mas também na interrupção nos estudos e na ociosidade dos estudantes. 
“A gente não sabe o que essas crianças fazem, se ficam em casa só vendo televisão, sem atividades. Provavelmente ela nem tocou no livro. Tem alguém lendo pra ela em casa, fazendo algum jogo, discutindo assuntos da atualidade? As crianças ficam fora do ritmo”, pontua a psicóloga e psicopedagoga Paula Cabussú. Segundo ela, em geral, as casas destes garotos não oferecem um ambiente propício ao aprendizado, mais um ponto que dificultará a aprendizagem quando enfim as aulas forem retomadas. 
Mesmo ainda estando na 5ª série, Yan Levi Ferreira dos Santos, 12, já está preocupado com o Ensino superior, e já nem conta com o conteúdo ensinado para essa conquista.
“Eu não lembro mais de nada que foi ensinado esse ano, assim fica difícil fazer uma faculdade depois. Quando a gente tem aula, a Professora cobra e aí a gente estuda, mas sem aula acabei deixando (de lado os estudos)”, admite Yan, colega de André na escolinha de futebol Real Caetano e estudante do Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, na Vasco da Gama.
A psicopedagoga Paula Cabussú defende que, após o fim da greve, seja reservado um tempo mínimo de revisão dos assuntos que já foram dados antes da paralisação. Depois disso, seriam passados novos conteúdos. 
“Os Professores vão ter que retomar as aulas, repor, dar o conteúdo num tempo mais rápido. Qualquer perda no ritmo do estudo é prejudicial. É a sensação de um ano perdido, de fato”, avalia. 
Sob a ameaça da perda total do ano letivo, os estudantes temem ver os seus sonhos frustrados. “Tenho 15 anos, estou na 5ª série, se não tiver aula mais esse ano, eu vou acabar me formando mais velho", calcula, triste, André. 
Mesmo com a retomada das aulas, Alunos que já cursam o Ensino médio podem ser mais prejudicados do que já foram. “Os meninos que estão no Ensino médio vão ter condições de fazer o Enem? Para o calendário local vai ser possível fazer uma adaptação, mas em provas como Enem e vestibular não existe mudança de data por conta da greve”, lembra Cabussú. 
Já para a pedagoga Saadia Rodriguez, 51, que é diretora de Escola e trabalha com Educação há 35 anos, o semestre deveria ser reiniciado e o ano letivo, estendido. “Eu acho muito complicado recuperar. A gente vê que isso é uma falta muito grande pra eles, mesmo porque o próprio ritmo de trabalho que um Professor tem no dia a dia, por mais que ele reponha, não vai ser o mesmo”.
A Educadora afirma que, com a perda de quase dois meses corridos de aula, o Aluno passa a sentir dificuldade em compreender as matérias como um todo. “Eu não vejo uma outra forma de recuperação a não ser repetindo esse semestre”, defende. 
“Não adianta, na reposição, adicionar uma hora na carga horária em cada dia. É preciso retomar os assuntos e fazer uma revisão aprofundada do que foi dado. Não dá pra simplesmente acelerar”. Para Saadia, excesso de informação e aprendizado são coisas que não caminham juntas. “Ensino é uma coisa, aprendizado é totalmente diferente”, diz. 
Enquanto isso, as únicas questões que André e Yan têm são as relativas à própria greve. "Minha Professora falou que o governador prometeu 22% de aumento para ela, eu acho que tem que resolver isso. Aí eu posso voltar a estudar", conclui André.
Escola na Mata Escura vira ‘oásis’ da greve
“Entendo a reivindicação, mas não concordo com a forma como foi feita”. Na atual situação da greve na rede estadual de Ensino na Bahia, pode parecer estranho, mas a declaração partiu de uma Professora. Ela faz parte do corpo Docente da Escola Célia Mata Pires, na Mata Escura, uma das unidades que funcionam normalmente, mesmo com a paralisação. 
Na Escola Estadual Célia Mata Pires, calendário flui normalmente 
De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (SEC), 49% das unidades de Ensino estão com atividades normais. O calendário é seguido, Alunos mantêm a frequência e o recesso do São João está mantido. “Estamos felizes de não ter greve, porque já vai acabar a segunda unidade e daqui a pouco são as férias”, comemora a estudante da 7ª série Lorena Venas, 12 anos. 
A Escola Célia Mata Pires não aderiu à atual greve em nenhum momento. Dos 16 Professores – todos efetivos da SEC, apenas três não estão dando aula. Por isso, apenas as aulas de Geografia, Educação Física e Português terão que ser repostas. 
“Aqui tem tradição de não ter greve. Já fechamos a primeira unidade e depois do recesso fechamos a segunda”, diz a Professora de História Margarida Prado, 31 anos. De acordo com Professores da Escola, que pedem anonimato, quem se mantém em sala durante a greve é visto de forma “diferente” pelos grevistas. 
“A gente entende que todo mundo é livre. É uma escolha de cada um parar ou continuar a dar aula. Mas eu percebo que há uma certa diferença, pelo menos comigo, de tratamento dos Professores em greve”, observa uma Professora. Segundo ela, dois motivos foram determinantes para não aderir ao movimento: “a greve foi declarada antes mesmo de uma negociação, antes de uma conversa com o governador. 
O outro motivo é que, para mim, as razões para a greve não estavam claras. Só ficaram claras depois, já que a mídia vem veiculando”, reflete. De acordo com outra Professora, representantes da APLB chegaram a ir até a Escola Célia Mata Pires para tentar convencer os Docentes a paralisar as atividades. “Eles vieram, mas não convenceram”, assinala







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