Hoje a
greve dos professores se torna a mais longa da história da Educação na Bahia
Fonte: Correio da Bahia (BA)
Há 58 dias sem pisar na sala de
aula, o estudante André Neves da Silva, 15 anos, teve a rotina completamente
alterada desde o início da greve dos Professores da rede estadual. No lugar do
quadro-negro, a TV. Ao invés de se concentrar nos livros, se distrai no
computador de casa.
Apenas as atividades físicas que
pratica - futebol e caratê - nas tardes de alguns dias da semana, permanecem as
mesmas. “O que eu tenho mais feito esses dias é jogar bola. Estudar não dá, nem
terminei a primeira unidade, no caderno não tem quase nada e estudar com os
livros sozinho é muito complicado”, diz André, estudante do 5ª série do Ensino
fundamental do Colégio Estadual Mário Costa Neto, na Federação.
Hoje, a greve se torna a mais
longa da história da Educação na Bahia. São 58 dias de paralisação, um a mais
que em 2007, primeiro ano do governo Wagner. De acordo com a Secretaria
Estadual da Educação (SEC), dos 1.104.168 estudantes da rede, 745.484 Alunos
estão sem aulas.
Problemas
Para especialistas, a dificuldade de aprendizado está não só na execução de um corrido calendário de reposição quando a greve acabar, mas também na interrupção nos estudos e na ociosidade dos estudantes.
Para especialistas, a dificuldade de aprendizado está não só na execução de um corrido calendário de reposição quando a greve acabar, mas também na interrupção nos estudos e na ociosidade dos estudantes.
“A gente não sabe o que essas
crianças fazem, se ficam em casa só vendo televisão, sem atividades.
Provavelmente ela nem tocou no livro. Tem alguém lendo pra ela em casa, fazendo
algum jogo, discutindo assuntos da atualidade? As crianças ficam fora do
ritmo”, pontua a psicóloga e psicopedagoga Paula Cabussú. Segundo ela, em
geral, as casas destes garotos não oferecem um ambiente propício ao
aprendizado, mais um ponto que dificultará a aprendizagem quando enfim as aulas
forem retomadas.
Mesmo ainda estando na 5ª série,
Yan Levi Ferreira dos Santos, 12, já está preocupado com o Ensino superior, e
já nem conta com o conteúdo ensinado para essa conquista.
“Eu não lembro mais de nada que
foi ensinado esse ano, assim fica difícil fazer uma faculdade depois. Quando a
gente tem aula, a Professora cobra e aí a gente estuda, mas sem aula
acabei deixando (de lado os estudos)”, admite Yan, colega de André na escolinha
de futebol Real Caetano e estudante do Colégio Estadual Antônio Carlos
Magalhães, na Vasco da Gama.
A psicopedagoga Paula Cabussú
defende que, após o fim da greve, seja reservado um tempo mínimo de revisão dos
assuntos que já foram dados antes da paralisação. Depois disso, seriam passados
novos conteúdos.
“Os Professores vão ter que
retomar as aulas, repor, dar o conteúdo num tempo mais rápido. Qualquer perda
no ritmo do estudo é prejudicial. É a sensação de um ano perdido, de fato”,
avalia.
Sob a ameaça da perda total do
ano letivo, os estudantes temem ver os seus sonhos frustrados. “Tenho 15 anos,
estou na 5ª série, se não tiver aula mais esse ano, eu vou acabar me formando
mais velho", calcula, triste, André.
Mesmo com a retomada das aulas,
Alunos que já cursam o Ensino médio podem ser mais prejudicados do que já
foram. “Os meninos que estão no Ensino médio vão ter condições de fazer o Enem?
Para o calendário local vai ser possível fazer uma adaptação, mas em provas
como Enem e vestibular não existe mudança de data por conta da greve”, lembra
Cabussú.
Já para a pedagoga Saadia
Rodriguez, 51, que é diretora de Escola e trabalha com Educação há 35 anos, o
semestre deveria ser reiniciado e o ano letivo, estendido. “Eu acho muito
complicado recuperar. A gente vê que isso é uma falta muito grande pra eles,
mesmo porque o próprio ritmo de trabalho que um Professor tem no dia a dia, por
mais que ele reponha, não vai ser o mesmo”.
A Educadora afirma que, com a
perda de quase dois meses corridos de aula, o Aluno passa a sentir dificuldade
em compreender as matérias como um todo. “Eu não vejo uma outra forma de
recuperação a não ser repetindo esse semestre”, defende.
“Não adianta, na reposição,
adicionar uma hora na carga horária em cada dia. É preciso retomar os assuntos
e fazer uma revisão aprofundada do que foi dado. Não dá pra simplesmente
acelerar”. Para Saadia, excesso de informação e aprendizado são coisas que não
caminham juntas. “Ensino é uma coisa, aprendizado é totalmente diferente”,
diz.
Enquanto isso, as únicas questões
que André e Yan têm são as relativas à própria greve. "Minha Professora
falou que o governador prometeu 22% de aumento para ela, eu acho que tem que
resolver isso. Aí eu posso voltar a estudar", conclui André.
Escola na Mata Escura vira
‘oásis’ da greve
“Entendo a reivindicação, mas não concordo com a forma como foi feita”. Na atual situação da greve na rede estadual de Ensino na Bahia, pode parecer estranho, mas a declaração partiu de uma Professora. Ela faz parte do corpo Docente da Escola Célia Mata Pires, na Mata Escura, uma das unidades que funcionam normalmente, mesmo com a paralisação.
“Entendo a reivindicação, mas não concordo com a forma como foi feita”. Na atual situação da greve na rede estadual de Ensino na Bahia, pode parecer estranho, mas a declaração partiu de uma Professora. Ela faz parte do corpo Docente da Escola Célia Mata Pires, na Mata Escura, uma das unidades que funcionam normalmente, mesmo com a paralisação.
Na Escola Estadual Célia Mata
Pires, calendário flui normalmente
De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (SEC), 49% das unidades de Ensino estão com atividades normais. O calendário é seguido, Alunos mantêm a frequência e o recesso do São João está mantido. “Estamos felizes de não ter greve, porque já vai acabar a segunda unidade e daqui a pouco são as férias”, comemora a estudante da 7ª série Lorena Venas, 12 anos.
De acordo com a Secretaria Estadual da Educação (SEC), 49% das unidades de Ensino estão com atividades normais. O calendário é seguido, Alunos mantêm a frequência e o recesso do São João está mantido. “Estamos felizes de não ter greve, porque já vai acabar a segunda unidade e daqui a pouco são as férias”, comemora a estudante da 7ª série Lorena Venas, 12 anos.
A Escola Célia Mata Pires não
aderiu à atual greve em nenhum momento. Dos 16 Professores – todos efetivos da
SEC, apenas três não estão dando aula. Por isso, apenas as aulas de Geografia,
Educação Física e Português terão que ser repostas.
“Aqui tem tradição de não ter
greve. Já fechamos a primeira unidade e depois do recesso fechamos a segunda”,
diz a Professora de História Margarida Prado, 31 anos. De acordo com
Professores da Escola, que pedem anonimato, quem se mantém em sala durante a
greve é visto de forma “diferente” pelos grevistas.
“A gente entende que todo mundo é
livre. É uma escolha de cada um parar ou continuar a dar aula. Mas eu percebo
que há uma certa diferença, pelo menos comigo, de tratamento dos Professores em
greve”, observa uma Professora. Segundo ela, dois motivos foram determinantes
para não aderir ao movimento: “a greve foi declarada antes mesmo de uma
negociação, antes de uma conversa com o governador.
O outro motivo é que, para mim,
as razões para a greve não estavam claras. Só ficaram claras depois, já que a
mídia vem veiculando”, reflete. De acordo com outra Professora, representantes
da APLB chegaram a ir até a Escola Célia Mata Pires para tentar convencer os
Docentes a paralisar as atividades. “Eles vieram, mas não convenceram”,
assinala
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